Letícia Duarte  |  leticia.duarte@zerohora.com.br

De cada 10 professores que fizeram o último concurso do magistério estadual, pelo menos oito foram reprovados. Embora a Secretaria Estadual da Educação tenha conseguido preencher as 10 mil vagas previstas no edital, com 10.747 aprovados, o desempenho positivo ficou limitado a 16,8% dos 63.663 candidatos que realizaram a prova.

Saiba mais:

>>> Governo divulga lista de aprovados no concurso do magistério

>>> Clique aqui e confira a lista por coordenadorias

O índice, divulgado ontem, representa o dobro do registrado no concurso realizado no ano passado, quando 5,2 mil candidatos passaram, o equivalente a 8,2% do total. Ainda assim, o número preocupa pesquisadores, que levantam questionamentos sobre o preparo dos professores e do exame.

Para o secretário estadual da Educação, Jose Clovis de Azevedo, o baixo índice de aprovação está relacionado a uma mudança no perfil das provas, que as tornou mais exigentes. Desde os anos 1970, o processo seletivo realizado pelo Estado contemplava apenas provas de português, legislação e conhecimentos pedagógicos. No ano passado, a seleção passou a incluir, além das provas anteriores, questões específicas sobre a disciplina que o candidato pretende lecionar e a área do conhecimento em que sua matéria está inserida. Assim, por exemplo, um professor de biologia inscrito no concurso teria de responder a questões relativas também à área de Ciências da Natureza – o que inclui conhecimentos de física e química.

– Consideramos importante qualificar o concurso para possibilitar uma avaliação mais global. Agora temos um nível de exigência mais compatível com as necessidades. Antes era muito fácil – avalia Jose Clovis.

Os resultados preocupam a professora Helena Sporleder Côrtes, da faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), que atribui o baixo desempenho dos professores a um conjunto de fatores, a começar por uma cultura de que não seria necessário estudar para o concurso do magistério.

– Professor tem mania de ir para o concurso sem estudar com afinco. Existe um problema de falta de preparo – observa Helena, citando a precária formação em cursos de curta duração e o crescente desinteresse pela licenciatura, como outros problemas.

Já a professora Tania Marques, coordenadora da graduação em pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), analisa que o alto índice de reprovação não necessariamente significa despreparo dos inscritos:

– Tomei conhecimento de algumas questões e sei que houve problemas de formulação, que induziam ao erro.

O secretário da Educação admite eventuais falhas, mas diz que essas questões não interferiram no resultado porque elas foram desconsideradas. Das 4.020 questões do exame, 31 foram anuladas após contestações.

Novo concurso é cogitado

Se depender do secretário da Educação, Jose Clovis de Azevedo, um terceiro concurso será realizado antes do final do governo para aumentar o número de professores da rede estadual.

O número de aprovados no concurso deste ano conseguirá substituir menos da metade dos contratos emergenciais vigentes no Estado, que somam 21 mil.

– Vou propor a realização de um novo concurso para podermos cumprir nossa meta de terminar o mandato com a regularização do quadro de efetivos – diz ele.

Os professores aprovados no último concurso começarão a ser chamados a partir de outubro, para substituir aposentadorias e licenças. A maioria deverá ser chamada em janeiro e fevereiro de 2014, para assumir o lugar de professores com contratos emergenciais nas salas de aula no próximo ano letivo.

A gestão é criticada pela presidente do sindicato dos professores (Cpers), Rejane de Oliveira:

– Fazem uma política de faz de conta – discursa.

ZERO HORA