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Vestibular  | 12/11/2012 17h26min

Professor Sergius Gonzaga comenta "O Filho Eterno", de Cristóvão Tezza

Obra será cobrada na prova de literatura do vestibular da UFRGS 2013

Professor do Grupo Unificado, Sergius Gonzaga comenta as obras que serão exigidas no vestibular 2013 da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Romance fortemente autobiográfico, mas com traços ficcionais, o texto surpreende pela coragem de um pai que, ao saber que seu filho padece da síndrome de Down, não esconde os sentimentos contraditórios que o menino desencadeia em sua subjetividade. Trata-se de uma obra audaciosa que, com frequência, causa certo mal-estar entre os leitores pela exposição brutal da infelicidade paterna com o nascimento de um filho com uma síndrome. Mas é também uma obra emocionante pela árdua luta interior desse pai em busca de uma afetividade verdadeira em relação à criança.

O que observar

A associação entre o fracasso da criação literária do pai, que é um escritor frustrado, e o nascimento do filho (Felipe), também ele imperfeito e condenado à morte precoce, é um dos núcleos dramáticos do romance. Simbolicamente, a áspera conquista interna, representada pela aprendizagem do amor em relação a Felipe, acabará levando o pai a elaborar um texto superior, que é O Filho Eterno.

A fuga ao sentimentalismo e à autocomiseração induz o escritor a valer-se de um narrador em terceira pessoa que pudesse garantir o mínimo de objetividade ao texto. O uso do discurso indireto livre, no entanto, e certos desvios da narração, que muda da terceira para a segunda pessoa (espécie de voz da consciência) fazem com que alguns leitores pensem (equivocadamente) que o romance é narrado em primeira pessoa.

Um papel significativo na aprendizagem de Felipe é desempenhado pelo futebol. Por meio dele, o menino começa a compreender que os indivíduos possuem uma identidade específica, já que torcer para um clube (no caso, o Atlético Paranaense) é não torcer para os outros.

Última dica

Um dos momentos decisivos da obra ocorre quando Felipe foge de casa. Essa fuga deixa o pai aterrorizado, não apenas por sua própria negligência, nem pelo fato de que os problemas do filho se tornariam públicos, pois teria de procurá-lo e fornecer suas características, mas porque — naquele momento — ele experimenta pela primeira vez o sentimento de sua dependência em relação ao menino. Já não é apenas Felipe que necessita do pai; agora o pai também precisa do filho: "O mesmo filho que desejou morto assim que nasceu, e que agora, pela ausência parece matá-lo."

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