Educação Infantil | 29/11/2012 09h05min
Matricular um bebê de zero a três anos numa creche de Alvorada é tão difícil quanto disputar um vestibular: nesta faixa de idade, mais de 20 crianças concorrem a uma vaga nos berçários públicos. Na faixa dos quatro aos cinco anos, uma criança consegue a matrícula, enquanto sete ficam de fora da pré-escola.
Essas estatísticas fazem parte dos Dados Relativos à Educação Infantil no Estado do
Rio Grande do Sul em 2011, divulgados nesta semana pelo Tribunal de Contas do Estado(TCE-RS).
● Prioridade era o fundamental
Alvorada ocupa a penúltima posição no ranking de 496 cidades gaúchas. Pelo levantamento do TCE, cerca de 16 mil crianças estão sem escola. Como faltam quatro anos para que a educação básica, oferecida aos estudantes com idades entre quatro e
17 anos, seja obrigatória em todo o país, vai ser preciso trabalhar para garantir aos pequenos o acesso à pré-escola.
De acordo com a secretária de Educação de Alvorada, Janice Nunes, não há creches
públicas na cidade. O mau desempenho no ranking da educação infantil estaria ligado a
este fato e também porque a prioridade da pasta vinha sendo o ensino fundamental.
- Temos uma rede de ensino de 22 mil alunos, em 27 escolas (municipais). Temos merenda de qualidade, transporte, tudo o que os alunos precisam. Infelizmente, alguma
coisa ficou de fora - explica.
A saída de quem precisa trabalhar
Mãe de seis filhos, já criados, Sandra Helena Soares França, 48 anos, do Bairro Umbu, em Alvorada, sabe bem a falta que faz uma creche:
- Eu tinha quatro pequenos, com cinco e três anos, e mais gêmeos de dois meses. Se colocasse numa creche, ia todo o dinheiro para pagar isso. Então, os mais velhos cuidavam dos menores porque eu trabalhava fora.
Depois de um acidente no qual perdeu a visão de um dos olhos, Sandra fica em casa e cuida de Kauê e Braian, ambos de dois anos, filhos de uma amiga e de uma sobrinha, que trabalham num lixão e num galpão de reciclagem.
- Minha rua tem muitas mães que precisam trabalhar. Quando tinha a creche da Acata (uma associação de catadores), resolvia o problema. As creches mais baratas custam
R$ 180, R$ 200, ou R$ 250 por criança. Aí, fica difícil - diz Sandra.
● Opção por pessoa de confiança
Quando voltar ao trabalho, a auxiliar de cozinha Joseane Bitencourt Fernandes, 31 anos, pagará uma pessoa para cuidar dos filhos.
- Eu prefiro uma pessoa de confiança do que uma creche - diz a mãe de Greice Natiele,
12 anos, Ingrid Vitória, oito anos, Nicole Tamires, três anos, Nicholas Matheus, um ano e cinco meses, e Emilly Gabriele, dois meses.
O que o município já tem
O município oferece atendimento gratuito a crianças de cinco anos em 16 turmas (20 alunos cada). Em 2012, foram compradas cem vagas em creches particulares para bebês de zero a três anos (atendimento gratuito para as famílias). Também há o convênio com dez creches nas quais a família e a prefeitura dividem a mensalidade.
A partir do Projeto Recrear, numa parceria entre a prefeitura e entidades como associações de moradores, por exemplo, 520 crianças de quatro a cinco anos são atendidas gratuitamente. As entidades cedem o espaço e a prefeitura dá a mobília, materiais e o repasse de um valor por aluno. Mesmo assim, numa cidade em que a população é de 196.890 pessoas, mais de 16,6 mil crianças estão sem vagas em escolas.
Em 2013, pelo Pró-Infância, devem ser construídas cinco escolas de educação infantil em Alvorada (Umbu, Salomé, e jardins Aparecida e Algarve), gerando a abertura de 620 vagas para crianças de zero a cinco anos em turno integral. Os R$ 6 milhões da parte do governo federal já estão nas contas do município e a licitação está em andamento.
Números em Alvorada
Idade Crianças Matriculadas Fora da escola Meta (até 2016)
0 a 3 11.678 556 11.122 5.839
4 a 5 6.316 747 5.569 5.052
Dados Relativos à Educação Infantil no Estado do Rio Grande do Sul em 2011, TCE-RS
A situação da Capital
Porto Alegre está na 191ª posição no levantamento do TCE. Entre creches (cumpre 31,95% da meta de 50% exigida pelo Plano Nacional de Educação) e pré-escola (cumpre 67,76% da meta de 80%), ainda precisam ser abertas 15 mil vagas. O Diário Gaúcho vem acompanhando o déficit de vagas na educação infantil da Capital.
Em abril deste ano, faltavam mais de 12,4 mil vagas só nos berçários. O déficit foi
reduzido para 11,6 mil. Em agosto, a secretária de Educação, Cleci Jurach, prometeu que a demanda da préescola (faixa de quatro a cinco anos) seria zerada até o fim do ano.
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