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 | 03/11/2012 15h12min

Preso veste camisa do PGC dentro da penitenciária de São Pedro de Alcântara

Agentes agiram com discrição para não dar visibilidade ao fato

Ângela Bastos  |  angela.bastos@diario.com.br

Um detento foi flagrado no pátio de um dos pavilhões da Penitenciária de São Pedro de Alcântara com camiseta da facção criminosa Primeiro Grupo Catarinense (PGC). De cor branca e com inscrições na frente, costas e mangas, a peça propagandeava a "honrosa irmandade".

O fato foi comunicado à supervisão e à chefia de segurança, que optaram por uma ação discreta para não chamar a atenção sobre a "firma". Depois do recolhimento dos apenados do pátio, de encerradas as visitas e do jantar ser servido, agentes foram até a galeria onde fica a cela com o pretexto de elaborar uma revista.

A camisa foi apreendida, e o detento encaminhado ao setor de isolamento. Os agentes penitenciários apuraram que, durante o banho de sol, o apenado havia feito apologia ao crime. Além de se expor com a peça de roupa, o preso também tinha um formulário para interessados em ingressar na facção PGC.

O relato publicado acima é um documento interno do Departamento Estadual de Administração Prisional (Deap), ao qual o Diário Catarinense teve acesso. Dados como nome do detento, o pavilhão em que se encontrava e o número da cela foram omitidos pela reportagem para preservar identidades.

Apesar da prova material, até agora o governo de Santa Catarina não assume oficialmente que o PGC esteja infiltrado nas cadeias catarinenses e determinando a morte de agentes. Nem mesmo depois do relatório do Mutirão Carcerário, em 2011, elaborado por juízes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que encontraram a sigla desenhada em várias celas da penitenciária de São Pedro. Confirma ainda a declaração do delegado André da Silveira, que, em 2009, como secretário estadual de Segurança Pública, reconheceu o PGC dentro do sistema carcerário catarinense.

A atuação do PGC voltou a ser destaque com o assassinato da agente penitenciária Deise Fernanda Melo Pereira Alves, na noite de 26 de outubro. Aos 30 anos, a servidora da assessoria jurídica do Deap era casada com o diretor de São Pedro de Alcântara, Carlos Antônio Alves.

Ela estava sozinha no carro e foi atingida por tiros disparados por trás, quando já estava com o veículo na garagem de casa. Naquela mesma noite, o diretor retornava de Brasília, onde havia participado de um curso de aperfeiçoamento. Dois suspeitos da execução estão presos. A Diretoria Estadual de Investigação Criminal (Deic) trabalha para identificar o mandante.

No primeiro semestre do ano passado, o crime organizado mostrou a cara com uma greve de fome em seis presídios catarinenses. Houve articulação dentro e fora da unidade, com ordens de assaltos e ataques a delegacias e a postos da PM. Ao recapturar o assaltante Davi Schroder, o Gângster, 27 anos — que havia fugido de um hospital e tido como perigoso e um dos líderes da facção criminosa PGC — a polícia identifica o seu papel: ele seria o "disciplina" (responsável por executar ordens vindas da facção), informou o delegado Claudio Monteiro.

Em abril do mesmo ano, foram apreendidas cartas com um grupo em que havia suposto plano de morte do diretor da Penitenciária de São Pedro de Alcântara, Carlos Antônio Gonçalves.

O tom do governo de Santa Catarina é de negar que o PGC esteja afrontando o Estado. Isso foi feito inicialmente pelo governador Raimundo Colombo, horas depois do assassinato da agente penitenciária, e reforçado dois dias depois pelo secretário de Segurança Pública, César Grubba.

Negação semelhante teve o governo de São Paulo, que desde a origem da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), em 1994, discordou da existência e da capacidade de organização dos bandidos. Deparou-se com um problema para o qual não encontrou solução. Desde janeiro, 91 PMs foram assassinados em São Paulo, 37 deles com características de execução.

Agentes de Segurança Pública de Santa Catarina ouvidos pelo DC tendem que negar a atuação de uma facção criminosa dentro do sistema é óbvio ululante. Alertam que a metástase do crime organizado nas cadeias catarinenses pode ser tão mortal como o tiro que atingiu a agente penitenciária.

DIÁRIO CATARINENSE
Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal

No pátio, preso usava camisa com sigla da facção criminosa
Foto:  Arquivo Pessoal  /  Arquivo Pessoal


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