Entrevista | 05/02/2013 16h44min
Com 30 livros publicados e mais de 78 mil atendimentos psicoterápicos a adolescentes e suas famílias, o psiquiatra Içami Tiba é referência na área educacional no país. Entre suas principais obras estão Quem ama, educa!, de 2007, e Pais e educadores de alta performance, de 2011.
Confira a entrevista em vídeo com Içami Tiba
Em conversa com o Diário Catarinense, o profissional paulista que aborda a disciplina e o relacionamento entre jovens e educadores, reforçou a importância da cobrança de pais e professores no processo educacional. Confira a entrevista com o psiquiatra, que chegou a Florianópolis ontem, para participar da Jornada Pedagógica, promovida pelo Sindicato das Escolas Particulares do Estado (Sinepe-SC).
Içami Tiba - Os primeiros professores nem sabiam que sabiam, eles apenas foram vistos e imitados. Eles perceberam, por exemplo, que pegar a água no rio com a mão os deixava menos vulneráveis do que se abaixar para tomar água direto do rio e os outros os copiaram. Os professores têm que aprender, por experiência ou por escola, para pouparem os alunos de terem que descobrir tudo por si mesmos. O professor tem que aprender, organizar o que aprendeu, as aplicações disso, e comunicar, explicar para o que serve aquilo. O professor é aquele que lê o que Sócrates (o filósofo) disse e explica como isso pode ser explicado hoje. Ele vai ensinar aprendendo.
DC - Como o senhor enxerga as escolas hoje?
Tiba - As aulas estão erradas. O professor fornece as respostas sem as perguntas terem sido feitas e isso não faz sentido, está na contramão do aprendizado. Tem professor que não tem noção da importância que têm, das tarefas a serem cumpridas. No Brasil, se perpetua a ideia de que se deve trabalhar o suficiente para não ser mandado embora e os patrões pagam o suficiente para empregado não pedir as contas. Se trabalha por suficiência e não por competência. Precisa-se de um compromisso com a educação em todas as esferas. Tem-se um acúmulo de maus costumes que seguem até que os crimes acontecem. É um absurdo pensar que os pais ficam contentes com um filho aprovado com a nota cinco se ele tem competência para tirar oito. E ainda existe a reavaliação e se proíbe a repetência... o filho não tem porque se comprometer como estudante. Hoje, a educação só serve para atrair a atenção na eleição. Temos um modelo de educação furado.
DC - É possível reverter isso?
Tiba - Sem dúvida. Temos que colocar foco e medir a competência que temos para poder desenvolver e mostrar algo. A nossa mente é maravilhosa, consegue usufruir o que vai acontecer, então, as crianças, para aprender, tem que saber para o que serve o que estão aprendendo e hoje as escolas dão só respostas, como se fosse um dicionário, sem as crianças saberem para que serve, são obrigados a decorar e isso não é aprendizado. Acredito que temos chance, sim, desde que saibamos localizar melhor e estimular o aprendizado para que tenhamos autoridade para poder cobrar.
DC - Quando se começou com esse modelo atual?
Tiba - Teoricamente, não éramos assim. Os pais eram exigentes, os filhos obedeciam. Houve uma mudança e esses pais que hoje tem mais irmãos do que filhos, por amor, deram o que não tiveram: liberdade e prazer. Além disso, foram pais e mães capacitados para trabalhar e não para serem pais. Educacionalmente está errado. Se a criança só faz o que quer, ela não faz o dever.
DC - Qual seria a família ideal, na sua visão?
Tiba - O aluno que chuta a canela do professor, antes, já bateu nos pais. É um padrão de comportamento sem respeito, daquele jovem que vai pular o muro para entrar sem pagar na festa, é um mecanismo mundial. Ninguém ensina os pais a serem pais. A escola tem que preparar os pais a formarem cidadãos. Os pais e a escola são complementares. Na escola estão os parceiros para a escuridão educacional dos pais. Os pais devem dizer que os filhos têm de estudar senão, vão aguentar as consequências. E o aluno precisa participar ativamente da construção do seu conhecimento. Conhecimento é domínio que a pessoa tem e ninguém toma jamais.
DC - Como os alunos podem participar da construção desse conhecimento?
Tiba - Os alunos tem que ser estimulados. No final de cada aula, se o professor explicasse para os alunos para que serve aquela aula, que problemas os alunos vão ter se não souberem daquilo, que o acidente aconteceu e por falta daquele negócio, sofreram todos. Começa a ilustrar para que serve. O professor tem que sair da sua comodidade de levar matéria que aprendeu há 20 anos e ficar repetindo.
DC - Qual seria a lição principal que o senhor deixaria para os professores e pais?
Tiba - Cobrança de responsabilidade. Temos os maus costumes que ainda não são crimes, enquanto não estoura um acidente. Atrás de qualquer problema muito grande, ao se rastrearem as causas, se deságua naquela pessoa de quem era competência fazer bem feito, terminar e entregar pronto. Ele estava cansado, achou que não iria ser cobrado, ganha mal para isso, justificativas. O que importa é que não terminou aquilo a que se comprometia. Não pode. O país quer ir para frente, tem que honrar seus compromissos, um cobrar e outro pagar. O professor tem que cobrar do aluno. Só cobrado que a gente fica bom e só se deixa de se desenvolver, quando se deixa de cobrar.
O que: Jornada Pedagógica 2013, Novos paradigmas educacionais do século 21 Realização: Sinepe-SC
Para quem: professores, gestores e especialistas da área da educação
Onde e quando: dia 6, quarta-feira, em Lages e dia 7, quinta-feira, em Criciúma
Inscrição e programação no site do Sinepe
Içami Tiba, psiquiatra de São Paulo, é referência na área educacional
Foto:
Ronald Mendes
/
Agencia RBS
Grupo RBS Dúvidas Frequentes | Fale Conosco | Anuncie | Trabalhe no Grupo RBS - © 2012 clicRBS.com.br Todos os direitos reservados.