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 | 17/02/2013 20h03min

Governador diz que declarações de recusa à Força Nacional eram dissimuladas para não atrapalhar operação

Raimundo Colombo afirmou que não poderia durante os ataques alertar sobre a ajuda federal.

Atualizada em 18/02/2013 às 09h21min Diogo Vargas  |  diogo.vargas@diario.com.br

O governador Raimundo Colombo afirmou neste domingo que as declarações dadas durante as duas semanas dos atentados, de que Santa Catarina não iria recorrer da Força Nacional de Segurança, foram dissimuladas para não atrapalhar a operação.

A ação de transferência dos presos que estariam comandando os ataques para presídios federais, que acabou sendo deflagrada entre a noite de sexta-feira e a madrugada de sábado, ocorreu com a Força Nacional - a tropa federal desembarcou sexta-feira no Estado.

Segundo deu entender Colombo, foi uma espécie de blefe à imprensa com intuito de não alertar os criminosos, estratégia que considera ter dado resultado positivo - aponta as prisões e as transferência dos líderes da facção sem que tenha acontecido rebelião nas cadeias.

Colombo concedeu entrevista coletiva nesta tarde, na Casa D'Agronômica, em Florianópolis, onde fez uma avaliação dos atentados, segurança pública, sistema prisional e também falou sobre as prisões dos envolvidos.

Veja a seguir os principais trechos da conversa com jornalistas da mídia impressa, principalmente de São Paulo, que durou cerca de uma hora.

O senhor disse que ficou 15 dias em silêncio, sem falar que a operação aconteceria. Como foi?

Raimundo Colombo —
O que a gente percebeu no outro episódio é que havia claramente uma organização criminosa atuando nos presídios. Tomamos uma série de medidas, que levam tempo e a burocracia hoje é um componente muito ruim na vida do gestor público. Havia uma informação, eles (PGC) fazem aniversário dia 3/3/2013. Nosso serviço de inteligência vinha detectando. É muito difícil filtrar o que é real e o que não é. Um dado determinante foi a prisão da advogada (Fernanda Fleck). Foi a quebra na operação financeira. Infelizmente também Florianópolis tem nível de operação de droga sintética muito importante. Aquele episódio de Joinville talvez tenha agravado. Eu fui a Brasília, logo no começo e confidencialmente levei ao ministro as informações e o plano estratégico feito pela nossa inteligência com ajuda dos órgãos de inteligência nacional. Aí foi concebida a operação, resultaria no mesmo momento em transferência e prisão. Antes do Carnaval ou durante seria de alto risco, não seria recomendado. Nesse momento, a gente deixou acertado a participação da Força Nacional. Fui obrigado a dizer para a imprensa que não ia usar porque se nós sinalizássemos estaríamos mostrando a cara e a dimensão da operação. E o risco da reação era muito grande. Em Laguna tinham 150 mil pessoas nas ruas se divertindo. Em Florianópolis tinha 180 mil pessoas.

Em novembro, não dava para ter se tomado naquela época a decisão da Força Nacional, na primeira onda de ataques?

Colombo —
Não. Em novembro não tínhamos todas as informações. Porque desde novembro nosso serviço de inteligência acompanhou o processo. Em novembro fomos surpreendidos. Não tinha elementos, não sabíamos direto. Eram informações desencontradas. De novembro para cá reunimos todos os materiais, identificou-se as pessoas, o modo de operação. A participação do ministro foi de grandeza pessoal e de espírito público. Ele guardou o sigilo, o segredo.

No começo dos ataques de novembro teve muita relação com a morte da agente Deise, mulher do então diretor da Penitenciária de São Pedro de Alcântara, Carlos Alves. Um dos equívocos foi mantê-lo no cargo. Foi um erro?

Colombo —
Foi um erro nosso. Na crise eu conversei diretamente com ele. Ele é um homem muito bom, com formação no Exército e ele melhorou muito o sistema. Antes de ele entrar houve número grande de mortes em São Pedro de Alcântara. A verdade é que o crime organizado de alguma forma iria se mostrar e colocar o que ele fez.

Foi um blefe à imprensa ou o chegou um momento que o senhor pensou 'agora eu devo trazer a Força Nacional'?

