A Educação Precisa de Respostas | 09/07/2013 09h54min
O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, vai para o Japão. Depois de anos de negociação, o Brasil conseguiu fechar um acordo que garante a exportação de carne suína para o país asiático. Santa Catarina, maior produtor do país nesse setor, enviou vários representantes na missão de negócios.
Por trás da viagem, em uma sala do Centro Administrativo do governo do Estado, algumas pessoas trabalham para conseguir visto e planejar o trajeto da comitiva, sempre em contato com o Itamaraty e a embaixada japonesa. Entre estas pessoas está Guilherme Bez Marques, 29 anos, gerente de missões internacionais do governo do Estado de Santa Catarina. Em um encontro promovido pelo Vestibular DC, ele respondeu a perguntas de três estudantes sobre o formação e a carreira na área de Relações Internacionais.
Como foi o bate-papo
Guilherme Bez Marques - Existem dificuldades para se conseguir estágios em Santa Catarina, e isso tem a ver com o fato de RI ser um curso novo. Muitas empresas não entendem a atuação do internacionalista e não dão espaço para esses profissionais. Na área de diplomacia, é possível trabalhar no Escritório de Representação do Ministério das Relações Exteriores em Santa Catarina (ERESC).
Também é possível fazer estágio no Itamaraty em Brasília durante todo um semestre, por exemplo. Empresas de comércio exterior também têm aceitado mais esses estudantes. A Univali fez um trabalho nos portos da região de Itajaí, por exemplo, e algumas vagas de estágio que se acreditava serem para estudantes de comércio exterior. Fora do Estado também existem muitos órgãos, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Mercosul, e ONGs que aceitam estudantes de RI.
Filipe Jean Santos de Souza - Sua percepção a respeito do curso mudou ao longo da graduação?
Marques - Não, permaneceu mais ou menos igual. Eu pesquisei bastante antes de ingressar no curso, e recomendo que todos façam o mesmo, observando os currículos dos diferentes cursos ofertados e os seus focos. Na Unisul, por exemplo, o viés é mais de negociação e comércio internacional. Na Univali o destaque é para as questões públicas. E a UFSC tem base forte de Economia e Direito.
Filipe - Qual é o perfil de um aluno de RI?
Marques - Encontrei muito pluralismo nos alunos quando comecei a lecionar. Alguns têm perfil mais político, outros gostam mais de economia ou do lado social, e isso é muito bom, pois saber lidar com o diferente é muito importante nessa profissão.
Ana Ritti- Como é a sua rotina?
Marques - Um equívoco a respeito da área de RI é as pessoas acharem que vivemos na ponte aérea. Minha rotina é mais no Centro Administrativo do governo estadual. Nem sempre uma carreira em RI começa com viagens, mas ela pode evoluir para isso.
Filipe - O ingresso na diplomacia ocorre por meio de concurso público?
Marques - Sim, é um concurso anual do Instituto Rio Branco, ligado ao Ministério das Relações Exteriores. A prova tem quatro fases e exige muito do candidato. A primeira é uma prova objetiva com questões de língua portuguesa, íngua inglesa, história do Brasil, história mundial, geografia, política internacional, noções de economia e de noções de direito e direito internacional público.
A segunda é uma prova oral de língua portuguesa, mais redação e exercícios de intepretação. Na terceira etapa o candidato faz seis provas escritas: de história do Brasil, língua inglesa, geografia, política internacional, noções de direito e direito internacional público, noções de economia.
A última etapa abriga as provas de língua espanhola e língua francesa. As inscrições para o próximo concurso do instituto estão abertas até as 23h59min de hoje.
Ana - O mercado de Santa Catarina está preparado para absorver profissionais de RI?
Marques - O Estado tem uma vocação exportadora e importadora muito forte. Temos cinco portos, por exemplo. As empresas de comércio internacional precisam de pessoas formadas em RI. E o Brasil tem se destacado no cenário internacional nos últimos tempos. Em maio deste ano o diplomata brasileiro Roberto Azevêdo foi eleito para um mandato de quatro anos como diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC). O brasileiro José Graziano ocupa, até 2015, o o cargo de diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO). Em 2008 Antônio Augusto Cançado Trindade foi eleito para um mandato de nove anos, a partir de 2009, como juiz da Corte Internacional de Justiça (CIJ).
Ana - A timidez é um problema para quem quer trabalhar com Relações Internacionais?
Marques - Não, é possível separar a timidez pessoal e agir sem timidez na vida profissional.
O profissional
Guilherme Bez Marques se formou em 2005 em Relações Internacionais na Universidade do Vale do Itajaí (Univali) de São José e em 2006 em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em 2007 e 2008 fez mestrado em Direito com concentração em Relações Internacionais. Já em 2009 começou a dar aulas no curso de RI da Univali, onde ainda leciona disciplinas como Direito Internacional e Organizações Internacionais.
Guilherme relata que sempre se interessou pelo setor público. Em 2011 ele foi convidado pelo governo de Raimundo Colombo para ser gerente de economia internacional e trabalhar principalmente com a atração de investimentos par ao Estado. Depois, passou para a gerência de missões internacionais.
