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Educação Básica  | 29/11/2012 06h02min

Lições do campo que se aprende na escola no Oeste de SC

Escolas apostam em disciplinas que abordam agricultura e pecuária para aumentar a renda familiar dos alunos, evitar a evasão e melhorar o aprendizado

Darci Debona  |  darci.debona @diario.com.br

Na Casa Familiar Rural de Maravilha, Oeste de SC, os alunos intercalam uma semana de aulas na escola com duas semanas em casa, onde podem aplicar os conhecimentos adquiridos na propriedade. Um monitor visita os alunos em suas casas para orientá-los. Dagonir Weber, de 17 anos, mora com os pais, que trabalham como agregados numa propriedade de seis hectares, em São Miguel da Boa Vista.

A família trabalha com leite e produz dois mil litros de leite por mês. Ele escolheu a Casa Familiar Rural pois pretende seguir na propriedade.

— Quero aprender coisas novas para melhorar a produtividade — explicou.

Ele também busca outras alternativas de renda, como a produção de frango caipira.

Outro aluno de São Miguel da Boa Vista, Jeferson Rossetto, está implantando sementes de pastagem importadas dos Estados Unidos na propriedade de 25 hectares.

— Na escola, eu aprendo novas práticas de produção que posso aplicar no dia a dia — explicou.

Ele já aplicou algumas técnicas de poda de frutas, como pêssego e figo, que aprendeu na escola.

De acordo com o professor e monitor Gilmar Giehl, o ensino voltado ao campo é uma das políticas públicas que deve ser incentivada.

— É oportunidade dos jovens do campo buscarem informações e se profissionalizarem para permanecer no meio rural — explicou.

Giehl disse que, além das disciplinas tradicionais do Ensino Médio, a escola oferece disciplinas específicas como olericultura, silvicultura, agricultura sustentável, associativismo e cooperativismo.

Os alunos aprendem a fazer análise de solo e ver quais componentes faltam para melhorar a produtividade. Nas visitas às propriedades é feito um diagnóstico para ver qual medida poderia melhorar a renda.

Na propriedade de Estevão Dal Sávio, em São Miguel da Boa Vista, uma das sugestões é implantar a irrigação de pastagem, para aumentar a produção de leite.

A escola conta atualmente com seis alunos. É que ela foi reaberta neste ano, ofertando apenas o ensino médio, na Linha Consoladora, interior de Maravilha. Até 2009, ela funcionava para o ensino fundamental, na área urbana.

Aluno conseguiu aumentar a renda familiar

Alunos de 46 municípios dos três estados do Sul frequentam o Centro de Educação Profissional (Cedup) de Campo Erê, que oferece curso de Técnico em Agropecuária concomitante com o ensino médio. O curso também é oferecido numa modalidade de um ano e meio para quem já concluiu o Ensino Médio.

Cerca de 70% dos alunos moram na própria escola e vão para casa apenas nos finais de semana. Além das disciplinas tradicionais, eles aprendem a criar suínos, ovelhas, aves, a produzir frutas, fazer conservas e implantar pastagens.

De acordo com a professora assistente e técnica pedagógica Kátia Karine Moschen, o Cedup oferece formação mais voltada para a realidade da região, que é essencialmente agropecuária.

— Incentivamos que eles se tornem empreendedores em suas propriedades — explicou.

Além disso, há alunos que fazem do ensino técnico a base para uma faculdade em Ciências Rurais, como Agronomia, Veterinária, Zootecnia ou Engenharia Florestal.

Camila Frizzo, que mora em Campo Erê, quer fazer faculdade de Medicina Veterinária, por isso, escolheu o Técnico em Agropecuária. Ela aprendeu até a colocar brinco nas ovelhas, que serve para o rastreamento do rebanho.

— O curso dá uma boa base.

Diana Balbinot, de Saltinho, está em dúvida entre Medicina Veterinária e Agronomia. E curso técnico vai ajudar na decisão.

— Quero ver se é isso mesmo que eu quero — declarou.

Giovani Rissardo, de Santiago do Sul, aprendeu a fazer torresmo. Mas seu foco é a produção de leite. Ele já implantou algumas técnicas novas de manejo na propriedade de seus pais, aumentando o tempo de permanência das vacas na pastagem. O resultado é que a produção de leite, que é de 1,5 mil litros/mês, aumentou 20%.

— São 300 litros a mais por mês — contou Giovani, que conseguiu melhorar a renda da família.

Nas cidades, o ensino acontece na horta

Mal os 80 alunos das turmas de correção de fluxo da EEB. Eloísa Maria Prazeres de Faria, de Biguaçu, na Grande Florianópolis, se veem diante dos canteiros, já se oferecem para regar as verduras e cuidar da colheita. Diante de tanta dedicação, as folhas crescem bem verdes e os professores se enchem de orgulho. Os docentes responsáveis pelas turmas — voltadas para alunos que apresentavam distorção idade-série — explicam que a ideia transformou o fundo da escola, que eram cheio de entulhos e pouco utilizado.

A professora de português Stela Mari Ribeiro explica que os alunos ficam animados em sair da sala convencional e, sem perceber, estudam várias disciplinas. Não é só ciências que eles aprendem ao plantar beterraba, salsinha, couve. Até conteúdos de português são reforçados em relatórios sobre as plantas.

A iniciativa contribuiu, inclusive, para prestar mais atenção na alimentação e se ter noção do que é saudável. Segundo a professora Stela, as plantações estimulam, ainda, o trabalho em grupo e melhoram autoestima e senso de responsabilidade.

— Eles percebem o resultado de seu trabalho. Até quando não estão aqui (na horta), eles têm a preocupação de vir molhar as verduras — reforça.

Os pais estão sempre de olho nas produções.

— De vez em quando, algum aluno diz "minha mãe pediu salsinha" — conta a professora.

Na formação do espaço, a escola contou com contribuições da UFSC, Associação de Pais e Professores e Epagri. As tarefas são divididas conforme as necessidades das plantas e o interesse de cada aluno.

Para monitorar os trabalhos, a professora de português Maristela Dutra conta que os próprios professores tiveram que aprender noções básicas do cuidado com as plantas e até da distância necessária entre elas. Mesmo com a inexperiência de educadores e estudantes, a horta tem rendido boas colheitas na alimentação e, principalmente, no desempenho dos estudantes.

— A horta melhorou o rendimento deles. Foi uma maneira de trazer os conteúdos de um jeito diferente, para despertar o interesse em realizar as atividades — conta Stela.

Julio Cavalheiro / Agencia RBS

Na EEB Eloísa Maria Prazeres de Faria, de Biguaçu, a horta se transformou numa das principais ferramentas de ensino
Foto:  Julio Cavalheiro  /  Agencia RBS


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