Com o clássico ideal de justiça e a vontade de colocá-la em prática. No encontro que colocou frente a frente uma estudante que vai prestar vestibular para Direito e uma experiente advogada, a conversa seguiu com esse clima. Ana Cristina Junckes, 18 anos, quis saber a respeito das possibilidades de atuação, da prova da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e sobre como se inserir no mercado. Katya Zanotto, 50, especializada em direito bancário, respondeu a tudo com muita paixão pela advocacia.

— Ver que ela gosta tanto do que faz me deu mais vontade ainda de estudar Direito — relatou a estudante após o encontro.

Assista ao depoimento da advogada Katya Zanotto



Pelo direito à moradia — Quem é Katya Zanotto

 A catarinense de Lebon Régis, no Meio-Oeste, se formou em Direito na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 1986. Antes de conquistar o diploma, Katya Zanotto já trabalhava no escritório Zanotto Advogados Associados, onde hoje é sócia. Especializada em direito bancário, cerca de 95% dos casos em que trabalha são relacionados ao sistema financeiro de habitação. Basicamente, são pessoas que precisam de ajuda para cumprir as exigências de contratos de financiamento de uma casa própria, ou que estão à beira de perder a moradia.

— Não passo uma semana longe do fórum e adoro participar de mutirões da casa própria. É a melhor sensação do mundo quando tudo termina bem e eu e os meus clientes nos abraçamos, satisfeitos.

 
Ana ainda não sabe em que área do Direito vai se especializar
Foto: Daniel Conzi

Afinidade por idiomas, história e justiça — Quem é Ana Cristina Junckes

Hoje com 18 anos, Ana estudou a vida inteira no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). No ano que vem, espera estar matriculada ali pertinho, no Centro de Ciências Jurídicas (CCJ) da universidade, para estudar Direito. A estudante acredita ter o perfil para o curso: sempre quis aplicar a justiça e gosta muito de história e de ler. Em um verão, chegou a ler mais de 10 títulos. Os idiomas são outra afinidade da estudante que conhece razoavelmente bem inglês, espanhol, francês e alemão.

No ano passado, ela passou dois meses na Argentina, depois de ser selecionada pelo Projeto Córdoba, para aprender espanhol, que tem convênio com a UFSC. No início de 2013, venceu mais um projeto de intercâmbio, organizado pelo Instituto Goethe, que tem parceria com o Colégio de Aplicação), e passou três semanas em Frankfurt, na Alemanha.

A profissional responde

Especialização
Ainda não sei em qual área do Direito seguir. Como posso escolher?
Sugiro que você faça estágio nas áreas de interesse e descubra aos poucos. Vá trabalhar no tribunal e no fórum por alguns meses, logo nas primeiras fases. É uma ótima maneira de ver, na prática, o que você aprende na teoria durante o curso —principalmente em cursos que são bem teóricos no início.

Mercado de trabalho
Como conquistar clientela e entrar no mercado?
Entrar em algum escritório durante a faculdade facilita. Hoje sou sócia do escritório em que estagiei. Já contratei várias pessoas que começaram como estagiárias. Você precisa se diferenciar. Por isso, uma especialização também é recomendável.

Prova da OAB
A prova da OAB é necessária para quem quer fazer concurso?
Não, mas eu recomendo que todos façam, e que façam ainda quando estão na faculdade, quando o conteúdo está todo na cabeça.

Impressões da estudante
Gostei bastante da conversa, porque ela transmitiu muita paixão pelo o que faz. Uma coisa que me assustou um pouco foi descobrir que alguns casos da Katya tinham mais de 10 anos! Eu pensava que era muito mais rápido. Sobre a papelada com que ela lida diariamente, também acho que eu teria que me organizar melhor, mas conseguiria me virar.

Por dentro da carreira

Opções de atuação
A coordenadora do curso de Direito da UFSC, Josiane Rose Petry Veronese, aponta que é possível seguir na advocacia em diferentes áreas: direito bancário, penal, civil, da família. A professora indica que o direito internacional, abordando desde as relações entre os países até os direitos de um cidadão em territórios estrangeiros, e o direito ambiental, relacionado a normas referentes ao meio ambiente, estão em alta no momento. A magistratura também é um setor tradicional. Em Santa Catarina, a implantação da defensoria pública, há pouco mais de dois meses, vem abrindo novos espaços. O Estado era o único do país que ainda não contava com esse recurso.

O que é mais gratificante
Para Katya Zanotto, o mais gratificante para um advogado é terminar um processo e ver que você conseguiu fazer valer o que é a sua visão de justiça. Outro momento gratificante é quando um cliente fica satisfeito e agradece pela ajuda em conquistar um direito.

O que é mais difícil
Para a maioria dos profissionais, a morosidade da Justiça é um complicador. Katya aponta que perder um caso faz parte da rotina do advogado.

— O resultado de um processo não depende só de mim. Quando não conseguimos, é bem frustrante.

A demora para fechar alguns processos também é um ponto negativo. Katya conta que alguns de seus processos já estão completando quase três décadas, e ainda estão em aberto.

Do que precisa gostar
A professora Josiane Veronese acredita que, para seguir no Direito, é preciso ter uma grande sensibilidade para as questões sociais, e ter uma noções do contexto histórico, político e social do Brasil. Saber escutar e lidar com as diferentes necessidades das pessoas também é fundamental.

Disciplinas e tempo de duração
O curso da UFSC tem duração de 10 períodos. No primeiro ano, o destaque são as cadeiras mais teóricas, que formam a base do pensamento jurídico, como Filosofia, Antropologia, Sociologia e Política. Depois, têm início as disciplinas de direito penal, trabalhista, da criança e do adolescente, entre outros. O aluno pode fazer disciplinas optativas nas áreas em que tem mais afinidade.

Mercado de trabalho
Há críticas de que no Brasil existe um excesso de bacharéis em Direito, mas a professora Josiane Veronese discorda. Ela acredita que área permite vários caminhos. No entanto, é preciso se diferenciar. É importante, por exemplo, saber falar pelo menos dois idiomas. Em Santa Catarina, a professora aponta o mercado de trabalho no Litoral dá sinais de saturação.

Salário inicial
De acordo com a Ordem dos Advogados do Brasil em Santa Catarina, o piso no Estado é de R$ 1,6 mil para quatro horas diárias, 20 horas semanais. O salário é proporcional à duração da jornada, ou seja, para uma jornada de oito horas são pagos, no mínimo, R$ 3,2 mil.

Exame da OAB
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) promove, periodicamente, exames para conceder aos aprovados a inscrição na entidade. Sem a aprovação, os bacharéis não podem atuar como advogados. O exame é realizado em duas fases. Primeiro, com uma prova objetiva, depois, com uma prova prática. Na última edição concluída, dos 114.763 candidatos que prestaram a prova desde a etapa inicial, apenas 12.213 (10,6%) foram aprovados.

Concursos
Os concursos na área de Direito são numerosos, mas exigem bastante dos candidatos. Há muitos cursos preparatórios, que são uma segunda etapa da preparação do bacharel. Quem pretende buscar uma carreira na Defensoria Pública pode procurar um curso de preparatório da Escola da Defensoria Pública do Estado, por exemplo. Outro fator importante é a titulação. Mestrado e doutorado dão uma pontuação maior ao candidato. Esses títulos também são fundamentais para quem pretende seguir na vida acadêmica, lecionando.