Assista ao depoimento de Guilherme Bez Marques
Franciele Laner, 17 anos, é aluna do 3º ano do ensino médio no Instituto Federal de SC (IFSC), em Florianópolis. Em 2009 ela se mudou para a Europa com a mãe, que fazia um curso de mestrado, e viveu em diversos país por três anos. Passaram por França, Itália e Alemanha. Foi quando surgiu a ideia e a vontade de estudar Relações Internacionais.
Foi de extrema importância poder ouvir um profissional de excelência, atuante na área de Relações Internacionais, que nos recebeu com imensa simpatia e demonstrou imensa dedicação. Com esta troca de ideias pude compreender melhor como as Relações internacionais estão inseridas no mundo moderno, bem como tirar dúvidas sobre estágios, provas de admissão, cotidiano dos profissionais e oportunidades e saber como o estado de Santa Catarina percebe esta profissão.
A conversa foi muito boa pra esclarecer alguns pontos em que eu tinha dúvidas, como mercado de trabalho, viagens e timidez. A partir do que ele falou, pude perceber que a profissão exige muita responsabilidade, ser livre de preconceitos, saber se comunicar e representar. Gostei de saber que pessoas tímidas também têm chances como internacionalistas (desde que saibam controlar isso). Saí de lá com mais certeza de que é o curso que quero fazer.
Achei a entrevista muito útil, acabou com as minhas dúvidas em relação a estágio, emprego e perfil do estudante de R.I. Serviu para confirmar a minha escolha, é isso que eu quero estudar.
Além da tradicional carreira na diplomacia, é possível trabalhar em Organizações não governamentais, como a Anistia Internacional e a Cruz Vermelha, em empresas privadas que são internacionalizadas. Há espaço no setor público e privado com assessoria e consultoria. A carreira acadêmica também tem ganhado mais destaque. Procurar mais coisas.
O que é mais gratificante
Para a vice-coordenadora do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Karine de Souza Silva, o internacionalista é um sujeito transformador do mundo, capaz de tomar decisões de caráter global que se refletem em diferentes cenários da sociedade. Sua atuação abre caminhos para diálogos, aplana desníveis e leva, muitas vezes, a integração de povos e culturas.
O que é mais difícil
Principalmente no campo da diplomacia é preciso superar os problemas de ser um cidadão do mundo, como ficar longe da família e de seu país de origem por um longo tempo. Não ter sucesso em negociações é uma das maiores dificuldades da profissão.
Do que precisa gostar
De acordo com a professora Karine de Souza Silva, para se encaixar na área é preciso ter sensibilidade e abertura para o diálogo, gostar de idiomas e de viajar. Também é muito importante saber lidar com diferentes culturas, tratando-as com respeito e tolerância.
Disciplinas e tempo de duração
O curso da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) nasceu em 2009 e formou a primeira turma em abril deste ano. São oito semestres de duração, mas muitos alunos não concluem a graduação em quatro anos, pois são incentivados a fazer intercâmbios acadêmicos e acabam passando alguns semestres fora do Brasil.
O curso nasceu no departamento de economia, por isso tem uma carga forte de disciplinas desse departamento. Também são bastante presentes disciplinas de Direito e, claro, existem as matérias específicas de Relações Internacionais, como História das RI, Política Externa Brasileira e Organizações Internacionais. Quando o curso vai avançando, os alunos tem experiências mais práticas, fazem simulações da ONU e das instancias superiores da União Europeia.
Existem no curso, ainda, laboratórios como o de Conjuntura, em que os alunos acompanham notícias internacionais e fazem documentos técnicos sobre grandes temas da atualidade, e o de Organizações Internacionais, em que as negociações atuais no campo político e econômico são monitoradas.
O campo das Relações Internacionais como estudo surgiu em 1919, após a primeira Guerra Mundial. Em 1974 surge o primeiro curso no Brasil, na Universidade de Brasília (Unb), e em 1997 a Univali é a primeira a oferecer a graduação nessa área em Santa Catarina. Mercado de trabalho Santa Catarina não oferece tantas oportunidades quanto Brasília, pela questão política, e Rio de Janeiro e São Paulo, pelo aspecto econômico, mas existem boas opções. Os seguintes países possuem consulados no Estado: Costa Rica, Argentina, Uruguai, Itália, Paraguai, Alemanha.
A professora Karine de Souza Silva explica que o Brasil não é hoje mais um país emergente, tornou-se um player, ou seja, um negociador internacional muito importante, que atua de forma central. Esse cenário favorece a valorização do internacionalista brasileiro.
Salário inicial
Não existe um conselho ou sindicato profissional da categoria, nem mesmo uma tabela salarial de referencia. A professora Karine de Souza Silva indica que os salários iniciais, para recém-formados, giram em torno de R$ 2 mil. Quem é aprovado no concurso do Instituto Rio Branco recebe salário inicial de R$ 13,6 mil.
Dica DC
Guilherme (C) respondeu a dúvidas dos estudantes de ensino médio Ana (E), Franciele e Filipe
Foto:
Alvarélio Kurossu
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