A superinfestação de pombos, com o acúmulo de fezes e penas nos corredores e salas do Colégio Estadual Dom João Becker, no Bairro Passo D'Areia, Zona Norte da Capital, gerou a suspensão das aulas pela Vigilância Sanitária no dia 12, último antes das férias de inverno.

Passados 17 dias, nada foi feito e, na segunda-feira, quando o ano letivo deveria recomeçar, os 700 alunos dos ensinos médio e técnico ficaram sem aulas. Um cartaz informava o motivo da suspensão: presença maciça de pombos.

A vice-diretora Nara Madeira Gomes, que fazia plantão na tarde de ontem, disse que a limpeza do prédio havia iniciado ontem - pelas escadas e corredores, ainda havia muitas penas e fezes de pombos acumuladas.

Previsão de volta na segunda-feira

Segundo Nara, as aulas devem reiniciar na próxima segunda-feira e os dias letivos perdidos serão recuperados.

- Foram colocadas telas no beiral (no início do ano), para reduzir os pombos, mas aí virou um problema. Fizeram ninhos. Vamos colocar tela em toda a frente (fachadas atualmente são vazadas) e eles não terão como voar - disse a vice-diretora.

De acordo com o titular da 1ª Coordenadoria Regional de Educação (Cre), Antônio Quevedo Branco, a Secretaria Estadual da Educação (Seduc) desconhecia a situação da escola até a visita da Vigilância Sanitária.

Secretário culpa a diretora

Segundo Antônio, foi descrita pela vigilância a infestação de pombos e uma situação de sujeira muito grande.

- Ultrapassou os limites. Está sendo aberta uma sindicância para apurar as responsabilidades de quem permitiu que a escola chegasse a essa situação. A diretora é responsável pela gestão e, o que não estiver dentro da autonomia, deve recorrer a nós e isso não foi feito - explicou Antônio, que também será ouvido na investigação.
A diretora Ana Mello não foi localizada pela reportagem.

Em relação à limpeza da escola, a vice-diretora informa que há apenas dois funcionários para realização do serviço nos três turnos:

- O ideal seria mais.

"Pombo por todos os lugares"

Aluno do primeiro ano do ensino médio, Gustavo Andrey de Araújo Sidoruk,
16 anos, lembra que, quando foi à escola fazer a matrícula no início do ano, ele e a mãe, a securitária Rebeca Sidoruk, 48 anos, ficaram apreensivos com as fezes de pombo no acesso ao colégio.

- Estudamos numa escola sem condições, isso desmotiva. Os pombos ficam voando dentro da sala de aula, tem pombo por todos os lugares, no banheiro, na sala da diretora, até na educação física a bola passa por cima das fezes dos pombos - contou o aluno.

Rebeca reclama do aspecto de abandono da escola, da falta de limpeza e da ausência de professor de Português desde o início do ano.

- É um descaso. Não há nenhum atrativo motivacional para os alunos. Meu filho está
sem vontade de ir à escola - lamentou a mãe.

A vizinhança também tem queixas. A dona de casa Ninon Rose Begmann,
52 anos, costuma ter as roupas do varal e o pátio sujos pelas fezes dos pombos:

- A gente sabe que pode dar doenças.

Local fechado para limpeza

Coordenador da Vigilância Sanitária, José Carlos Sangiovanni explica que, a partir de uma denúncia, duas equipes da vigilância (de Alimentos e de Zoonoses) visitaram a escola e encontraram o estrago. Para a limpeza do local e remoção dos ninhos, foi recomendada a suspensão das atividades para resguardar a saúde dos alunos e funcionários. A equipe da vigilância de alimentos fez vistoria de rotina. A escola não tem refeitório e uma antiga cantina virou cozinha, uma situação irregular. Como não há condições de acomodar alimentos, não será servida comida, só lanche.

Risco para a saúde

O pneumologista da Santa Casa Eduardo Garcia explica que os pombos são vetores de doenças, já que se alimentam de resíduos de alimentos, circulam por áreas contaminadas e têm parasitas próprios.

Entre as principais está uma doença fúngica, a criptococose, causada pelas fezes. Quando secas, viram pó e, se inalado, pode causar pneumonia e quadro crônico de tosse, entre outros problemas. O contato prolongado com pombos também pode gerar alergias e doenças de pele.

Controle

- A imagem da pomba é relacionada à paz. Mas soltar uma pomba no ar não é recomendado.

- Para evitar a infestação, é fundamental não dar alimentos aos pombos e manter o local limpo, sem sujeira no chão.

- É necessário pensar numa arquitetura dos prédios adequada, sem áreas abertas, nas quais o pombo possa entrar, fazer ninho ou pousar.

- O professor da Unisinos Martin Sander destaca que há uma cartilha elaborada pelo Estado, na qual há sugestões para controle de pombos domésticos em escolas públicas estaduais de Porto Alegre. O endereço: http://www.fzb.rs.gov.br/museu/downloads/pombos-domesticos.pdf .