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 | 08/12/2012 16h05min

Encontros pré-festa marcam começo do consumo de bebida alcoólica por adolescentes

Zero Hora circulou em pontos da Capital para constatar os hábitos da geração nascida após 1995

Atualizada às 20h52min Letícia Costa*  |  leticia.costa@zerohora.com.br

Cerveja, uísque e vodca com refrigerante, suco de fruta ou energético. O rol de bebidas alcoólicas faz parte de um cardápio conhecido dos adolescentes. O gosto não importa e normalmente não atrai, mas a sensação de que a timidez foi embora e de que tudo se tornou mais engraçado garante o sacrifício de ingerir algo repudiado pelo próprio paladar.

Um passeio noturno pela Capital em uma sexta-feira à noite torna-se revelador quanto aos hábitos de jovens em busca de diversão. Por três madrugadas, Zero Hora percorreu alguns pontos da cidade para constatar os costumes dessa geração com menos de 18 anos.

Animados pelo efeito dos drinques, adolescentes indicam as opções para burlar leis que impedem a venda de bebida para quem ainda não chegou à almejada maior idade. A missão é fácil de ser cumprida e, às vezes, conta com a ajuda de pais, de um amigo nascido antes de 1995 e até mesmo de taxistas. Com exceção de algumas casas de festa, o acesso à bebida em bares e postos de combustíveis é praticamente livre. Para garantir o consumo dentro da balada, onde pulseiras indicam a permissão ou não da compra, alguns se arriscam e falsificam carteiras de identidade.

"Esquentas" ou "concentras" fazem parte do vocabulário festivo. É na junção com os amigos que a noite começa e, dependendo da empolgação, termina, sem nem mesmo entrar nas festas. Na maioria dos casos, a preparação ocorre nas casas dos amigos, onde residem pais "mais liberais". A segunda opção, bastante vista em Porto Alegre, é se concentrar em frente às danceterias e por ali ficar. Foi o que fez o grupo de Gustavo, 17 anos, que usava o chão de pedra do estacionamento de um shopping como mesa, e o meio-fio como cadeira para tomar cachaça. Ele começou a beber há dois anos e afirma que quando a festa não tem bebida, fica por menos tempo no local.

É quase consenso entre adolescentes de que algum porre os ensinou o limite da bebida. As gurias não precisam de muito para ficar mais soltas, já a maioria dos guris só para quando o corpo não suporta mais.

Pedro, 14 anos, conta que a bebedeira foi, de certa forma, importante:

— Acredito que o porre tenha sido necessário para que eu pudesse conhecer os meus limites.

O exagero é visto como algo normal nas primeiras experiências, quase um aprendizado. Praticando, e como disse Felipe Braun, 20 anos, vomitando muito, é que se conhece a hora de parar.

As amigas Roberta, 17 anos, e Vitória, 15 anos, comentam que colegas têm levado a bebida alcoólica para além do ambiente das festas. Durante a semana, em plena luz do dia, adolescentes matam aula para consumir cerveja.

— Tem gente que está tão dependente que se reúne para beber à tarde. Com o decorrer do tempo começa a virar um vício — acredita Vitória.

Um tabu ainda existente

Fingir não saber de nada ou liberar e ajudar os filhos a terem acesso às bebidas alcoólicas. Qual a melhor opção? Divididos, pais apresentam características diferentes, normalmente atreladas à própria criação, de décadas atrás. A maioria, na avaliação dos filhos, prefere simular que não sabe de nada, mas na verdade tem conhecimento de que os herdeiros já experimentaram o gosto do álcool.

Do outro lado, estão os liberais, que abrem a casa e compram as bebidas para os famosos esquentas da turma dos filhos. Mas, como em todas as situações, existe o meio termo. Formado por pais que sabem que os filhos bebem, mas não oferecem o lar para a confraternização com toques alcoólicos, esse grupo tem um limite: ver o filho passando mal de tão bêbado.

— Gostaria que não bebessem, mas o mundo é esse. Se não trouxermos o filho para o nosso lado é pior, porque fazem na rua, sem nosso consentimento — diz a mãe de Vitória, 15 anos.

Com um filho mais velho, ela acredita que o método usado na criação tem dado certo, pois nunca viu nenhum dos herdeiros chegar da rua em condições preocupantes. No momento em que vir, garante que irá proibir. Enquanto isso, até oferece goles de caipirinha para a filha em ocasiões especiais.

Entrevista: Alberto Scofano Mainieri, hebiatra (especialista em adolescentes) e professor da Faculdade de Medicina da UFRGS

Ao apontar as mudanças características deste período de transformação do corpo e dos conceitos pessoais, o médico especializado em atendimento de adolescentes, Alberto Scofano Mainieri, explica o porquê da necessidade que eles têm de ingerir álcool. Confira alguns trechos:

Zero Hora — Na maioria das vezes, o gosto da bebida alcoólica não atrai os adolescentes. O que os leva a beber mesmo assim?

Alberto Scofano Mainieri — A necessidade de fazer coisas que adultos fazem e a necessidade de ser aceito pelo grupo, de superar os medos e de quebrar as regras. Também tem a influência da mídia, da família.

ZH — A partir de que ponto a relação com a bebida pode ser analisada como dependência?

Mainieri — Toda vez que um jovem está utilizando o álcool como mecanismo de superação começa um grande risco. Quando está usando mais como uma forma social, na diversão, o risco é um pouco menor, mas pode acabar gostando e mantendo o hábito.

ZH — Médicos apontam que a ingestão de álcool na adolescência (quando o cérebro ainda está em período de formação) mata neurônios responsáveis pela memória. Na sua opinião, qual o principal perigo do consumo em excesso nesta fase?

Mainieri — Do ponto de vista neurológico e intelectual, é a questão da formação do cérebro. A parte frontal, que cuida do juízo crítico, só chega a sua plenitude em torno dos 16 anos. Se a pessoa inicia o consumo de bebida alcoólica antes dos 16 anos, sem dúvida estará causando algum grau variável de lesão, de comprometimento da sua capacidade intelectual.

*Colaborou Bruna Scirea

ZERO HORA
Bruno Alencastro / Agencia RBS

Em frente a festas é comum ver adolescentes tomando vodca, cerveja e até mesmo cachaça
Foto:  Bruno Alencastro  /  Agencia RBS


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