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Ensino Superior  | 06/12/2012 07h03min

Cursos superiores disponíveis na internet se beneficiam do crowdsourcing para renovar métodos de ensino

Conteúdos são aplicados com o auxílio da colaboração em massa, algo possível graças ao elevado número de alunos inscritos para a educação pela web

Tamar Lewin


Ensinar a matéria de Introdução à Sociologia é algo quase instintivo para Mitchell Duneier, professor da Universidade de Princeton: ele já a ministrou 30 vezes, além de ter coescrito um livro didático sobre o assunto que já está na oitava edição.

No último semestre, porém, ao transformar a disciplina em um curso gratuito disponibilizado na Internet, teve que lidar com algumas questões bastante novas: para onde deveria olhar enquanto a câmera registrava as aulas? Como os 40 mil estudantes que se inscreveram via Internet poderiam compartilhar as suas ideias? E como saber que eles estavam aprendendo?

De várias formas, o arco da evolução de Duneier, de professor de sala de aula até instrutor on-line de dezenas de milhares de alunos, reflete um movimento maior, uma mudança que tem potencial de transformar o ensino superior. Um punhado de empresas já está oferecendo cursos universitários de elite – antes disponíveis apenas para um grupo seleto, no campus, a um preço elevado – gratuitamente, para qualquer pessoa conectada à Internet.

Além disso, esses enormes cursos livres on-line, também conhecidos como MOOCs (sigla em inglês), beneficiam-se do alto número de inscrições que recebem para ensinar de novas maneiras, aplicando a tecnologia de colaboração em massa, ou "crowdsourcing", em fóruns de discussão e avaliação, possibilitando que os professores façam as aulas on-line e reservem os horários no campus para a interação com os alunos.

É provável que a propagação dos MOOCs tenha consequências secundárias. As universidades de nível inferior, que já enfrentam uma resistência dos alunos quanto à cobrança de anuidades altas, podem enfrentar problemas para convencer os estudantes de que os cursos valem o quanto custam. E alguns especialistas expressam reservas quanto a como a aprendizagem on-line pode ser avaliada, alertando para a possibilidade de trapaças por parte dos alunos.

Os MOOCs chamaram a atenção pela primeira vez no ano passado, quando Sebastian Thrun, professor de Stanford, ofereceu um curso gratuito de Inteligência Artificial, atraindo 160 mil alunos de 190 países. A publicidade que resultou de tal burburinho levou universidades renomadas de todo o país a começarem a tornar o ensino superior acessível para todos – com a esperança de que talvez, por fim, possam ganhar algum dinheiro por meio disso.

A expansão tem sido vertiginosa. Milhões de estudantes estão agora inscritos em centenas de cursos on-line, incluindo opções oferecidas pela Udacity, empresa criada por Thrun; o edX, um empreendimento conjunto de Harvard e do MIT; e o Coursera, uma empresa derivada de Stanford que oferece o curso de Duneier e outros 200.

Públicos maiores

As principais universidades que oferecem cursos como o de Duneier só têm a ganhar, tanto em prestígio quanto em capacidade de refinar a pedagogia que praticam; poucas parecem preocupadas com a possibilidade do apelo de sua marca se diluir. Os riscos são maiores para as universidades menores, que podem ser tentadas a não oferecer alguns de seus próprios cursos introdutórios em sala de aula – e a abrir mão de alguns professores que os ministram – e substitui-los por aulas on-line menos dispendiosas oferecidas por professores famosos.

— Chegamos a um momento crítico em que todas as universidades importantes pensam no que fazer na Internet — disse Peter McPherson, presidente da Associação de Universidades Públicas e Universidades Criadas por Doações Federais de Terras. — De certa forma, a coisa mais importante desses MOOCs oferecidos pelas melhores universidades é que eles proporcionam uma cobertura tamanha que as outras universidades não precisam se desculpar por não disponibilizarem cursos on-line.

Na corrida para não ficarem para trás, as universidades de elite estão fazendo fila para unir forças com um fornecedor de MOOCs. O Coursera, que começou com Princeton, Universidade da Pensilvânia, Stanford e Universidade de Michigan em abril, lidera o campo, com 33 universidades parceiras. Mas o edX também está se expandindo rapidamente – a Universidade da Califórnia, em Berkeley, passou a integrá-lo, e a Universidade do Texas anunciou que irá utilizar cursos do edX para créditos. Além disso, alunos que seguem cursos no Udacity podem obter créditos através do Campus Global da Universidade Estadual do Colorado.

