Ensino Superior | 15/11/2012 19h26min
O dia, por si só, já é motivo de alegria e não precisa de nenhum outro ingrediente para ampliá-la. É com esse argumento que, neste final de ano, algumas formaturas do Estado terão um reforço na tradicional — porém não muito respeitada — proibição de venda de bebidas alcoólicas para adolescentes.
Uma ação entre o Ministério Público (MP), escolas e produtoras promoverá blitze nos locais das festas, ampliando o alerta sobre o perigo do consumo de álcool por pessoas com menos de 18 anos.
O cerco é total. Se os filhos não podem, os pais e convidados adultos também serão impedidos de desfrutar de bebidas com álcool nas formaturas. Com uma espécie de blitze de conscientização e repressão, o MP e outros órgãos fiscalizam rigorosamente a entrada de produtos alcoólicos e barram, até mesmo, adolescentes com sinais de embriaguez.
— Eles bebem em casa, em bares, nos "esquentas" que fazem. Neste ano, estaremos presentes no local e, se chegar um adolescente embriagado, ele será encaminhado para a atendimento de saúde, para o Conselho Tutelar e para a delegacia — garante a promotora Maria Regina Fay de Azambuja, coordenadora do Centro de Apoio da Infância e da Juventude do MP.
A primeira formatura que entrou nestes moldes ocorreu na noite da última quarta-feira em Santa Maria, mas a cena deverá se repetir a partir de 13 de dezembro na Capital, nas formaturas dos colégios Farroupilha, Anchieta, Monteiro Lobato e Rosário. No município da região central do Estado, a ideia não agradou todo mundo.
— Nas reuniões antes da festa, a resistência que nós sofremos, por incrível que pareça, foi dos pais. É lastimável, imaginarmos que justamente eles, que têm o interesse de proteger os filhos, são as pessoas que mais lutam para que tenha álcool na festa — lamenta Ivanise Jann de Jesus, promotora da Infância e da Juventude em Santa Maria.
A ação do MP com órgãos como Brigada Militar, Conselho Tutelar e Polícia Civil visa também controlar as áreas próximas aos eventos, com blitze da Balada Segura e fiscalização em bares próximos para impedir que as pessoas saiam da festa para comprar bebida.
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ENTREVISTA
"É constrangedor prender um pai que está servindo o próprio filho", diz Ivanise Jann de Jesus, promotora da Infância e da Juventude em Santa Maria
Envolvida com a primeira fiscalização externa do Ministério Público em uma formatura onde foi vedada a venda de bebida alcoólica, Ivanise Jann de Jesus, promotora da Infância e da Juventude em Santa Maria, contou, por telefone, como o MP chegou ao acordo na cidade. Veja trechos da entrevista em que ela comenta o que pode ser um grande entrave à medida: a resistência dos pais.
ZH — Como surgiu a necessidade da proibição total da venda de bebidas alcoólicas e como se deu essa negociação?
Ivanise Jann de Jesus — Em Porto Alegre, desde 2009, já tem um trabalho semelhante em escolas e tem funcionado muito bem, só replicamos a ideia. Chamamos as escolas do município, os clubes e as empresas promotoras de eventos e assinamos um termo de cooperação. Estabelecemos que nas festas de formaturas do Ensino Fundamental e Ensino Médio não teria a bebida nem para adulto nem para adolescente.
ZH — A fiscalização nestas festas não era suficiente para combater o consumo?
Ivanise — A maioria do público é adolescente, então não tem porque colocar o álcool à venda. Os adultos presentes muitas vezes liberaram para os próprios filhos e não se consegue um controle efetivo. É muito difícil fiscalizar, entrar em uma festa e começar a prender as pessoas, fica uma situação extremamente constrangedora a polícia chegar e prender um pai que está servindo o próprio filho. Para evitar isso, que já aconteceu muito e, infelizmente, ainda acontece, adotamos esta postura construída em conjunto.
ZH — Os pais tentaram reverter o acordo feito? Eles defendiam o direito de consumir bebidas alcoólicas ou o direito de os filhos?
Ivanise — Na primeira reunião, houve adolescentes que disseram, na frente dos pais, as seguintes palavras: "se eu soubesse que não poderia beber na minha festa de formatura, eu não teria feito". Este foi o discurso inicial, em que todos pareciam concordar com o consumo de álcool pelos adolescentes. Depois, mudou um pouco e os pais disseram que era para os adultos, que eles tinham o direito de beber e não abriam mão disto.
Em Santa Maria, a Promotoria da Infância e da Juventude e a Brigada Militar distribuíram panfletos para conscientizar jovens a não ingerirem bebida alcoólica em festas de formatura
Foto:
Jean Pimentel
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