A estudante do 2º ano do ensino médio Isabel Cristina Fontão, 16 anos, tirou uma tarde para visitar os sets onde será filmado o curta-metragem em stop-motion Superplunf, e para conversar com a designer Camila Kauling Rumpf, 29, diretora de animação do projeto.

O caderno Vestibular acompanhou o encontro e registrou as dúvidas de Isabel sobre a área na qual ela pensa em seguir. O interesse das duas por animação, em especial pela técnica de stop-motion, dominou a conversa, mas questões como a valorização do profissional do Design no mercado e outras possibilidades de atuação também surgiram. Isabel sentiu que a conversa com Camila foi bastante esclarecedora. Segundo a estudante, a designer citou áreas de atuação que ela desconhecia.

— Eu nunca tinha pensado em trabalhar exatamente com animação em stop-motion, mas agora considero essa possibilidade — disse a estudante após o encontro.

Isabel afirma que está bem decidida a prestar vestibular para Design, e que ficou com ainda mais vontade de trabalhar na área após a visita ao local de trabalho de Camila.

Assista ao depoimento da designer Camila Kauling Rumpf



Bate-papo com a designer

Formação
Como é o curso de Design da UFSC?

— Acredito que o currículo atual do curso seja bem diferente daquele de quando eu estudei. Eu tinha muitas noções teóricas, que também são importantes, mas sentia falta de mais disciplinas práticas.

A profissional admitiu que, quando ingressou na graduação, tinha uma vaga noção do que fazia um designer, mas ao longo do curso se identificou bastante com a área. Ela já havia cursado um semestre de Cinema, mas abandonou o curso. Sobre a escolha da área de enfoque, tranquilizou Isabel.

— Você vai se encontrar. Quando se deparar com o que realmente quer, vai acontecer um "clique".

Mercado
Quais são as diferenças do mercado quando você se formou e agora?

— Você vai pegar uma fase muito boa. Primeiramente, porque agora todo mundo já tem contato com computadores. Você provavelmente já tem algumas noções de Photoshop, por exemplo.

Para Camila, hoje as pessoas já entendem qual é o papel do designer e valorizam mais a profissão. No caso da animação, o incentivo do governo com a abertura de editais impulsiona a área, que também ganha destaque quando se agrega à publicidade e propaganda.

Intercâmbio
Existem boas oportunidades de bolsa no exterior para estudantes de Design?

— Acredito que sim. Eu não fiz um intercâmbio enquanto estava na faculdade, mas em 2011 e 2012 estudei em um programa da University West of England em Bristol, na Inglaterra, e fiz uma espécie de estágio na Aardman Animations (companhia de filmes e televisão inglesa que produziu filmes em stop-motion como A Fuga das Galinhas e Wallace e Gromit).

Prática
É muito difícil fazer os bonecos para um filme em stop-motion?

Camila conta que não, e que muitas pessoas trabalham juntas para produzir o material. Primeiro um artista vai fazer os moldes, a partir dos desenhos preliminares, e depois vão sendo feitos os detalhes. No caso do bonecos do Superplunf, o corpo é feito de resina, com estrutura de arame. Os braços são feitos de silicone, para terem mais mobilidade.

Um curso, várias habilitações

A designer Camila Kauling Rumpf se formou em 2007 na Universidade Federal de Santa Catarina. Quando ingressou, o curso ainda se chamava Comunicação e Expressão Visual, titulação modificada para Design Gráfico em 2003 e para Design de Produto e Design de Animação em 2009. Em 2011 houve outra alteração: passou a se chamar só Design e a englobar todas as habilitações.

Já no fim da graduação, Camila fez uma disciplina de princípios básicos em stop-motion (técnica de animação em que modelos reais, feitos geralmente de resina, são movimentados e fotografados quadro a quadro. Os quadros são montados posteriormente, criando a impressão de movimento).

— Foi quando descobri com o que eu queria trabalhar, ficou bem claro pra mim — conta a designer.

A então estudante decidiu desenvolver seu Trabalho de Conclusão de Curso na área e, logo antes de se formar, ficou sabendo que uma produtora de São Paulo, a Animaking, viria para Florianópolis fazer um longa-metragem em stop-motion. Camila correu atrás e em 2008 começou a trabalhar na produção do filme Minhocas.

Primeiro atuou como assistente de cenário, depois assistente de bonecos, na produção de set e, por fim, como assistente de animação. A experiência foi tão enriquecedora que Camila considera como tendo sido praticamente uma pós-graduação na área. O longa, já concluído, tem lançamento previsto para dezembro.

— Quando descobri que queria trabalhar com stop-motion, achei que seria muito difícil, que era uma realidade muito distante, "de Hollywood". Minha experiência é prova de que é possível — revela Camila.