A maioria dos fornecedores de MOOCs está fazendo planos para oferecer créditos – e cobrar taxas por certificados e exames supervisionados.

Os professores se deleitam com o fato de alcançarem mais alunos em um curso do que poderiam alcançar em toda uma vida dedicada à docência.

Al Filreis, professor de poesia, conta a história de um grego de 81 anos de idade que, vivendo isolado, recebeu 180 respostas ao seu ensaio sobre Emily Dickinson. Existem histórias de alunos idosos que fazem lição de casa juntos em casas de repouso, e de membros da equipe do Capitólio que seguem um curso de política de saúde.

O velho oeste

Duneier se emociona. — Dentro de três semanas, eu tive mais retorno sobre minhas ideias em relação à Sociologia do que recebi em toda a minha carreira como docente — disse ele. — Descobri que não existe nenhum tema delicado a ponto de não poder ser discutido educadamente em uma comunidade internacional.

O fórum de discussão on-line gerou muitas trocas internacionais. Logo após Duneier falar sobre as normas sociais, usando como exemplo a falta de banheiros públicos para os vendedores de rua – incluindo um vídeo de vendedores de Nova York que falam sobre o problema – estudantes de Hong Kong, Índia, Rússia e outros países comentaram sobre a situação de suas próprias cidades.

Enquanto isso, em todo o mundo, grupos de estudo foram se formando. Em Katmandu, no Nepal, Dipendra K.C., que tem 22 anos, conectou-se com quatro colegas mais velhos, com os quais se reuniu pessoalmente para se preparar para as provas parciais e finais. — Assistíamos as aulas, discutíamos no fórum e assinalávamos os temas que o professor destacava para tentar prever as perguntas dos exames — disse ele.

Para criar o clima de um seminário de Princeton, Duneier usou uma sala de bate-papo transmitido em vídeo em que seis ou oito alunos – Dipendra foi um deles; outros vieram da Sibéria ou do Irã, bem como de Princeton – discutiam as leituras; outros alunos, ao longo da semana, podiam reproduzir o vídeo e comentá-lo.

Para Doug MacKenzie, de 34 anos, bombeiro da Filadélfia que participou do seminário, os bate-papos em vídeo com colegas distantes foram o ponto alto do curso.

— É legal demais poder falar com alguém na Sibéria — disse ele. — Esse curso abriu um pouco meus olhos quanto à maneira como meus pais me criaram e o motivo pelo qual eu me comporto de uma determinada maneira.

O fato de o curso ser gratuito foi crucial. "Eu sempre quis cursar o ensino superior, mas o problema é que eu não tenho dinheiro para isso", disse MacKenzie, que fez quatro MOOCs.

A maioria dos MOOCs oferece as aulas em segmentos curtos, com perguntas embutidas em forma de questionário para manter o usuário interessado, e fornecem respostas instantâneas. Mas o método ainda é experimental – especialmente na área de humanas.

— Isso ainda é bem novo. Ainda é bem velho oeste — Duneier disse.

Tal como acontece com outros MOOCs, menos de cinco por cento das pessoas que se inscreveram no curso de sociologia o concluíram: 2.200 exames parciais e 1.283 exames finais foram entregues. Alguns alunos assistiram a todas as palestras e leram todos os textos, mas não fizeram os exames. Não havia nenhuma razão prática para as provas, pois Princeton – ao contrário do Udacity, do edX ou de outras universidades que trabalham com o Coursera – não fornece certificados de conclusão.

— Eu não me sentiria confortável dando qualquer tipo de certificado antes de sabermos mais sobre o funcionamento desse método — disse Duneier.

Christopher L. Eisgruber, diretor de Princeton, disse que, embora os quatro primeiros MOOCs de sua universidade estejam indo bem, ele não tem planos de oferecer créditos.

— Nosso objetivo principal ao fazer isso é encontrar maneiras de melhorar a educação em nosso próprio campus, de transformar a experiência passiva de alunos que tomam notas enquanto o professor fala, de oferecer algumas aulas a que eles possam assistir e de liberar o tempo em sala de aula para atividades mais interativas — disse ele. — É fantástico que tenhamos como disponibilizar informações on-line que as pessoas podem compartilhar, mas nós não queremos enganá-las fazendo com que pensem que se trata do mesmo curso oferecido em Princeton.

THE NEW YORK TIMES NEWS SERVICE
Ozier Muhammad / NYTNS

Mitchell Duneier, professor da Universidade de Princeton, virou instrutor de dezenas de milhares de alunos através de um curso gratuito na web
Foto:  Ozier Muhammad  /  NYTNS


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