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A Educação Precisa de Respostas  | 17/06/2013 06h03min

Cinco caminhos para construir a educação do futuro

Uma mudança na maneira de ensinar e a aposta no professor estão entre os desafios a serem enfrentados pela educação

Reformular o jeito de ensinar é um dos maiores desafios da educação. Este fazer diferente já ocorre em diversas escolas, que têm provado que o método tradicional de ensino pode ter dado muito certo no passado, mas está longe de atender aos anseios de um universo no qual crianças crescem tendo as novas tecnologias como companheiras.

Para marcar a segunda fase da campanha do Grupo RBS e da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho A Educação Precisa de Respostas, foram elencados cinco eixos para motivar a sociedade em busca de educação qualificada.

O exercício foi baseado nas metas do movimento Todos pela Educação e realizado com a ajuda de especialistas.

Mozart Neves Ramos, conselheiro do movimento, aposta que a essência da educação está em tornar a carreira do magistério objeto de desejo. No Brasil, um professor ganha 40% do que recebem outros profissionais, segundo estudo do pesquisador Marcelo Neri.

— Falta um plano de carreira, vinculado à formação continuada e aos resultados em sala de aula e não ao tempo de serviço — diz Mozart.

Clique aqui e assista ao vídeo com dicas sobre como participar da vida escolar:


Professores do século 21

A preparação do professor para a sala de aula é o processo mais urgente e mais desafiador para o salto na qualidade da educação que se sonha.

Até alguns anos atrás, eram formados apenas no curso Normal — o equivalente ao Ensino Médio — e preparados para o magistério. Entretanto, viu-se a necessidade de as faculdades de pedagogia formarem aqueles que iriam pensar o futuro da educação. Muitos cursos de magistério foram deixando de existir.

— É por isso que até hoje a faculdade é muito mais teórica do que prática. Isso faz com que os professores cheguem na sala de aula e não se sintam preparados — diz Priscila Cruz, diretora-executiva do movimento Todos Pela Educação.

FINLÂNDIA: RECRUTAR OS MELHORES

Os melhores sistemas de educação do mundo colocam os professores em igualdade com as demais profissões, estimulando o orgulho profissional. Para isto, atraem os melhores alunos para se tornarem professores, lembra o físico alemão Andreas Schleicher, responsável pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa). Países como a Finlândia recrutam os seus professores a partir de uma nata dos 10% melhores graduados.

Em segundo lugar, eles fazem com que sejam professores na prática, através, por exemplo, de treinamento em sala de aula, desenvolvimento de líderes escolares fortes e permitindo que os professores propaguem seus conhecimentos e suas inovações. Professores de Cingapura, lembra Schleicher, tem cem horas de formação, desenvolvimento profissional pago integralmente a cada ano. Em terceiro lugar, os melhores sistemas de educação colocaram em prática incentivos e sistemas de suporte diferenciados para garantir que cada criança seja capaz de se beneficiar de excelente instrução. São professores que usam os dados para avaliar as necessidades de aprendizagem de seus alunos e ampliam seu repertório de estratégias pedagógicas.

Qualidade versus quantidade

Na busca pelo equilíbrio entre a qualidade do ensino e a quantidade de tempo na escola, o professor é a peça mais importante. O movimento Todos Pela Educação entende que o tempo é importante, mas não quer dizer que haja a necessidade de turno integral para todos. Os mais pobres e as escolas com Ideb mais baixo devem ser priorizadas.

Eduardo Shimahara, que participou do projeto Volta ao Mundo em 12 Escolas, em busca de histórias inspiradoras, acredita que a aprendizagem não se dê mais no contexto da sala de aula formal. Engenheiro, lembra que a melhor aula do curso ocorreu no boteco:

— O professor de termodinâmica explicava como funcionava o circuito de calor no corpo humano no momento em que a pessoa ingeria a cerveja.

Eduardo lembra que quando visitou a Green School, na Indonésia, ficou estarrecido a primeira vez que viu um professor de ciências correndo no meio da floresta com várias raízes na mão e um monte de alunos atrás dele:

— Perguntei o que era aquilo. Ele respondeu que o papel dele era simplesmente fazer com que os alunos olhassem para a natureza e falassem: "Uau".

SÃO PAULO: AO ENCONTRO DO ALUNO

Em escolas como a Politeia, em São Paulo, é a criança quem escolhe o tema, e os professores vão fazer de tudo para que aquele assunto vire o centro do conteúdo. Eduardo cita o caso de uma menina apaixonada por pets, e essa paixão, comum a muitos da mesma idade, foi alimentada na escola. Assim, ela descobriu conceitos de cidadania, que tem gente que maltrata animais, que a primeira viagem ao espaço foi com a cadela Laika, em 1957, e que naquele período também ocorreu a Guerra Fria. Foram sendo trazidos exemplos e assuntos de acordo com o interesse do aluno. Isso também estimula que sejam feitas pesquisas em casa por conta.

