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A Educação Precisa de Respostas  | 16/12/2012 21h34min

Volney Junior adquiriu bolsa do ProUni, mas não consegue pagar as horas de voo exigidas pela graduação

Jovem de 18 anos cursa Ciências Aeronáuticas na PUCRS, graças a uma bolsa integral do programa

Rossana Silva  |  rossana.silva@zerohora.com.br

— Ele voou e eu me enterrei.

A tristeza do aposentado Volney da Silva Ferraz quase encobre o orgulho de ver nos céus o filho de 18 anos que batizou com o seu próprio nome.

Ex-caminhoneiro e vendedor, o pai sempre acalentou o sonho que o único herdeiro homem um dia fosse jogador de futebol. Mas o menino recusava as bolas de futebol a cada aniversário, a cada loja de presentes que entrava. Só queria saber de miniaturas de aviões — e alimentando a desconfiança do pai de que não teria um craque dos gramados na família.

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Aos nove anos, o garoto entrou pela primeira vez em uma cabine, num voo da Vasp entre Porto Alegre e Goiânia, para onde viajou com a mãe a fim de visitar antigos amigos do tempo em que viveram na cidade. Descobriu sua vocação na vida. Enquanto o pai cruzava o país dentro de um caminhão, faria o mesmo, mas em uma aeronave.

— Quando eu era criança e ia no Aeroporto Salgado Filho, ficava olhando os aviões e sentia a necessidade de saber como pilotar aquela máquina. A minha vida é virar piloto, conhecer o Brasil e o mundo, falar várias línguas e conhecer várias culturas — projeta o garoto.

De origem humilde, a família sabia que seria difícil realizar o sonho do menino de se formar piloto, o que considerava um privilégio para milionários. Tudo mudou quando Volney da Silva Ferraz Junior foi sorteado para estudar no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, desde a 1ª série do Ensino Fundamental.

Volney Filho aproveitou a oportunidade. Em 2007, surpreendeu a professora de francês pela facilidade com o idioma a ponto de conseguir uma bolsa de estudos no curso de línguas da universidade. Hoje, carrega o R para falar o nome da empresa onde sonha trabalhar:

— Air France.

As políticas do governo federal para permitir o acesso à universidade de alunos de baixa renda fizeram o garoto imaginar que a França estava mais perto. Aprovado no Vestibular para Ciências Aeronáuticas na PUCRS, conseguiu pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) a bolsa integral para o curso que nenhum aluno se forma sem pagar 73,2 mil.

A surpresa da família aconteceu ao tomar conhecimento dos documentos exigidos para a matrícula na universidade. As aulas de voo, realizadas obrigatoriamente fora da instituição, não eram cobertas pelo ProUni. E Volney precisava ter pelo menos 15 horas delas antes mesmo de que as aulas começassem. Cada hora custava R$ 250, mas o preço vai aumentando durante o curso, de acordo com a complexidade da aeronave que o futuro piloto precisa praticar.

O pai recebe aposentadoria de R$ 1.250,00. Para realizar o sonho do garoto, recorreu a tios, avós, padrinhos e amigos. Pediram empréstimos, empenharam a palavra para o que o garoto, então com 17 anos e que nunca havia dirigido um carro, tivesse aulas de aviação no Aeroclube de Eldorado do Sul.

A cada momento, descobriam uma formalidade nova que lhes custava, invariavelmente, algumas centenas de reais. Exame médico, prova teórica da Agência Nacional de Avição Civil (Anac), caderneta individual voo... Recibos que Volney, o pai, guarda em uma pastinha para a qual pensa em desistir toda a vez que lança um olhar. A PUCRS estima em R$ 51 mil o valor que o aluno deve investir para a formação prática em voos de avião realizados em aeroclubes.

— Não é possível que só filho de rico pode ser formar piloto — inconforma-se.

Para passar para o próximo semestre, o terceiro, Volney calcula precisar de mais cerca de 40 horas de voo. Em reais: R$ 10 mil. Apenas na PUCRS, o curso de Ciências Aeronáuticas tem 12 alunos bolsistas do ProUni. O coordenador da gradução, Hildebrando Hoffmann, afirma que a instituição abordou o tema com o Conselho Nacional de Educação e com a Anac, que tem disponibilizado bolsas para fomentar a formação prática de voo em avião.

Mais recentemente, a Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República também começou a estudar uma forma de fomentar a formação prática de pilotos. Procurado por ZH, o Ministério da Educação afirmou que "irá chamar todas as instituições de ensino superior que participam do Prouni ou do Fies que ofertam o curso de Ciências Aeronáuticas, a fim de balizar uma solução que garanta aos estudantes a conclusão de sua formação, na totalidade da grade curricular e pré-requisitos externos do curso".

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Jean Schwarz / Agencia RBS


Foto:  Jean Schwarz  /  Agencia RBS


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