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A Educação Precisa de Respostas  | 02/04/2013 15h25min

Do amor à educação

Para Helena Schimitz, acadêmica de Pedagogia da Universidade de Passo Fundo, contexto favorável pode proporcionar ensino de qualidade

Helena Schimitz

“Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música não começaria com partituras, notas e pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas, e lhe contaria sobre os instrumentos que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes.”

Rubem Alves

Falta de respeito, de limites e desobedientes. Esses são alguns dos problemas que os pais e os próprios educadores ressaltam quanto às crianças do séc. XXI, e o que se observa é que a culpa é delegada ora para os que geram as crianças, ora para os que cuidam de seu conhecimento. Para entender melhor a situação que se encontra a educação desses pequenos é necessário saber como se desenrolou a educação e sua relação com a escola e a família ao longo do tempo.

Pois bem, como diz Carlos Brandão vocês devem se lembrar daqueles quadros antigos onde as famílias eram retratadas com todo luxo que lhes eram naturais, mais além, notamos a maneira como se portavam e imaginamos como eram suas vidas e suas ações no cotidiano. Engana-se quem acha que todo afeto que os pais dispensavam a seus filhos tem a mesma proporção e envolvimento dos dias de hoje. É importante notar como o meio em que as crianças estavam inseridas naquela época determinava seus comportamentos, lembrando que estamos falando de um passado em que as tradições eram rigorosamente seguidas e o comportamento fortemente ditado e imposto.

Nesse contexto, os pequenos eram vistos, basicamente, como miniaturas de adultos, tratados com a frieza própria de “gente grande”. A educação era baseada rigidamente nas tradições que advinham de sua família, sendo lhes passada, além da formação didática, a educação para com os valores a serem seguidos.

É nessa formação para valores a serem seguidos que quero especificar a importância da escola. Primeiramente é necessário entender que na época acima citada, o período histórico se fazia de famílias onde a nobreza do sangue determinava a posição ocupada nas camadas da sociedade, ou seja, um bom nome condizia a enormes riquezas. O tempo passou e a história inverteu-se, muitas riquezas elevam seu nome.

A relação com esse âmbito se estabelece mais estreitamente do que pensamos, uma vez que hoje são as condições econômicas que determinam uma educação, supostamente de qualidade. Supostamente porque o senso que nós designamos como de qualidade está diretamente ligado à infraestrutura e recursos de materiais didáticos e pedagógicos, sendo assim, quando maior for o poder aquisitivo, melhor será a educação delegada ao indivíduo e, consequentemente, maior será seu intelecto.

Previsto em lei, o direito à educação é garantido a todos os cidadãos. Essa lei ainda ressalta que o ensino deve ser de qualidade. Logo, temos uma contradição. Em nossa concepção de senso comum, esse ensino de validez só se dará de forma correta se tivermos todos os recursos que uma escola de elite dispõe, correto? Não!

Uma escola é constituída de várias formas e apresenta em sua disposição uma grade de funcionários, supostamente, capacitados para preparar vários indivíduos para a vida. Pronto, achamos o maior erro que os educadores cometem ao longo de sua jornada: fazer da escola um local preparatório para a posterioridade, tomando-se, muitas vezes, inconscientemente, um lugar passageiro, de valor, mas que se mostra contraditório quanto a sua real importância.

É extremamente importante e necessário que essa concepção de escola-educação seja extinta, uma vez que esse importante meio de socialização é a própria vida em construção. Precisamos abrir as viseiras de muitos educadores que ainda acham que estão prestando um favor ao compartilharem seu conhecimento. É preciso que haja essa consciência de que eles são mediadores de aprendizados e não detentores únicos de sabedoria, sabedoria essa que se não a tivermos seremos “incapacitados” para o mundo pós-escola.

Além disso, é terrivelmente decepcionante constatar a opção pela estagnação profissional de certos educadores, como se já fossem detentos de todo saber que lhes foram delegados. Estou certa de que políticas públicas mais atuantes nesse meio se fazem extremamente necessárias, mas, atrelado a isso, tem de existir a sede insaciável por novos conhecimentos.

