Tecnologia | 14/06/2013 05h39min
A utilização de parte dos 22 mil tablets destinados a professores da rede pública do Ensino Médio está sendo limitada pela falta de conexão adequada à internet em escolas de todo o Estado. Dados da Secretaria Estadual da Educação (SEC) demonstram que apenas 2,3% dos colégios estaduais gaúchos contam com redes sem fio de alta capacidade. Como resultado, a fragilidade do sinal isola as salas de aula e impede que os equipamentos adquiridos a um custo superior a R$ 10 milhões funcionem com todo o seu potencial.
A entrega dos aparelhos aos professores concursados do Ensino Médio, neste semestre, faz parte do projeto Província de São Pedro e é sustentada por recursos do governo do Estado e do Ministério da Educação (MEC).
A intenção é aprimorar o ensino por meio da tecnologia – mas deficiências estruturais comprometem o uso dos tablets no local de trabalho dos educadores.
O problema se repete em estabelecimentos da Região Metropolitana e do interior do Estado. Em Canoas, no Colégio Estadual Miguel Lampert, por exemplo, se um punhado de usuários conectar o dispositivo ao mesmo tempo, o sinal cai devido à pouca capacidade do sistema.
Falta de sinal impede que se faça pesquisa em tempo real
Como resultado, segundo a diretora Joice Maria Feller, os professores se limitam a usar alguns aplicativos já instalados.
— Tem sido um pouco frustrante, porque não conseguimos utilizar os equipamentos com todo o potencial — observa Joice.
Além de não poder usar programas que exigem ligação à rede, fica impossível acessar conteúdo online ou fazer pesquisas em tempo real, entre outras funcionalidades desperdiçadas. A situação é semelhante em escolas da Capital como a Almirante Barroso.
— Como o roteador (aparelho que distribui o sinal) fica na secretaria, só conseguimos conectar lá — lamenta uma servidora que prefere não se identificar por receio de reprimendas.
SEC reconhece que maioria dos colégios não tem wi-fi
A diretora da Assessoria de Gestão do Gabinete da SEC, Ana Cláudia Figueroa, reconhece que a maioria dos colégios não dispõe de wi-fi de boa qualidade e capaz de ser compartilhado por professores e alunos. Somente cerca de 60 entre as 2.574 escolas já contam com uma rede considerada ideal - menos de 3%. Porém, a representante da SEC diz que a intenção do governo ao distribuir os tablets não era oferecer instrumento didático, mas meio de aprimoramento pessoal.
— Nossa expectativa é que o uso do tablet ocorra nos espaços em que o professor consegue conectar o wi-fi, em casa ou em outros espaços. A prioridade é para uso pessoal, não para uso didático — sustenta.
A psicóloga Léa Fagundes, que ajuda a treinar professores para o uso da tecnologia, afirma que a falta de internet não anula as vantagens da iniciativa, mas reduz os ganhos.
— A maior riqueza da tecnologia digital é trazer muitos espaços ao mesmo tempo — sustenta Léa.
Estado promete melhor sinal em 400 escolas
O governo estadual promete reforçar o sinal da internet sem fio em 400 das maiores escolas de Ensino Médio da rede, mas isso não deverá ocorrer tão cedo.
A expectativa é de que o plano seja colocado em prática ao longo de um ano e meio. Uma das razões para essa demora é o alto custo para adaptar as redes de baixa capacidade instaladas hoje – programadas para atender apenas poucas áreas da escola e por meio de cabos.
– O custo para implantar uma rede de wi-fi de boa capacidade, que pode ser compartilhada entre alunos e professores e transmitir dados custa até R$ 200 mil por escola – afirma a diretora da SEC Ana Cláudia Figueroa.
Isso se explica, também, pelo fato de alguns estabelecimentos necessitarem de reformas em áreas como redes elétricas para receber a tecnologia. Enquanto isso não ocorre, colégios do Interior também enfrentam a dificuldade de se ligar à internet. No Instituto Estadual de Educação Cristóvão de Mendoza, em Caxias do Sul, cerca de 20 professores receberam o aparelho. Alguns revelam que o sinal da internet só chega a determinados pontos da escola. Nas salas de aula, onde seriam realmente úteis, sequer funcionam.
Laurinha de Oliveira, professora de literatura, disse que até hoje conseguiu usar apenas a câmera do tablet para fazer a filmagem de uma contação de histórias dos alunos do 2º e 3º ano. Professora de português e literatura da Escola Estadual de Ensino Médio Irmão José Otão, Tatiane Molon conta que há uma preocupação exagerada dos professores com o fato de o aparelho não ser deles, mas que a internet é o maior entrave.
– É uma nova tecnologia e temos que usar para melhorar o desempenho de professores e alunos. Mas aqui, onde só meia dúzia de professores ganharam o tablet, se todos conectarem ao mesmo tempo, fica lento ou a conexão cai. Teria de melhorar o sinal – relatou a professora, que disse ainda, que na escola, a internet só funciona na sala dos professores.
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