Evasão escolar e repetência

O berço da repetência é a não-aprendizagem. Priscila Cruz diz que os anos finais dos ensinos Fundamental e Médio têm o currículo desconectado da realidade do aluno. Isso faz com que se distancie.

O uso de tecnologia pode ser uma das saídas para uma aula mais próxima da realidade. Distribuir tablets pode ser uma boa prática, mas não vai resolver todos os problemas se o professor não estiver preparado para usar o equipamento.

— A sala de aula é uma rede de pessoas conectadas. Não tem mais espaço para o professor que apenas empurra conhecimento, ele tem de ser um facilitador. Isso mexe com a zona de conforto, vai em cima da crença de que o professor é o centro das atenções — diz Eduardo Shimahara.

Silvio Meira, cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar), não crê que só tecnologia seja capaz de mudar a qualidade:

— Esses mecanismo de que as pessoas aprendam sem questionar, sem refletir, são mediados por tecnologia. Tenho restrições quando as pessoas dizem que vão colocar tecnologia para mudar a qualidade da aula. Pode piorar muito, inclusive.

NOVA YORK: APRENDER JOGANDO

Na Quest to Learn, escola pública de Nova York, os alunos aprendem desenvolvendo estratégias e criando os próprios jogos eletrônicos. A escola vive com os mesmos recursos que as demais, contando apenas com oito profissionais extras, especialistas em games e em currículo, que dão suporte aos professores.

Os jogos são apenas um pano de fundo para apresentar conteúdos, como física, história, geografia. Se o jogo é sobre vikings, a criança vai se interessar em saber quem são eles. Perguntas como essas instigam as crianças a investigar. Para Shimahara, este é um exemplo de como trabalhar com as novas tecnologias e também tornar a aula mais atrativa, conectando a criança com o conteúdo de aula.

Família comprometida

Para tornar a educação mais consistente é preciso que a sociedade e a família se engajem. Sem isso, não tem como convencer prefeitos e governadores.

— As pessoas deveriam evitar de reeleger quem fez má gestão na educação, uma sociedade que valoriza a educação participa da escola e atua em casa para complementar o trabalho do professor — argumenta Priscila Cruz, do Todos Pela Educação.

As escolas que vão melhor no desempenho dos alunos no relatório do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) são as que trabalham o ambiente em torno da instituição.

BOM PRINCÍPIO, PIAUÍ: DESTAQUE NACIONAL

A escola municipal Bom Princípio, no Piauí, não tem um único dono. É de todos. Localizada em Teresina, não tem biblioteca, nem laboratório de informática. Só existe um computador, sem internet. Mesmo assim, se tornou uma das melhores escolas públicas do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental do país. No Ideb de 2011, teve nota 7,7.

O diferencial está, segundo a diretora pedagógica Iraneide Nascimento, na ajuda mútua entre os 329 alunos e seus pais, funcionários e professores. As responsabilidades pela educação são dividas. Os pais passaram a ajudar na manutenção e na limpeza da escola. No contraturno, as mães entram na sala de aula para ajudar no dever de casa.

Gestão educacional

Supervalorizar planos e deixar a execução a desejar é uma das características do Brasil, reforça Priscila Cruz. O sociólogo suíço Philippe Perrenoud acrescenta que países não costumam prever cenários.

— Que educação temos que dar para preparar para a vida? Sabemos o que o jovem vivenciará em 2035? Prever as competências que os jovens necessitarão no futuro é prever catástrofes. A escola só tem sentido se ela antecipar, se apresentar cenários — disse ele no final de maio durante o 5º Congresso Internacional de Educação de Gramado.

PORTUGAL: INOVAÇÃO NA ESCOLA DA PONTE

A Escola da Ponte é uma escola pública portuguesa. O projeto teve início em 1976, uma das primeiras rupturas com a escola tradicional: alunos participam do processo de gestão e são realizadas assembleias nas quais trazem sugestões e soluções. Lá, a escola são as pessoas, e as pessoas são os seus valores e os seus valores postos em prática são projetos, segundo o seu fundador, José Pacheco:

— Não era possível continuar tendo aula, prova, séries, isso é a escola do século 19. Na Escola da Ponte, não tem ano, diretor, turma, horário. É esta a integração que se espera para o século 21.

No Brasil, mais de cem escolas se inspiram na Ponte. O criador participa em Cotia, em São Paulo, da implantação da Escola do Projeto Âncora, onde cinco professores cuidam de 400 alunos.

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