É evidente a situação constrangedora em que se observa a educação, mas não podemos fazer disso um empecilho, o caos remonta a ordem. Para muitos profissionais da área, o caos está nas mazelas desfavorecidas, nos escombros de uma sociedade que se tornou tão obsessiva por lucros, que acaba por excluir boa parte da população que não consegue acompanhá-la.

Em um ambiente desmotivador como esse, muitos profissionais tendem a fortalecer o comportamento descrito outrora, de preparar esses indivíduos para atuar na vida que haverá depois da escola. Relembro Bordieu, que nos diz que a escola, em sua aparente neutralidade, reforça os comportamentos advindos principalmente pelo sistema econômico de regência. Fato totalmente incontestável.

Observamos professores instigando seus alunos a irem bem em suas respectivas didáticas, mas esquecendo de que o pensamento crítico lhes é bem mais importante. Não estou de maneira alguma menosprezando o conteúdo que lhes é, por dever, perpassar, mas se faz necessário que tudo isso seja acompanhado por uma visão crítica.

É importante saber o que esses construtores de conhecimento têm de real e palpável como fonte de informações para, assim, formular projetos pedagógicos de acordo com as vivências dos alunos para além do círculo escolar. O meio em que o sujeito está inserido nos dá uma base totalmente sólida de como se dá seu acesso à cultura, a materiais que facilitem sua informação, mídias e todo seu entorno familiar, que deve ser totalmente relevado.

É exatamente nesse sentido que a escola, como preparadora para a vida, se contradiz. Uma vez autodesignada com esse termo, deveria estar em seu cerne a educação quanto a valores éticos, morais e, principalmente, comportamentais, porém, não despercebidas vezes, a instituição se exime dessa função.

A família tem como principal objetivo fornecer uma base moral quanto ao comportamento de seus sucessores. Esse comportamento, todavia, estará de acordo com as regras estabelecidas dentro da própria organização familiar, respeitando a individualidade e o livre arbítrio de cada membro, porém partindo de um bem comum a todos. No entanto, não é ofensivo validar que as famílias, em sua maioria, não seguem esse modelo, visto que não existe um modelo ideal de família.

As instituições escolares vêm desempenhando seu papel com base nesse modelo ideal de família que, por sua vez, não existe. É nos espaços escolares que se desenvolve a maior parte da sociabilidade da criança para com um mundo que não é estritamente familiar. Obviamente ocorrerão falhas de comportamento devido a sua inexperiência de lidar com esses fatos. É papel da escola lidar com essas situações, corrigir seu comportamento tendo consciência de seu papel de educador, e não somente delegar a culpa à família desestruturada em que a criança vive. Aliás, é comum demais ouvir esse termo, e creio que se torna até ofensivo advindo de alguém que “prepara cidadãos conscientes para a vida".

É desse modo que o meio se faz extremamente importante na construção do aprendizado, não se pode simplesmente ignorar as diversas situações vivenciadas no dia-a-dia que interferem diretamente em sala de aula. Nessa hora, Rubens Alves faz todo sentido, olhamos primeiramente o amplo de nossa sociedade para que, posteriormente, possamos trabalhar, lidar e construir um conhecimento válido em ambiente escolar, e que isso transponha as paredes cheias de trabalhos educativos, e vá ao encontro do cotidiano desses empreendedores de vida.

Educadores, como Kant disse, libertem-se dos grilhões que os aprisionam, instiguem seus alunos. Todas as grandes mudanças mundiais partiram de pessoas com intelecto crítico extremamente apurado, todas as grandes revoluções aconteceram baseadas em ideais livres e próprios. Isso só é possível se desenvolvermos a capacidade, a intelectualidade e as percepções do mundo que temos dentro de nós e que nos circunda. Parte de nós, educadores, a revolução inicial: dar asas, suporte e coragem aos novos pensamentos críticos que nos circundam e validam nossa amada profissão.


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