A Educação Precisa de Respostas | 02/11/2012 17h00min
Qualificar a educação como transmissora de valores culturais, conhecimentos e habilidades na formação do indivíduo é o grande desafio para restaurar a tradição histórica das nossas escolas públicas. Como profissional da educação no magistério público estadual por 35 anos, fui protagonista do apogeu das conquistas educacionais do Rio Grande do Sul, disputando com outros estados o lugar de destaque na qualidade do ensino, reconhecido como referência nacional.
Mas, hoje, o nosso debate vai muito mais além, porque se trata de um problema crucial e histórico num longo processo do sucateamento da educação brasileira num país que se posiciona como a sexta economia do mundo e ocupa o octogésimo oitavo lugar no ranking mundial pelo baixo padrão escolar mensurado pela Unesco.
Há décadas a educação faz parte de um fascinante discurso político para erradicar o persistente analfabetismo neste país e se vangloria de um projeto educacional que se limita a oferecer testes e provas padronizadas em excesso. A Provinha Brasil, a Prova Brasil, o Enem e o Enade, dentre outros, não privilegiam o real desempenho do aluno e seus resultados ineficazes vilanizam a qualificação dos educadores e afetam emocionalmente o aluno. Eles não são suficientes para mensurar o aprendizado dos estudantes.
Um país que vacila em contínuas modalidades e reformas de ensino, testando teorias e desprezando práticas pedagógicas comprovadas, não pode ir muito longe em suas pretensões de avanços na educação.
Em louvável e responsável ação para investigar os descaminhos do ensino-aprendizagem em nosso país, o Grupo RBS provoca a campanha institucional com o slogan A Educação Precisa de Respostas e instiga a sociedade organizada a opinar sobre o assunto.
Encaminho respostas objetivas e propostas claras, segundo minha experiência como professora:
1º Investimento maciço na Educação Básica
Alfabetizadores diferenciados na capacitação e experiência. Turmas de no máximo 25 alunos. Aumento nas horas-aula. Autonomia para aplicar metodologias do interesse da criança. Letramento e matemática trabalhados com criatividade e consistência. Aulas de reforço sempre que a criança exigir.
2º Gestão escolar ineficiente
Decisões sobre Regimento Interno da Escola a cargo dos educadores e não dos reformadores que servem o sistema. Demandas conflitantes no ambiente escolar que interferem nos propósitos do professor. Excesso de burocracia. Interferências políticas para recrutar diretores sem nenhum conhecimento de gestão escolar e liderança para administrar. Exigência de estágios em escolas públicas para ocupar a função diretiva de uma escola nas suas diferentes demandas profissionais. Investimento em mudanças estruturais.
3º Valorização dos educadores
Investir na formação pedagógica através das faculdades de educação, responsáveis pelo futuro desempenho e capacitação docente. Salários mais atrativos e reconhecimento do papel social do educador. Possibilidade de trabalhar em regime de dedicação exclusiva em uma única escola. Evitar professores itinerantes. Currículos adequados às realidades regionais do país. Liberdade para adequar metodologias propostas pelo professor, segundo os interesses dos alunos.
4º Alunos que terminam o Ensino Fundamental com deficiência na aprendizagem
Contínuas reformas curriculares. Testes padronizados em excesso não resolvem a qualidade do ensino. A inclusão digital retirou as horas-aulas do Ensino Básico e não devolveu melhoria na aprendizagem. O uso da tecnologia como apoio pedagógico carece de mudança de paradigmas: capacitação de professores, horários integrais na escola, informações irrelevantes em detrimento de conhecimentos. Metodologias de ensino que desprezam a memorização não como "decoreba" mas como abstração criativa, um recurso de conhecimento para o resto da vida. Exigência de conteúdos com firmeza faz o diferencial na qualidade do ensino. Revisão sistemática dos temas trabalhados em casa. Muita informação no ensino e pouco conhecimento consistente.
5º Causas e soluções para a evasão escolar
Estrutura precária das nossas escolas. Repetência e abandono escolar. Necessidade de ajuda aos pais pela sobrevivência da família. Alunos com idade em defasagem à série que freqüentam. Aulas sem motivação e criatividade. Falta de um bom relacionamento professor-aluno. Incentivos para assiduidade. Priorizar atividades que desenvolvam autoconfiança, liderança, liberdade de expressão para formar cidadãos críticos e compreender o mundo que os cerca. Proporcionar atividades esportivas e culturais para assegurar a permanência do aluno na escola.
6º Por que os alunos do Ensino Médio não estão na série correspondente a sua idade?
Ingresso tardio na escola. Dificuldades não vencidas na aprendizagem básica responsáveis pela reprovação. Ensino visto como um ritual de passagem que não atraem o aluno. Alunos que abandonam o curso por falta de incentivos e retornam pela necessidade de exigências para trabalhar. Maior interesse no ensino técnico. Professores em desvio de função, em relação à sua formação acadêmica e conteúdo ensinado.
Conclusão
Se pretendermos ter um sistema educacional de qualidade é preciso que os profissionais da educação sejam valorizados como educadores, sejam ouvidos e participem na elaboração das políticas educacionais, priorizando o Ensino Fundamental, até hoje uma promessa com medidas paliativas geralmente baseadas em instrumentos de avaliação com o mínimo de investimentos. Os professores são, por formação e por direito, os responsáveis para gerir todo o processo pedagógico.
Se quisermos entender a causa dos nós da Educação Básica dentro do pensamento crítico dos reformadores, chegaremos à conclusão de que o problema para viabilizar a qualidade da educação pública não é de natureza pedagógica mas unicamente de natureza política. O resto é rito de passagem.
*Professora emérita do Estado do Rio Grande do Sul
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