Educação Básica | 09/11/2012 15h26min
O prazer da leitura e a paixão pelo cinema andam juntas no Colégio Augusto Meyer, em Guaíba. Pensado para despertar o gosto dos alunos por diferentes disciplinas, o projeto Terra Cambará transforma criações literárias em filmes de curta duração, envolvendo alunos e professores. Inserido em uma proposta interdisciplinar, o núcleo de vídeo busca integrar saberes muitas vezes separados artificialmente dentro de sala de aula. Na tarde de hoje, o filme Canibais será exibido no 11º Festival de Vídeo Estudantil e Mostra de Cinema de Guaíba.
— O projeto extrapola totalmente a sala de aula. E por causa disso acontece uma mudança no perfil do aluno. Ele acaba participando mais, melhorando o rendimento. Não é um efeito imediato, mas é um processo a médio e longo prazo — afirma o professor de literatura Roberto Silva, que ajudou a fundar o projeto.
O envolvimento de grande parte da comunidade também é considerado um ponto positivo. Como a escola recebe financiamento do governo para esse tipo de atividade, os alunos tem que buscar recursos e apoios por si próprios. O esforço para colocar em prática um projeto coletivo acaba motivando os estudantes, que têm de suar a camisa para concretizar o trabalho.
— Aqui muita coisa funciona na base do "paitrocínio" mesmo, ou com incentivos que os alunos conseguem na comunidade. Tem suas desvantagens, porque torna o trabalho mais difícil, mas também pontos positivos. São iniciativas das comunidades escolares, não imposições do governo.
A mais recente produção da escola é baseada na obra homônima de David Coimbra. Uma das vias da interdiscplinaridade vem justamente da trama do livro, que trata de aspectos históricos da sociedade porto-alegrense do século 18. Violência e sexualidade, temas abordados ao longo da obra, também chamaram a atenção dos alunos, pesando na escolha.
A cultura alemã foi um dos aspectos que agregou conhecimentos além do literário. Ao todo, fizeram parte diretamente do projeto as disciplinas de Língua Portuguesa, Arte, História, Sociologia e Literatura. A intenção da escola é que esse tipo de trabalho sirva para motivar os alunos.
— O aluno tem que se sentir na escola, e isso pode acontecer quando se faz ele aprender de outras maneiras. As atividades interdisciplinares têm a vantagem de fazer o aluno ficar mais tempo na escola, já que trabalham diferentes áreas do saber. Isso também tem um reflexo positivo no rendimento. É mais difícil de ser percebido em alunos do turno da noite, que normalmente trabalham, mas nós tentamos incluir todos, na medida do possível — afirma Eliane Ribeiro, diretora do colégio.
Ainda que os resultados não sejam rápidos nem de fácil detecção, esse tipo de atividade é vista com bons olhos. Além dos estudantes e dos professores envolvidos no projeto, especialistas concordam que trabalhar diferentes campos do ensino pode se tornar mais atrativo se elementos lúdicos estiverem presentes.
— O lúdico coloca a gente no campo da transdisciplinaridade, provoca a criatividade. O acesso à informação existe, o que falta é o papel das escolas em ajudar a pensar, a criar, a produzir conhecimento. Quanto mais estímulo para isso, e quanto mais disciplinas entrarem em jogo, melhor — afirma José Ivo Follman, vice-reitor da Unisinos.
Despertar o gosto pelas artes e buscar diferentes formas de conhecimento parece já ter surtido efeito, pelo menos em alguns alunos.
— A gente procura entender mais a história trabalhada no filme, e aprofunda a leitura sobre ele. Mas eu sempre gostei de fazer esse trabalho, independente de valer nota ou não — diz Luan Peck, que já atuou em quatro curtas-metragens produzidos pelo Terra Cambará.Se os estudantes ainda não podem ser considerados profissionais do cinema, já se mostram ao menos um pouco iniciados. Produções anteriores já foram premiadas e uma delas, o curta Para Matar o Mouro, é dedicado a Sérgio Leone, considerado pelos realizadores o "Mago do Western".
Não se sabe se os estudantes irão trilhar o caminho do famoso diretor italiano, mas já deram o primeiro passo. A expectativa para o resultado do festival, divulgado na tarde de sábado, 10, é alta. Canibais concorre em sete categorias, e os professores e estudantes envolvidos esperam um final feliz.
Curtas-metragens do núcleo de vídeo Terra Cambará
2005 — Ana Terra, baseado na obra de Érico Veríssimo
2006 — Aos Treze, baseado na obra de Nikki Reed
2007 — O Sobrado, baseado na obra de Érico Veríssimo
2008 — Fausto, baseado na obra de Goethe
2008 — A Cartomante, Machado de Assis
2008 — O Negro Bonifácio, baseado na obra de Simões Lopes Neto
2009 — E se Fosse Verdade?, baseado na obra de Marc Levy
2009 — Jeckyll + Hyde, baseado na obra de Robert Louis Stevenson
2010 — Crônica de Uma Morte Anunciada, baseado na obra de Gabriel García Marquez
2010 — Para Matar o Mouro, baseado no conto Noite de Matar um Homem, de Sérgio Faraco
2011 — O Segredo de Letícia, baseado na obra de David Coimbra
2012 — Canibais, baseado na obra de David Coimbra
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