A Educação Precisa de Respostas | 25/06/2013 07h04min
Em educação, nem mesmo a união das cordas vocais de todos os brasileiros será suficiente para provocar, a curto prazo, uma mudança drástica como a ocorrida nas tarifas do transporte público — derrubadas em efeito cascata graças às vozes dos manifestantes.
Porque levar uma criança do Ensino Fundamental até uma boa formação da universidade exige uma estrutura muito diferente da atual. Pede esforço, investimento e qualificação maiores do que a torneira de verbas do pré-sal pode irrigar — pelo menos, neste primeiro momento, quando os royalties do petróleo representam a resposta do governo às reivindicações de uma educação de excelência.
— Simplesmente dizer que vai gastar mais não melhora a qualidade — avalia o pesquisador Claudio de Moura Castro, economista especializado em educação.
— Temos de ser realistas. A educação brasileira começou a ser efetivamente valorizada, no Ensino Fundamental, na metade dos anos 80 — reforça o professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Carlos Roberto Jamil Cury.
Royalties à parte, portanto, será preciso um trabalho de longo prazo. Algo com resultados tangíveis só daqui a 10 ou 15 anos, na opinião do professor Luiz Guilherme Scorzafave, pesquisador de Economia da Educação no campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). Trata-se de uma política que combine fatores como atração aos professores (por meio de um salário mais justo, na casa dos R$ 3 mil, o dobro do atual piso), qualificação dos mestres e investimento na estrutura física das escolas.
Tudo isso está mais ou menos previsto no Plano Nacional de Educação, um documento emperrado no Congresso. Entre pontos como melhoria no desempenho de educação básica e de quesitos como matemática, leitura e ciências, também prevê a destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2020, para a educação — em valores de hoje, seria o equivalente a cerca de R$ 440 bilhões. Para efeito de comparação, o Ministério da Educação dispôs de R$ 101,9 bilhões no orçamento de 2012. Gastou, de fato, R$ 75,4 bilhões, ou 85,2% do previsto. O valor investido corresponde, portanto, a mísero 1,71% da riqueza gerada no Brasil.
Nesse ponto, volta-se à queixa de Claudio de Moura Castro. Gastar melhor não significa só remunerar mais o professor, mas qualificá-lo e avaliá-lo para que se mantenha motivado a ensinar. Assim seria possível aumentar a frequência dos docentes — um grande problema, segundo Luiz Guilherme Scorzafave — e encaminhar solução para uma carência nacional de 200 mil professores, em estimativa de Carlos Cury. Os gargalos, aponta, aparecem mais em matemática, física, química e biologia. Como a formação no magistério leva de 3,5 a 4 anos, explica, a saída seria aproveitar quem é licenciado.
— Mas o licenciado pega o diploma e não entra no sistema de ensino porque ganha — diz Cury.
O que fazer, então? Começar no Ensino Fundamental, sugere Scorzafave, porque recuperar a defasagem do estágio básico durante o Ensino Médio é ainda mais difícil. Ontem, sem detalhes, a presidente Dilma Rousseff citou intenções de melhora na qualidade da educação, ao propor escola em tempo integral, pesquisa e bom salário para professores.
Deficiência na base vai à faculdade
Destinar 100% dos royalties da exploração no pré-sal não representa solução definitiva para os problemas da educação. Está certo que, por enquanto, é difícil saber com exatidão o tamanho da pilha de dinheiro para os próximos anos, mas estimativas dão ideia da situação. Conforme projeções, 100% dos royalties representariam, em 2013, R$ 6,5 bilhões para a educação, enquanto a área teve dotação de R$ 101 bilhões no ano passado.
De qualquer forma, será preciso achar uma solução com rapidez. A partir de 2016, toda criança brasileira entre quatro e cinco anos deve obrigatoriamente estar nas escolas, assim como adolescentes de 15 a 17 no Ensino Médio. A mudança terá reflexo nas faculdades, onde às vezes é fácil entrar mas difícil sair — com boa formação. Há casos, inclusive, de estudantes brasileiros financiados para estudar no Exterior que não conseguem vagas nas universidades de topo, dada a carência de conhecimento. Acabam em países e instituições periféricas.
— O Ensino Superior reflete a qualidade de quem conclui o Ensino Médio — aponta Luiz Guilherme Scorzafave, da USP.
O quadro das aulas
— 88º lugar foi a posição do Brasil no ranking de educação da Unesco de 2011.
— 89% dos que concluem o Ensino Médio não aprendem matemática suficiente (2011).
— 395 pontos foi a média do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) foi de, ante 496 nos países mais desenvolvidos. A expectativa é chegar a 473 somente em 2021.
Resposta rápida
1 — Premiar o desempenho de professores, com gestão por resultado e avaliação externa. Também é possível diminuir a rotatividade dos docentes.
2 — Reformar currículos das faculdades de educação, com maior aprendizado no assunto que o professor vai ensinar e nas técnicas para dar aula.
3 — Melhorar a gestão. Diretores têm pouca autonomia e escolha política. Combinar concurso com eleição seria uma opção. Também pode haver contrato de gestão para o diretor, com metas determinadas.
ZERO HORA
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