Entrevista | 17/07/2013 17h27min
Nos próximos 20 anos, o mundo vai mudar mais do que nos últimos 200 anos — e a educação estará no centro dessa revolução.
O venezuelano José Cordeiro propõe um novo papel para professores e alunos, especialmente para aqueles estudantes que estão começando o aprendizado, os "nativos digitais", que já nasceram no ambiente das novas tecnologias e das redes sociais.
Diretor do Projeto do Milênio (Venezuela) e professor na Singularity University, fundada pela Nasa e pelo Google nos Estados Unidos, Cordeiro está em Porto Alegre para participar do 12º Congresso do Ensino Privado, promovido pelo Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS).
O tema do evento, que ocorre até sexta-feira na PUCRS, é A Maestria do Professor na Arquitetura da Aprendizagem.
Confira trechos da entrevista concedida a Zero Hora.
Zero Hora — A educação no Brasil enfrenta dificuldades com a formação dos docentes, o que inclui pouca prática em sala de aula durante o curso universitário e acesso limitado a novas tecnologias. Para complicar, a profissão enfrenta uma desvalorização, com salários baixos e poucos estudantes interessados em seguir na carreira. Como as novas tecnologias podem colaborar para uma transformação?
Cordeiro — As novas tecnologias estão ficando melhores, mais rápidas e mais baratas. Isso permitirá um aumento na oferta de educação de forma mais eficiente. O Life-Long Learning (projeto de educação contínua desenvolvido na Finlândia) será uma tendência na medida em que as pessoas vivem mais e de forma mais saudável. A educação será mais importante e mais reconhecida, fazendo com que os educadores sejam mais respeitados e melhor pagos. Contudo, como os professores são "imigrantes digitais", enquanto os alunos são "nativos digitais", o papel dos professores precisa mudar. Os professores do futuro serão mais facilitadores do que professores tradicionais. Em espanhol, dizemos que "o diabo sabe mais por ser mais experiente do que por ser o diabo", e podemos dizer o mesmo dos professores: "os professores sabem mais por serem mais experientes do que por serem professores".
Zero Hora — Há previsões de que, a partir de 2029, os computadores ficarão tão ou mais inteligentes do que o cérebro humano. Como isso impacta a educação?
Cordeiro — Estimamos que no ano de 2029, pela tendência de desenvolvimento dos computadores, eles terão quase o mesmo conhecimento humano. Isso vai permitir aumentar nosso conhecimento, então vamos ter uma educação muito melhor, porque vamos ter acesso a todo o conhecimento humano. É como uma internet dos cérebros humanos.
Zero Hora — Qual é o papel do professor nesse novo modelo educacional, especialmente em relação à inteligência artificial?
Cordeiro — Os professores do futuro serão facilitadores e orientadores, guiando as possibilidades dos alunos individualmente, mas também em grupos. A inteligência artificial não vai substituir a inteligência humana, mas vai ajudar a qualificá-la. Com a inteligência artificial e outras novas tecnologias, a educação e o aprendizado vão experimentar a mais radical transformação da história da humanidade. Nós estamos realmente experimentando uma incrível revolução educacional.
Zero Hora — As novas tecnologias são uma realidade, mas, ao mesmo tempo, ainda persistem no Brasil problemas antigos, como a falta de diálogo e de respeito entre professores e alunos. E ainda dificuldades básicas, de infraestrutura, como redes wireless deficientes ou mesmo inexistentes. Qual o peso desses velhos problemas na construção da educação do século 21?
Cordeiro — A tecnologia vai ajudar a melhorar a educação, mas não vai substituí-la. Obviamente, outros pontos terão de ser melhorados também, desde os salários até a atualização dos professores, a infraestrutura das escolas e das cidades. Felizmente, as novas tecnologias estão ficando cada vez mais rápidas, baratas e melhores, não apenas para criar computadores, mas também para construir escolas. As condições de vida também serão melhores, e professores e alunos terão mais possibilidades de aprender e ensinar. Como o cérebro humano é o "órgão da educação", entendê-lo e melhorá-lo vai levar nossa civilização para uma nova fase de desenvolvimento. O mundo vai mudar mais nos próximos 20 anos do que nos últimos 200 anos.
Zero Hora — Uma educação mais individualizada costuma ser defendida por especialistas. Ao mesmo tempo, a realidade das salas de aula é outra, com professores que costumam atender a um número grande de alunos no dia a dia, muitas vezes com pouca estrutura. Qual a melhor estratégia para resolver essa demanda? Como a tecnologia pode ajudar?
Cordeiro — Graças às novas tecnologias, o trabalho dos estudantes em casa e na escola vai mudar radicalmente. Eles vão aprender mais em casa, online, e deveres de casa serão feitos na escola, com os professores e grupos de estudantes, trabalhando juntos para solucionar problemas. Nos próximos anos, os estudantes vão aprender mais e mais não apenas com os professores mas também com os os colegas. A tecnologia vai melhorar e ampliar a capacidade de aprendizado de todos.
PARTICIPE
Nesta quinta-feira, dia 18, às 20h, no Centro de Evento da PUCRS, ocorre uma conferência aberta ao público com Patrícia Peck Pinheiro, advogada especialista em direito digital e uma das idealizadoras do Movimento Família Mais Segura na Internet. No encontro, ela vai orientar os pais sobre a segurança dos filhos no ambiente virtual. A participação é por ordem de chegada.
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