Colombo —
Eu fui muito questionado. Mas eu pensei, 'eu tenho que aguentar, não posso mudar a estratégia porque estou levando muita crítica'. Eu preciso fazer o que é certo. O meu conceito é que o sigilo não é arma dos fracos. Eu não podia contar. Isso eu acertei lá no começo. Era dissimulado. Eu era obrigado a dizer porque se eu dissesse haveria um aumento da situação. As escutas estavam em andamento e as pessoas precisavam pensar que a gente estava meio inativo, meio desorganizado.

Isso não prejudicou a sua imagem, essa postura?

Colombo —
Divido a questão política com credibilidade e a popularidade. Eu sacrifiquei a popularidade. Não tenho dúvida. Mas estou convencido que eu fiz o certo. Uma coisa é o nosso policial subir o morro agora e surpreender o bandido. Outra coisa é os caras estarem prontos e esperando os caras chegar. A hora que a gente chegou a data eu pensei comigo, 'vai ser duro passar esses dias'. Era o que eu tinha de fazer. Não estou pedindo desculpas ou me lamentando. O sucesso dessa operação dependia do encaminhamento.

O Estado não conseguiria transferir esses presos antes, sem a Força Nacional?

Colombo —
O problema da Força Nacional era o seguinte, quais eram os riscos: a partir do momento que você invade, vem a reação. Então podia ter rebelião, acirramento da questão interna. E nesse momento era preciso o reforço. A gente nunca imaginou, 'nós não vamos usar, a gente não precisa'. Não. Ela só faz bem. Em nenhum momento ela seria prejudicial.

Em 2010 ocorreram 40 transferências (de presos do PGC). Esses criminosos ampliam os contatos com outras facções como PCC e CV. Não há risco?

Colombo —
Nós vamos construir RDD e através dele vamos ter o nosso sistema de isolamento aqui no Estado. Hoje o nosso maior problema é Blumenau, uma prisão muito antiga e não obedece os critérios. Florianópolis é a mais mal localizada. Desses 40 (transferidos agora), três eram ligados ao PCC. Eles têm dissidência e quem comanda é o PGC. Vai haver mais transferências.

E as escutas, o que há contra os advogados?

Colombo —
Tive o relatório e o relato de quem as ouvi. É um negócio muito constrangedor, a pessoa com nível intelectual elevado, posição na sociedade. Está comprometida totalmente (advogada Fernanda). Ela e outros. Financeira e operacional claramente. Leva o chip, traz o chip.

E a gestão da Secretaria da Justiça, que não conseguiu em dois anos construir o novo São Lucas (centro para adolescentes infratores na Grande Florianópolis) nem a Penitenciária de Imaruí (no Sul)?

Colombo —
Quando a gente assumiu nem existia secretaria da Justiça e Cidadania. Era um departamento. Essa fase de adaptação é terrível. A Penitenciária de Imaruí, acho que você está acompanhando, a loucura que é... O São Lucas o projeto era original era totalmente incompatível, o custo da área construída para um detento era mais caro que um apartamento de dois quartos no Centro de Florianópolis. Era necessário um ajuste.

Algumas crises na segurança pública aconteceram no seu governo. Que medidas tomar para evitar isso?

Colombo —
Os índices mostram, melhor que os discursos, que caiu a criminalidade . O caso Monteiro (ex-diretor da Deic afastado por irregularidades em diárias) eu lamentei muito. Mas precisava ser feito. Na minha avaliação coloquei só técnicos, não tem nenhum tipo de interferência. Estou seguro que estamos no caminho certo. Existe um problema operacional. Está se aposentando muita gente, saiu muita gente. A segurança pública, vão olhar os resultados. Não estou dizendo que está tudo resolvido, mas não há crise de desempenho, de resultado.

Afinal, o governo sabe os motivos dos atentados?

Colombo —
Estamos trabalhando para isso. É um conjunto de fatores. Apertamos bastante, no morro do Horácio e outros, a prisão da advogada (Fernanda Fleck), eles não esperavam. Ela é um arquivo vivo. O episódio de Joinville também foi ponto crítico.

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