Atualmente, a profissional trabalha no curta-metragem Superplunf, projeto do Laboratório Lápis, do Departamento de História da UFSC, e na diagramação e projeto visual de manuais de automóveis na empresa Doutor IE, em Florianópolis.

A motivação de Isabel

A estudante conta que sua principal área de interesse é a animação, mas que está aberta a outras áreas do Design. Uma de suas motivações são os clássicos da Disney, pelos quais é apaixonada. Desde criança, ela não só assistia aos filmes, como buscava saber mais sobre a criação dos personagens e como eram os rascunhos dos desenhistas.

Este ano, a estudante vai com a escola a uma excursão para a Disney, e a atração pela qual ela mais espera é a visita aos estúdios da Pixar, grande empresa de animação digital da atualidade.

Por dentro da carreira

O Design busca pensar e desenvolver projetos gráficos e produtos com o objetivo de solucionar problemas da sociedade. É uma profissão de caráter multidisciplinar, que aproveita conceitos de diversas áreas, como a comunicação e a linguagem, as artes plásticas, e mesmo a engenharia.

Opções de atuação
Quem se forma em Design pode trabalhar em escritórios de design, especificamente; em agências e produtoras de publicidade e propaganda; com animação em produtoras; desenvolvendo material gráfico (logos, banners, sites) para empresas de diferentes setores; em veículos de comunicação, fazendo diagramação e ilustração em jornais e revistas, e produção de vinhetas e arte para TV. O mercado editorial também apresenta inúmeras possiblidades para designers. Design de jogos é uma área que tem crescido e se destacado bastante, inclusive em Santa Catarina.

O que é mais gratificante
Para Camila Kauling Rumpf, ver um projeto que demanda tanta dedicação e tempo tomar forma é muito gratificante. No caso do trabalho com stop-motion, a designer conta ver os personagens "ganharem vida" faz todo o trabalho valer a pena.

O que é mais difícil
Para a coordenadora do curso da UFSC, Marília Matos Gonçalves, um grande desafio ainda é conseguir com que a área seja mais reconhecida. Camila aponta que, para quem é autônomo, caso de muitos profissionais designers, ter que lidar com a instabilidade, sem horário e remuneração fixos, é uma grande dificuldade.

Do que precisa gostar
A professora Marília Gonçalves aponta que é importante ser curioso, gostar de ler e estar antenado com o mundo. Ter interesse por História em geral, não apenas por Arte, também é um ponto positivo para quem quer cursar Design. Ela ainda desmistifica a ideia de que para ter sucesso na profissão é preciso ingressar na faculdade já sabendo desenhar.

— Muito estudantes chegam sem saber desenhar nada, e em um semestre já estão com a técnica muito bem desenvolvida.

Da mesma forma, apenas gostar de desenhar e ter uma boa técnica não é o suficiente para se dar bem na profissão.

Disciplinas e tempo de duração
O curso da UFSC tem duração de oito períodos e o currículo sofreu mudanças radicais nos últimos anos. Desde 2011 o curso é estruturado da seguinte forma: o primeiro ano é introdutório, com disciplinas como semiótica, desenho, metodologia da forma. A partir da 3ª fase, o estudante começa a frequentar os módulos de projeto, que envolvem pelo menos três disciplinas cada um, e são voltados para a prática. Para se formar, é preciso fazer quatro módulos.

É nessa altura do curso que o aluno vai optar por estudar mais um dos três enfoques que o curso oferece: Design Gráfico, Design de Produto e Design de Animação. O grau concedido ao fim do curso é um só. Um dos projetos voltados para animação engloba as disciplinas de Design 3D, Modelagem 3D e Modelagem de personagens. O aluno da UFSC precisa ainda fazer um estágio e apresentar um projeto de conclusão de curso.

Mercado de trabalho
De acordo com a professora Marília Gonçalves, o reconhecimento da profissão por outras áreas tem aumentado muito nos últimos 10 anos.

— Hoje, um aluno formado consegue se inserir em uma empresa como designer mesmo — afirma a professora.

Em Santa Catarina, o norte e sul do estado têm força em design de produto (metalmecânica e cerâmica, respectivamente). No centro e no oeste o foco é a indústria moveleira e de embalagens. O setor automobilístico do estado também oferece possibilidades para os designers catarinenses. A área gráfica se espalha pelo estado, sendo mais forte em Florianópolis. Na capital também são fortes as áreas de design de jogos para celulares e de animação.

Salário inicial
A profissão ainda não é regulamentada, e não existe piso salarial em Santa Catarina. A coordenadora do curso de graduação em Design da UFSC, Marília Gonçalves, estima em R$ 3 mil o salário inicial para uma pessoa formada em Design.