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Educação Básica  | 24/12/2012 11h50min

Educadores têm papel-chave no sistema educacional da Finlândia

País nórdico não atrai a atenção do mundo só por apresentar melhores resultados, mas por desprezar políticas colocadas em prática em outros países

Marcelo Gonzatto  |  marcelo.gonzatto@zerohora.com.br

Um país pequeno, com metade da população do Rio Grande do Sul, ostenta um dos melhores sistemas educacionais do mundo. Na Finlândia, estuda-se menos horas do que no Brasil, o ensino enfatiza a arte e a criatividade, não há avaliação externa das escolas e a ideia de premiar professores por desempenho é considerada nociva.

Recentemente, o modelo nórdico foi eleito o melhor em um ranking no qual o Brasil ficou na 39ª posição e à frente apenas da Indonésia. Mas o paradoxo finlandês começou a chamar atenção quando ficou entre os líderes da primeira edição do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), que mede o conhecimento de alunos desde 2000. A partir daí, o país europeu é o mais bem colocado em rankings educacionais junto a asiáticos como a Coreia do Sul.

Boa parte dos jovens coreanos, porém, estuda mais de 10 horas por dia. Os finlandeses, como ZH testemunhou ao circular por escolas daquele país, têm uma das menores cargas letivas do planeta, aprendem em colégios públicos gratuitos e descontraídos – onde tratam os professores pelo primeiro nome – e têm tempo generoso para lições de arte e trabalhos manuais. Instituições da capital Helsinque, como a Viikki ou a Helsingin Normaalilyseo, mais parecem galerias de arte onde se expõem obras produzidas por alunos.

Os professores colam fotos sorridentes nas portas de suas salas, e sentam ao lado dos alunos para a refeição diária a que todos têm direito. As aulas se baseiam em resoluções de problemas e na interatividade, como nas lições de inglês do professor Riku Mäkelä.

– Formem duplas. Um lê o texto que está no quadro, memoriza e dita para o colega escrever – orienta.

Mäkelä, que tem doutorado, conta com liberdade para planejar as aulas e fazer adaptações no currículo, podendo alterar a ordem ou a ênfase de conteúdos. Países orientados pelo modelo americano investem em um perfil mais próximo ao mundo dos negócios, com controle sobre a gestão escolar e o currículo, aposta em avaliações padronizadas de alunos, classificação de escolas e oferta de prêmios ou sanções aos professores. Os finlandeses seguem a crença de que não se cria um país bem-educado à força.

– Não desistimos das pessoas. Damos tempo aos professores para trabalharem e temos um bom sistema de apoio aos alunos – afirma o conselheiro do Ministério da Educação da Finlândia Aki Tornberg.

O pilar que sustenta o aparente milagre finlandês é a qualidade dos educadores. Os melhores alunos se candidatam aos cursos de formação igualmente públicos e gratuitos, onde devem alcançar o nível de mestrado. Com essas credenciais, não são submetidos a qualquer inspeção externa – embora sejam feitos testes por amostragem para monitorar a qualidade do sistema em geral. Alunos recebem atenção individualizada ao primeiro sinal de dificuldade.

A repetência caiu de 50% nos anos 1970 para menos de 2%. Na Finlândia, o investimento por aluno é 30% inferior ao dos americanos, por exemplo. Uma questão em aberto é o quanto do surpreendente modelo nórdico pode ser adaptado a outras culturas e dimensões nacionais. Essa pergunta, porém, cabe ao resto do mundo responder.

*O repórter viajou a convite da Embaixada da Finlândia no Brasil

Helsinque, Finlândia
Marcelo Gonzatto / Agencia RBS

Na sala de aula das escolas finlandesas, todo mundo participa. As lições são interativas e se baseiam na resolução de problemas
Foto:  Marcelo Gonzatto  /  Agencia RBS


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