A Educação Precisa de Respostas | 10/08/2013 14h06min
Lucas acorda às 9h da manhã e vai para a escola só às 10h, onde chega de skate. Cada amigo que encontra leva um iPad na mochila, já que é lá que anota tudo o que aprende e tem acesso ao material didático. No primeiro período, tem natação e depois o professor de ciências vai cantar um rap sobre as camadas internas da Terra. Lucas adora essa disciplina, pois o tutor é compreensível e não se importa tanto com atrasos ou notas em provas: só quer que os alunos aprendam.
Na verdade, nem Lucas, nem essa escola e tampouco o professor existem. Tudo faz parte de uma instituição que mora no mundo dos sonhos dos alunos. Enquanto alguns pedem pistas de skate e refil de refrigerante, muitos ainda acham que o importante mesmo é uma relação melhor com os professores e mais ajuda para quem quer aprender. Segundo dados de 2010 do Atlas do Desenvolvimento Humano, no Rio Grande do Sul cerca de 17% dos adolescentes de 15 a 17 anos não frequentam a escola, enquanto na faixa imediatamente anterior, dos 11 aos 14 anos, esse índice é de menos de 3%. Entre os motivos para o abandono estão condições sociais e necessidade de trabalhar para sustentar a família, mas também está a falta de conexão entre aluno e escola. No Dia do Estudante, ouvir os sonhos desses jovens para uma escola perfeita pode dar alguns indícios de como estreitar esse laço e diminuir, mesmo que pouco, o espaço entre o que se quer e o que se tem.
Professores + aprendizado
— Gostaria de ter uma escola em que eu tenha vontade de estudar — pede Pedro Henrique Pinto Perazzo, 16 anos, aluno do 3º ano do Colégio Santa Dorotéia, de Porto Alegre. Ele quer um motivo prazeroso para sair de casa, sem preocupações, sem estresse e sem puxões de orelha tão seguidos. Uma aula em que possa conversar sem ser recriminado por isso. Pede um professor que entenda mais o seu lado.
Para Vitória Fernandes, 17 anos, aluna do 1º ano do Colégio Júlio de Castilhos, também na Capital, a escola devia ter uma abordagem mais próxima do diálogo. Vitória não quer só copiar o conteúdo no caderno, quer entender.
A frustração que alguns alunos têm com os professores acaba resultando em desânimo e falta de interesse. E isso é generalizado, passa por estudantes de escolas públicas e particulares, de distintas situações sociais. Mariana Azevedo tem 15 anos e estuda no 1º ano do Colégio Anchieta. Para ela, a vontade de ir à escola está completamente nas mãos dos que ensinam:
— Tem algumas aulas que não tem como prestar atenção, são muito chatas. Se os professores fizessem uma aula que divertisse todo mundo, acho que prestaríamos atenção, aprenderíamos melhor e iríamos bem nas provas — disse.
Emerson Consul Martins, 16 anos, está no 2º ano do Colégio Júlio de Castilhos e quer um professor que se importe mais mesmo sendo rígido. Para ele, o ideal seria alguém que ficasse ao lado do aluno o tempo que fosse preciso para ajudar.
Estrutura + horários
Outra vontade é poder sonhar mais (ou, pelo menos, até mais tarde). Manoela Lobato Strenl, 13 anos, da 8º série do Colégio Monteiro Lobato, gostaria que as aulas começassem apenas às 10h e terminassem por volta das 15h. Ela também queria uma infraestrutura maior para quem quisesse praticar esportes. Marina Lisboa Benites, 17 anos, do 3º ano do Anchieta, é ainda mais ousada. Ela quer que a escola seja mais como um clube, um lugar para encontrar a galera, mais ou menos como ela vê na TV.
As preocupações estão para além do que tornaria o cotidiano mais divertido. Alguns alunos, como Pedro Louis Dormits, 15 anos, da 8º série do Monteiro Lobato, se preocupam com a segurança. Ele sonha com um lugar em que nada de mal vá lhe acontecer, para que possa aprender com tranquilidade.
Sonhos + realidade
Como é o normal para essa idade, quando já se pensa no futuro, mas ainda se preserva algumas travessuras de criança, os estudantes desenharam um lugar até um pouco inusitado. Teve quem pediu refil de refri entre as aulas, ou uma piscina para poder descansar e aliviar o calor da sala de aula, mas também um lugar com aquecedores para ninguém passar frio no inverno. Uma pista de skate para ser usada no recreio e uma sala de jogos com sofás, para a galera descansar. Entre uma e outra viagem na imaginação, surgem dificuldades reais que, para eles, estão no mesmo patamar que os anseios mais impossíveis, mas que deveriam já ser realidade. Nessa linha, se ouve o sonho de ter lanches baratos e almoço disponível todos os dias, já que é preciso alimentar, além do cérebro, também o corpo.
KZUKA
Diogo Peixoto, Pedro Henrique Perazzo, Fernanda Reis e Rafael Chuiu têm grandes ideias sobre como deveria ser o colégio dos seus sonhos
Foto:
Giuliano Cecatto
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Especial
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