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Educação Básica  | 20/05/2013 13h20min

Estudante reclama de situação precária em escola de Porto Alegre

Em redação, o menino Daniel expressa a preocupação com as condições de seu local de estudo

Roberta Schuler  |  roberta.schuler@diariogaucho.com.br

Na redação escrita à mão, de improviso, o estudante Daniel Arce, dez anos, demonstra um tipo de aprendizado e uma maturidade que não são esperados de uma criança do quinto ano do fundamental. Em nove linhas, ele expressa a tristeza e a preocupação com as condições da Escola Estadual Maria Cristina Chika, na Lomba do Pinheiro, na Capital.

O manifesto que o guri entregou à reportagem tem justificativa: a Maria Cristina Chika tem dois prédios interditados e está entre as 1.028 escolas estaduais no Plano de Necessidade de Obras (PNO), da Secretaria Estadual de Educação (Seduc).

"E se acontecer uma tragédia?"

O apelo se justifica ainda mais porque o cronograma está atrasado em um ano. Em 2013, no máximo 197 colégios poderão ter obras iniciadas (19%) no Estado. Isto é: uma em cada cinco planejadas. Do grupo de 60 casos mais urgentes, devem ser assinados contratos neste mês... para fazer o projeto!

Assim como a escola de Daniel, muitos colégios estão na penúria.

— A situação da minha escola é pior que pensão. São três turnos em dois, sem intervalo, sem descanso. Há dois anos não temos recreio nem pátio. Perdemos 30 minutos de aula todos os dias. Os professores não têm descanso nem horário de almoço, mal podem ir ao banheiro. Isso tem que acabar! E se o prédio velho cair e acontecer uma tragédia? Quem será o responsável? escreveu Daniel em seu bilhete.

Em 2000, Daniel nem havia nascido, mas, na escola, já tinha começado a batalha da direção para construir o prédio que substituirá duas antigas brizoletas. Uma foi interditada há três anos - está envergada e cheia de buracos no assoalho - e o outro pavilhão de madeira deixou de ser usado. Com isso, a escola ficou sem oito salas de aula.

A diretora, Gleci Medeiros, que leciona na escola desde 1991, teme pela segurança dos alunos, já que não há tapumes separando o pátio dos prédios que sofreram interdição:

Dizem que o trâmite é burocrático. Tinha esperança de inaugurar o prédio, mas já não tenho mais. No ano que vem, encerro a carreira.

"Queria nova e pintada"
 
Mesmo com professores dedicados e comunidade participativa, não é fácil. Diretora lamenta:

Fica prejudicado o espaço físico. As crianças merecem um lugar melhor. Como vou falar em capricho para os alunos se estamos dentro de um lixão?

Filhos da dona de casa Aline Soares Almada, 29 anos, do conselho escolar, Lucas, nove anos, Bruna, oito, e Eduardo, seis anos, adoram o colégio, mas querem ver o prédio pronto.

— Queria que a escola fosse grande, nova e pintada - revelou Bruna.

OBRA PROMETIDA PARA MARÇO...

A diretora Gleci guarda uma notícia publicada no site da Seduc no dia 14 de janeiro deste ano. Nela, há a promessa de que as obras iniciariam em março, com investimento de R$ 2,6 milhões. Gleci conta que a Maria Chika é a segunda da lista do PNO. No projeto do prédio com três andares estão 12 salas, banheiros, área coberta, paisagismo e cerca.

Como pode a burocracia barrar uma necessidade? Temos o futuro do país nas mãos - desabafou Gleci.

E ela emenda:

De 20 pessoas que entram na escola, 19 vêm procurando vaga.

O colégio atende 680 alunos, 120 a menos do que antes da interdição das brizoletas. Para resolver a falta de espaço, além de dividir a área administrativa e utilizar a biblioteca como sala, foi criado o quarto turno de aula. A jornada ininterrupta vai das 7h30min às 22h30min. Com isso, os alunos não têm recreio e têm aula durante 20 sábados.

Aluno da oitava série, Guilherme Barcellos Lizardi, 14 anos, não aprova os 10min que tem para comer a merenda:

Seria legal estudar numa coisa nova.

À espera de mais espaço

É grande o anseio na Escola de Ensino Fundamental Genoveva da Costa Bernardes, no Lami. A diretora, Márcia Bernadete Lima Teixeira dos Santos, diz que o colégio está nas prioridades do PNO:

Desde 1997, há o projeto para construir três salas.

Para driblar a falta de espaço físico (são 435 estudantes), a direção transformou em sala uma parte do saguão. Para reverter o improviso, as portas de madeira que servem de parede podem ser abertas quando o saguão precisa ser utilizado. Já a sala da biblioteca está dividida com a informática. Um cantinho do corredor virou sala de recursos na qual a professora Jurema Feio trabalha com pequenos grupos, pois o espaço é exíguo.

Eu poderia ter uma sala cheia de alunos se tivesse espaço - comentou Jurema.

Saiba mais

O Plano de Necessidades de Obras (PNO) surgiu em 2011, após um levantamento das precariedades, em parceria entre educadores e engenheiros.

Das 2.574 escolas estaduais, 1.028 estão no PNO (40%). Em Porto Alegre são 38 das 260. Ou seja, 14%.

Entre as 1.028, há 524 prioridades. O primeiro lote destas é formado por 197 colégios que deverão ter seus projetos confeccionados ainda neste ano: 31 na Capital. Os contratos com empresas que farão os primeiros 60 projetos serão assinados neste mês: 19 em Porto Alegre.

A previsão da Seduc (sem estimar número) é que as primeiras obras comecem entre novembro e dezembro.

Expectativa é a executar as primeiras 524 obras até o final de 2014 (último ano da gestão).

Outras 504 ficariam para 2015.

Custo total: R$ 1,2 bilhão.Recursos vêm do Estado, da União e do Banco Mundial.

Critérios: ter mais de 300 alunos ou ter ensino médio. O plano conta com 17 itens. Entre eles a colocação de ar-condicionado em todas as salas, água quente nas pias, quadras cobertas, wireless, câmares e paisagismo.

Secretário dá nota 5

O secretário da Educação do Estado, Jose Clovis de Azevedo, afirma que as escolas citadas na reportagem estão no primeiro lote do PNO. O processo mais adiantado é o da Maria Chika, que já tem projeto pronto e está para ser licitada.

Em relação ao atraso do plano, Jose alega nunca ter ocorrido licitação tão ampla, o que gera muitas burocracias. Ele reconhece a necessidade das escolas e, a pedido da reportagem, deu uma nota para o aspecto físico das escolas estaduais de Porto Alegre:

Todas as escolas (do Estado) precisam de obra. A maioria tem problema ou de hidráulica, ou de energia, ou de rachadura, ou não tem refeitório, ou muro de proteção. Porto Alegre, que talvez tenha problemas mais graves, dificilmente poderia dar nota maior do que cinco. Isso é resultado de muitos anos de desatenção. Eu fico impactado como educador.

"Crianças não merecem"

Sobre a importância do espaço físico para as crianças, ele conclui:

As crianças devem ser tratadas com dignidade, não merecem estudar numa escola com infiltração, com banheiro imundo. A estrutura é importante para melhorar autoestima.

DIÁRIO GAÚCHO
Marcelo Oliveira / Diário Gaúcho


Foto:  Marcelo Oliveira  /  Diário Gaúcho


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