A Educação Precisa de Respostas | 02/08/2013 04h
Recortei três frases do Papa de sua histórica e lúcida entrevista à Rede Globo, dias atrás. A primeira:
“Uma árvore que cai faz mais barulho do que um bosque crescendo”.
Uma bela imagem sobre a maioria silenciosa, que não se manifesta, mas decide.
A segunda foi algo que ele repetiu algumas vezes:
“Vivemos num tempo de feroz idolatria do dinheiro”.
E a terceira não foi exatamente uma frase, mas sua reiterada preocupação com o que chamou de “os extremos da sociedade”: as crianças e os velhos.
Muita sabedoria social demonstrou o Papa. Essas três observações aplicam-se com perfeição ao momento vivido pelo Brasil. Grita, por exemplo, a questão das crianças. O Brasil maltrata as suas crianças. A educação básica é ruim e se torna pior a cada dia. Eu só estudei em escola pública, havia maravilhosas escolas públicas no Rio Grande do Sul. De 30 anos para cá, tudo se deteriorou: a qualidade das escolas, dos professores e dos alunos. Por um motivo óbvio: inversão de prioridades.
No que o Estado investiu? Numa universidade regional. Qual é o grande debate no campo da educação no Brasil? O sistema de cotas nas universidades ou, nos últimos tempos, se o Ensino Médio deve ou não ser profissionalizante. Enquanto isso, um dos extremos, as crianças, o ensino básico, está no abandono.
Com um ensino básico forte, o sistema de cotas é dispensável. A injustiça seria corrigida de baixo para cima, estruturalmente, e não de cima para baixo, artificialmente.
Mas investir no ensino básico é mais demorado, mais dispendioso e mais trabalhoso. Os índices positivos demoram a aparecer quando o investimento é no ensino básico, e um governante se reelege montado em índices.
Os índices, os índices... Há poucos dias, saíram os índices de desenvolvimento humano. Todos melhoraram. Mesmo no Rio Grande do Sul, que só piora, o IDH melhorou.
Isso, claro, é uma ilusão. O IDH melhorou em todo o mundo, até na África melhorou, porque o mundo inteiro avançou economicamente nos últimos 25 anos. E avançou por vários motivos, mas sobretudo desde que Deng Xiaoping decretou que “enriquecer é glorioso” e a China abriu-se para o capitalismo e começou a comprar e a vender para todo o planeta.
Enriquecer pode ser glorioso para alguns; não é para todos. O Brasil enriqueceu, tem dinheiro sobrando, o BNDES é uma mãe pródiga capaz de liberar R$ 10 bilhões para Eike Batista, o empresário amigo do governo, mas as pessoas continuam vivendo mal. Os índices mostram uma coisa e as pessoas sentem outra. Como pode isso, se enriquecer é glorioso? O Papa deu a resposta: trata-se da feroz idolatria do dinheiro.
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