clicRBS
Nova busca - outros

Notícias

Educação Básica  | 23/04/2013 06h03min

Falta de estrutura leva escola a unir turmas e ter dois professores na mesma sala de aula em Cruz Alta

Alunos voltaram às aulas uma semana após interdição do colégio estadual Margarida Pardelhas

Fernando Goettems*  |  fernando.goettems@zerohora.com.br

Uma semana após a interdição parcial da escola estadual Margarida Pardelhas, alunos voltaram às aulas tendo que dividir a mesma sala em Cruz Alta, no Noroeste. 

Diante da falta de estrutura, o jeito foi improvisar. Com alunos de costas um para o outro, dois professores ensinam simultaneamente em pelo menos oito turmas de Ensino Fundamental. 

Reunindo 52 alunos, 26 em cada turma, alunos do 1º ano do Ensino Fundamental tiveram lições distintas sobre português na mesma sala. Enquanto metade dos estudantes aprendia técnicas de leitura, a outra exercitava a escrita. 

As turmas ficavam de costas uma para a outra, cada uma olhando para um quadro negro. E as professoras tiveram que se dividir na hora de explicar os conteúdos: na hora em que uma falava, a outra esperava sua vez. 

— É um pouco complicado dar aulas assim, até porque os alunos acabam prestando a atenção nos dois professores — explica a professora Eliana Margarida Leal Niederauer, 48 anos, que está dividindo a sala de aula com outra colega. 

Além do 1º ano, estão na mesma nesta situação as turmas do 2º, 3º e 5º anos do Ensino Fundamental. Isso ocorre porque o prédio principal da escola, que abrigava 700 dos 1,1 mil alunos, além de toda a estrutura administrativa do colégio, foi interditado pela 9ª Coordenadoria Regional de Obras. Com fissuras, infiltrações e até uma porta energizada, a estrutura apresentava vários riscos. 

— Nesta segunda-feira, alguns alunos pediram para trocar de escola. Em um mês, teremos mais salas de aula à disposição e a situação deve melhorar. Inclusive, ainda não temos nem um local para adequar o nosso setor administrativo — lamenta a diretora da escola, Vera Weber. 

Cerca de 450 alunos dos 700 que estavam sem aulas foram alocados em salas cedidas pela Universidade de Cruz Alta (Unicruz). O restante ficou em outro prédio da escola, que não foi interditado. Somados aos cerca de 400 alunos que já estudavam nessa mesma área e não tiveram as aulas interrompidas, o resultado foi a falta de espaço e a necessidade de improvisar. 

Apesar das justificativas da direção e do Estado, a qualidade de ensino preocupa os pais, que não se conformam com o fato de os estudantes estarem dividindo as mesmas salas. 

— É desumano colocar 50 pessoas dentro de uma sala de aula, tanto para os alunos quanto para os professores. Está muito bagunçado e nós queremos uma resposta rápida — destaca a presidente do Círculo de Pais e Mestres do colégio, Neusa Martins. 

Para discutir o impasse, pais, direção e representantes da 9ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) vão se reunir hoje à tarde. A ideia é buscar alternativas para resolver a situação o mais breve possível. Devido ao encontro, as aulas no turno da tarde foram suspensas. 

Além das dificuldades de infraestrutura, a direção do colégio Margarida Pardelhas também está preocupada com as obras de acessibilidade que estão sendo realizadas há cerca de um ano no pátio. O problema é que, na hora do recreio, as crianças acabam tendo que dividir o espaço de recreação com telhas, máquinas e cimento. 

— Temos mantido cuidado redobrado com relação a isso. Ainda bem que nenhum aluno se machucou até hoje — afirma a diretora. 

*Colaborou Fernanda da Costa 

Contraponto

O que diz a 9ª Coordenadoria Regional de Educação 

Conforme o coordenador regional, Venício Guterres Guareschi, em cerca de 45 dias o auditório e a biblioteca da escola serão adaptados para se transformarem em sete novas salas de aula, o que resolveria a necessidade de reunir duas turmas em um único espaço. Ainda não há definição sobre onde funcionará, temporariamente, a biblioteca. 

Sobre as obras de acessibilidade no colégio, Guareschi explica que a conclusão dos trabalhos estava prevista para setembro do ano passado. O atraso, segundo ele, ocorreu porque a empresa abandonou a obra. Após o Estado ingressar na Justiça, garante o coordenador, a construção foi retomada no início de abril, está em fase final, mas ainda não há previsão de quando será concluída. 

Quando a falta de estrutura atrapalha

— A medida adotada em Cruz Alta, segundo a professora do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Maria Luísa Xavier, se for emergencial, é melhor do que deixar as crianças sem aula. 

— Deixá-los provisoriamente no colégio onde estudam, de acordo com a professora, seria melhor do que transferi-los para um estabelecimento desconhecido, que necessite de adaptação. 

— No entanto, segundo ela, é preciso que os alunos voltem às suas salas de aula o mais rápido possível. Deixar as turmas grandes — como em Cruz Alta, com mais de 50 alunos — dificulta o atendimento individual dos educadores aos estudantes, o que prevê muitas teorias de ensino, e pode prejudicar o aprendizado. 

— O ideal, conforme a especialista, era ter turmas com no máximo 25 alunos. 

— Para a coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade de Passo Fundo (UPF), Sylvana Carpes Moraes, ter dois professores com dois quadros e conteúdos diferentes em sala de aula também prejudica a atenção dos alunos. 

— Nesse caso, segundo ela, seria melhor que os dois professores lecionassem o mesmo conteúdo. Um poderia dar a aula e o outro atuar como monitor, no atendimento às crianças com dúvidas. 

— Unir turmas por muito tempo também pode afetar o aspecto psicológico dos alunos. Conforme a especialista, as crianças estabelecem um vínculo com seu grupo, que pode ser desconstruído diante da união com outra turma.

Henrique Siqueira/Especial / 

De um lado da sala, alunos aprendem sobre leitura. Do outro, as lições são sobre escrita
Foto:  Henrique Siqueira/Especial


Mais Notícias

A Educação Precisa de Respostas  30/01/2016 16h58min
'Projeto Resgate' entrega apostilas e materiais para alunos de Joinville

grupoRBS

Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho

Prêmio RBS de Educação

Grupo RBS  Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2012 clicRBS.com.br • Todos os direitos reservados.