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Entrevista  | 20/02/2013 18h55min

A vida em números

Entrevista com Isabel Martins, autora de livro que traz a matemática para o dia a dia das crianças

Diogo Figueiredo  |  diogo.figueiredo@fmss.com.br

Os números estão por toda a parte. Isabel Minhós Martins, escritora e mãe, percebeu isso à medida que seus filhos foram crescendo. As mudanças na vida doméstica, com objetos se multiplicando pela casa, inspiraram a autora portuguesa a escrever um livro que mostra a presença da matemática nas situações mais banais. Com uma prosa leve e fácil, quem passar pelas páginas de Lá em casa somos (Cosac Naify, 32 páginas) vai perceber que os números que muitas vezes preocupam pais, professores e alunos podem ser encarados de maneira muito mais amigável.

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, Isabel fala sobre o processo de criação de sua obra, feita especialmente para os pequenos lidarem melhor com uma disciplina que está longe de ser um bicho de sete cabeças.

Como surgiu a ideia de escrever o livro? Você já tinha um interesse particular pela matemática?

Isabel Martins - Na verdade, o livro surgiu porque, depois de os meus filhos nascerem, comecei a reparar que uma série de coisas se multiplicava. Por exemplo, os sacos das compras, o número de vezes que a máquina de lavar a roupa trabalhava, o número de pares de meias, cuecas e camisolas no varal, os caixotes de lixo que saíam da minha cozinha. Um dia, enquanto cortava as unhas da criançada reparei que tudo acontecia agora em tamanhos grandes. E eu só tenho dois filhos, imagine as casas onde existem quatro ou cinco.

A aversão pela matemática tem até nome: matofobia. Ao longo do seu trabalho para o livro foi possível identificar o porquê dessa dificuldade em trabalhar com números?

Isabel - A Matemática tem um aspecto complicado: quando se perde o barco é uma desgraça para o voltar a apanhar. Podemos tentar nadar, nadar... mas o barco, lá à frente, vai tão lançado e navega já por águas tão diferentes das que nos rodeiam, que é muito difícil voltar a apanhá-lo. Este naufrágio (matofrágio) ou afogamento (afogamatamento) pode acontecer porque o professor não explica o assunto de modo entendível pelo aluno; porque o aluno é preguiçoso e não treinou o suficiente; pelos dois motivos juntos. Acho também que a matemática é uma espécie de esporte: quanto mais se treina, melhores resultados se conseguem e nem todos gostam de exercício desse tipo, preferindo o outro que implica usar uma bola (e não tanto a tola).

Ao menos no Brasil, a matemática é considerada uma das disciplinas difíceis para os estudantes. De que maneira ela pode se tornar mais atraente?

Isabel - Primeiro, logo desde o início da escola primária, treinar a flexibilidade do cérebro. Treinar o cérebro para ser elástico, para raciocinar sozinho, para conseguir ir de galho em galho feito um macaco (o chamado cérebro macatemático). Depois, usar a matemática para resolver problemas do quotidiano, enigmas, mistérios, usar a matemática quase como uma ferramenta de detetive. Mas haverá sempre um lado abstrato da matemática que anda longe das questões quotidianas (quais as medidas do meu tanque, sabendo que a minha torneira, aberta há 5 minutos e que debita 3 h/l por minuto, etc.) e que também é misterioso e bonito por natureza.

O livro possui algumas propostas para pais e educadores. Qual o papel desses agentes na educação dos jovens, e como eles podem contribuir para um melhor aprendizado?

Isabel - As propostas que criamos para pais e educadores não são exclusivamente da área da matemática. Uma das coisas de que mais gosto no mundo dos álbuns ilustrados é precisamente esse cruzamento: um livro deste tipo pode servir para chegar a assuntos muitos diferentes. Há professores que o adoram porque permite falar de números e dos órgãos do corpo humano em simultâneo, mas usando os números do corpo humano, o livro também conta uma história, há personagens que podemos conhecer, há uma casa e as suas rotinas onde somos convidados a entrar.

Isabel Minhós Martins / Arquivo Pessoal

Autora portuguesa já publicou 28 livros voltados para o público infantil
Foto:  Isabel Minhós Martins  /  Arquivo Pessoal


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