Leia o texto de Maria Luisa Puga Jardim, 17 anos, estudante do Colégio Pastor Dohms — Higienópolis, de Porto Alegre, vestibulanda de Design de Produto e vencedora do redAção 2013.

Uma geração de aparências

O hino rio-grandense clama: "sirvam nossa façanhas de modelo a toda a Terra". Junto cantam os jovens do século XXI, orgulhosos de suas novas posições frente às injustiças de nosso país. Essa é a juventude que cresceu ouvindo que seriam eles responsáveis por um mundo melhor, pelo mundo diferente do amanhã. Essas são as pessoas que querem lutar por seus ideais. O que se deixa denotar é que os jovens da segunda metade do século XX já faziam a mesma coisa; logo, estamos apenas seguindo exemplos.

No mundo do aqui e agora surgem novas mentes que buscam tirar a sua geração do anonimato e colocá-la na história. Seria isso suficiente para transformar uma juventude de ex-crianças sedentárias, viciadas em eletrônicos e sob os efeitos da propaganda excessiva em novos líderes confiantes de seus motivos para lutar? Ou seria tudo um efeito do imediatismo das redes sociais, em que o único objetivo é ganhar visibilidade e os tão sonhados quinze minutos de fama? De uma coisa estamos certos: protestar por direitos não é uma característica exclusiva do século XXI.

Na busca pela visibilidade, o real objetivo da mudança acaba se perdendo. Prova disso são os atos de vandalismo durante os protestos ocorridos nos últimos meses no Brasil: o jovem quer ser diferente, mas não tem o senso crítico na hora de fazê-lo. É bonito ser inconformado, mas ao mesmo tempo é careta usar apenas a inteligência como arma de guerra. Afinal de contas, compartilha-se menos uma ideia bem fundamentada do que uma boa polêmica. A superexposição trouxe junto consigo o desinteresse por conservar os valores da época de nossos pais ou avós, tais como honestidade e persistência. O mesmo jovem que publica em seu facebook frases de efeito a respeito de seu descontentamento curte uma foto editada e desmotiva-se ao notar que está chovendo no dia do protesto.

Não há nada de novo em querer mudança, essa é uma característica do adolescente em geral. O que nos difere de nossos pais é o acesso à internet e a esse mundo que torna as nossas intenções, se não falsas, superficiais. Estamos demasiadamente influenciados pelo que aconteceu nas gerações passadas e até mesmo pelo que vimos em filmes. Queremos ser heróis de nosso próprio mundo, mas queremos já.

A revolução do século XXI se dá muito mais no campo do comportamento do que nas ruas. Crescemos em um mundo onde já temos a liberdade de fazer o que quisermos, desde que anunciemos nossas decisões para todos os outros internautas. Diz-se que não há glória sem luta, e devíamos nos concentrar em persistir na batalha após os compartilhamentos de nossas fotos segurando cartazes. O que dirão de nós a nossos filhos depende do quão fortes são os nossos ideais e, por enquanto, seremos conhecidos como a geração das aparências.

Comentário da professora Luísa Canella

> Esse texto destaca-se por apresentar uma ponderação acerca do comportamento do jovem atual: ao mesmo tempo em que clama por mudanças, ele não se diferencia tanto assim da juventude de gerações passadas. Ao relativizar o seu ponto de vista, Maria Luisa mostra "os dois lados da moeda", mobilizando na defesa de sua argumentação recursos como as perguntas retóricas e as figuras de linguagem.