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Educação Infantil  | 20/07/2013 17h13min

O valor da pré-escola

A importância da educação infantil a partir da situação de três mães, que vivem realidades diferentes

Roberta Schuler  |  roberta.schuler@diariogaucho.com.br

Quando um adulto não faz bem uma tarefa que exige coordenação motora fina (capacidade de executar movimentos pequenos com destreza, como recortar), a primeira frase que se ouve é: "Ih, esse não passou pela pré-escola!".

Pois estar na escola nos primeiros anos de vida garante bem mais do que habilidades manuais. Para tratar o primeiro tema da segunda fase da campanha do Grupo RBS, A Educação Precisa de Respostas - Toda Criança na Escola, o Diário Gaúcho destaca a importância da educação infantil a partir da situação de três mães, que vivem realidades diferentes.

Em busca de vagas

Com a pequena Thaila de um ano nos braços, os olhos da dona de casa Maristela do Nascimento, 42 anos, acompanham as estripulias das gêmeas Thaíssa e Thalia, três anos, na sala de casa, na Nova Dique. Na fase de mexer em tudo (e na falta de joguinhos educativos), até as batatas da geladeira viram brinquedo nas mãos das meninas.

- Queria vaga para as três numa mesma creche, mas ainda não consegui. Seria bom porque elas poderiam brincar com outras crianças, ter mais disciplina, gastar energia - conta a mãe.

- "Serviço tem, falta é creche"

Enquanto não garante vaga numa escolinha, Maristela não pode procurar emprego.

- Serviço tem, o que falta é creche. Se eu tivesse carteira assinada, poderia comprar roupas para elas, brinquedos, comprar um móvel - revela a mãe que sustenta as crianças com o benefício do Bolsa Família e com a venda de DVDs.

Em casa, além das três pequenas, a dona de casa tem mais dois filhos, uma de 14 e um de nove anos. Quando não está na escola, a mais velha ajuda a mãe na tarefa de cuidar das pequenas.

- O pai delas até pensou em entrar na Justiça para conseguir as vagas, ele diz que é lei e as crianças precisam.

Cuidadoras como alternativa

Em uma semana, Áurea Rosélia Ribeiro de Carvalho, 48 anos, teve de recusar o pedido de quatro mães que pediam acolhida de crianças em sua casa enquanto elas saem para trabalhar. A prática é comum em bairros periféricos. Na rua de Áurea, no Bairro Partenon, há mais de uma pessoa oferecendo o serviço.

Ela cuida de crianças há 20 anos e, atualmente, já não tem mais espaço em casa. São 14 que ficam o dia todo ou meio turno. Além das refeições, meninos e meninas entre dois e sete anos assistem a tevê, brincam no pátio e tiram soninho - às vezes, até tomam banho. Há aqueles que chamam Áurea de vó.

- Comecei cuidando dos filhos das vizinhas. Mas quando eu trabalhava com faxinas e meus filhos eram pequenos, também precisei. Sei o que as mães passam - lembra Áurea, que divide a tarefa com a filha Taiane, 18 anos.

Uma das mulheres que contam com ela para reparar os filhos é a educadora infantil Cinthia Rodrigues Saraiva, 28 anos.

- Ganho R$ 650 e uma mensalidade em creche particular custa R$ 400. Nas creches do município, já fiz inscrição, mas nunca fui chamada. Se eu parar de trabalhar, como é que vou comprar as coisinhas para ela? - questiona.

A saída foi pagar R$ 130 para que Maria Vitória, três anos, fique com Áurea das 7h45min às 18h30min.

- Minha filha está muito bem cuidada. Só tenho pena que ela não está aprendendo. Estar na escola é muito importante.

"É na creche que eles aprendem"

Mãe de três crianças, a diarista Adriane Carestini, 34 anos, moradora da Nova Dique, na Capital, é felizarda. Quando os dois filhos mais velhos fizeram seis meses, foram para a creche. Severino hoje tem 11 anos e está na sexta série. Já Maria Clara, cinco anos, está na escola de educação infantil pelo último ano e, em 2014, estará no fundamental.

O caçula, Dionatan, tem quatro meses e, em breve, Adriane espera que ele siga os passos dos manos, indo também para a escolinha.

- Eu e meu marido não tivemos estudo, mas as crianças terão. Ir à creche é ótimo, porque eles aprendem a compartilhar, a brincar e fazer amigos - diz a mãe.

Quando Maria Clara chega da creche (está no Jardim B), Adriane repara que a filha vem cheia de novidades.

- Ela está faceira, pois está aprendendo os números. É na creche que aprendem mesmo. Em casa não seria a mesma coisa - comenta a diarista.

Sobre o gosto pela aprendizagem, a pequena confirma:

- Gosto muito de brincar e de dormir na creche! - dispara a menina, atendida na Acompar 5, conveniada à prefeitura.

Escola + tevê

O professor Euclides Redin destaca que, mesmo que pais, avós ou cuidadores tenham boas intenções, a educação das crianças exige conhecimento especializado. Em casa, é raro ter aparatos pedagógicos como os das creches, que estimulam a criança e, em alguns casos, o entretenimento se restringe a colocar as crianças para ver desenhos animados.

- A tevê é atrativa e, sabendo usar, pode ter vantagens. Fora da escola, a realidade é muito limitada, a criança perde chance de ter contato com a natureza, com colegas.

Para ele, combater o déficit de vagas na educação infantil teria de ser prioridade dos governos.

- É obrigação, por lei, matricular a criança aos quatro anos na educação infantil. Mas como se o calçamento de ruas e a ampliação de aeroportos são prioridades? A criança nunca é prioridade - lamenta Euclides.

O Bicho-Papão será o porta-voz desta nova fase da campanha A Educação Precisa de Respostas. O monstro e seu filhote vão apresentar o tema Toda Criança na Escola, que é também uma das cinco metas do movimento Todos Pela Educação. Está previsto na Constituição que todas as crianças e os jovens de quatro a 17 anos devem estar na escola até 2016. Estudos mostram que quem faz uma boa pré-escola tem 38% a mais de chances de concluir o ensino médio. Nesta fase, serão abordados temas como a importância de frequentar a escola e os efeitos positivos que a educação tem sobre o desenvolvimento sustentado do país.

DIÁRIO GAÚCHO
Lívia Stumpf / Agencia RBS

Adriane Carestini conseguiu creche para os filhos
Foto:  Lívia Stumpf  /  Agencia RBS


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