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Entrevista  | 29/11/2012 21h11min

"A sustentabilidade é uma filosofia completa", afirma Sarah Elizabeth Ippel, criadora da Academy for Global Citizenship

Palestrante do TEDx Unisinos estimula a consciência ecológica e a cidadania de estudantes americanos

Diogo Figueiredo - Especial

Há quase cinco anos Sarah Elizabeth Ippel é protagonista de uma mudança inovadora em Chicago, nos Estados Unidos. Nascida das cinzas de uma fábrica de equipamentos odontológicos, a Academy for Global Citizenship foge de muitas das práticas comuns nas escolas norte-americanas. Com um ensino que busca estimular a autonomia e a criatividade dos estudantes, a instituição de ensino engaja famílias para despertar a consciência ecológica e a cidadania. Alimentos orgânicos cultivados no próprio colégio, painéis solares e técnicas de compostagem fazem parte do cotidiano de seus 300 alunos, envolvidos constantemente em atividades práticas.

>> Engajamento e emoção no TEDx Unisinos

Logo depois de sua palestra no TEDx Unisinos na tarde de quinta-feira, 29, Sarah falou a Zero Hora sobre os principais pontos de seu projeto. Confira trechos da entrevista a seguir.

ZH — Como você conseguiu unir forças para criar a Academy for Global Citizenship?

Sarah Ippel — As minhas viagens me inspiraram a criar, a reimaginar a educação, e passei a transmitir esse ânimo para todo mundo que encontrava em Chicago. No fim, nós conseguimos reunir uma equipe incrível de pessoas que acreditavam num futuro melhor para nossas crianças. Era importante encontrar pessoas apaixonadas e de alguma maneira as pessoas queriam muito estar envolvidas.

ZH — Qual a diferença entre essa escola e a que tu frequentou quando criança?

Sarah — É muito diferente. Quando eu fui para a escola nós tínhamos carteiras, fileiras, livros didáticos e o professor era muito mais um instrutor, que direcionava os estudantes a tarefas específicas. Na nossa escola o professor é um facilitador que permita que as crianças sejam as líderes de sua educação, aprendendo em projetos práticos. Durantes seis semanas eles trabalham um tema de relevância internacional, que depois é adaptado em escalas e padrões adequados.

ZH — Como vocês conseguem tornar a sua comunidade mais engajada?

Sarah — Nós desenvolvemos uma estratégia compreensiva para educar e comunicar as famílias e os membros de nossa comunidade. Considerando os desafios e a realidade de nosso bairro, é muito importante ter esse apoio, já que no fim eles aprendem com as crianças a como integrar e espalhar essa filosofia e esses princípios em seus lares.

ZH — Você acredita que a educação da sua escola faz com que os estudantes consigam lidar de uma maneira diferente com a atual crise?

Sarah — Nossos estudantes não apenas têm as habilidades acadêmicas para competir, mas desenvolvem a habilidade de solucionar problemas, de inovar, de pensar em soluções criativas. Eles têm essa mentalidade desde cedo. Eles têm criado ONGs e estão olhando para os desafios de nossa comunidade e do nosso mundo para a partir disso criar soluções. Por exemplo, ano passado os alunos do 4º ano viram os desafios da pobreza em nossa comunidade em que muitas pessoas não tinham acesso à alimentação e vestuário. Eles se preocuparam, se engajaram e desenvolveram uma iniciativa. Vieram até mim e apresentaram uma estratégia comunicacional com objetivos e lançaram um projeto chamado "Loja Grátis" em que as pessoas poderiam "comprar" comida e roupas de graça. Foi muito interessante ver que eles criaram soluções para uma situação desafiadora.

ZH — Como vocês criaram o modelo de escola verde?

Sarah — A sustentabilidade é uma filosofia completa. Não apenas em termos de ensino e aprendizagem, mas também em termos de operação prática. Ela guia nossas decisões, é um ponto central da nossa missão, é parte do que pensamos. O trabalho que temos com alimentação, com a energia sustentável, com o "lixo zero" e compostagem, com a reciclagem e com outras iniciativas pode gerar oportunidade de aprendizado também. Nós estruturamos nosso trabalho e as unidades de ensino de maneira que eles possam compreender seu papel no mundo enquanto cidadãos do mundo.

ZH — Como vocês conseguiram convencer as famílias a aceitar a alimentação orgânica, considerando a cultura americana?

Sarah — É difícil, é preciso de uma abordagem que apoie o consumo desse tipo de alimento. Muitas dessas comidas não são familiares para as crianças, muitas vezes elas nunca viram esses vegetais. Elas querem pizza e batata frita. É muito importante oferecer educação nutricional para os estudantes e para os pais, para que eles possam reforçar isso em casa. Mas também é importante que eles cultivem essa comida, que eles plantem as sementes, que tenham esses alimentos nas praças, no jardim da escola. Também é importante que eles viagem até as fazendas que cultivam esse tipo de alimento, que conheçam os produtores, que participem de atividades que façam com que eles tenham uma outra ideia do que é a alimentação. Quando eles começam a ter escolhas diferentes, pedindo refeições saudáveis em casa, os pais ficam muito felizes.

ZH — Como o contato com a natureza muda a relação dos alunos com o ambiente?

Sarah — Nossa filosofia é chamada "Educação baseada no local”. Isso significa que para nossos alunos desenvolverem empatia pelo mundo eles devem antes de tudo conhecer sua própria comunidade. Quando eles são jovens, com cerca de cinco anos, nós focamos o ensino na natureza que nos cerca. Então antes de falarmos em espécies em risco de extinção ou em desafios globais nós fazemoscom que eles conheçam nossas próprias árvores e insetos, e assim nos apaixonamos pela nossa natureza. Depois que eles desenvolvem esse gosto eles passam a conhecer naturezas diversas, e é por causa desse tipo de ação que eu acredito que eles se importem profundamente com o mundo.

ZH — Você é otimista em relação ao futuro dessas crianças?

Sarah — Eu já estou inspirado por eles. Os estudantes que tem cerca de 10 anos já estão se tornando líderes incríveis, já me desafiam e propõem questões que me deixam incrivelmente otimista.

Bruno Alencastro / Agência RBS

Sarah Ippel revolucionou a educação em Chicago com escola criada em 2008
Foto:  Bruno Alencastro  /  Agência RBS


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