Enem | 02/11/2012 10h53min
Quase 5,8 milhões de brasileiros vão dedicar as tardes deste sábado e domingo à mesma tarefa — mas com objetivos bastante distintos. O crescimento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e a multiplicidade de fins aos quais ele se presta fazem da prova nacional mais do que um simples substituto para o vestibular.
A prova reunirá candidatos tão diferentes como um adolescente que sonha virar médico, um bombeiro civil que pretende voltar a estudar e um pintor que busca o certificado de conclusão do Ensino Médio aos 32 anos.
Em todo o país, 5.791.290 adolescentes, homens e mulheres vão se submeter às provas que permitem acesso direto a universidades públicas por meio do Sisu, complementar a nota de concursos vestibulares, obter bolsa ou financiamento estudantil e até fazer intercâmbio em um estabelecimento do Exterior.
Embora menos conhecidos, os caminhos do Enem para outras finalidades além da vaga em uma universidade gratuita vêm recebendo atenção crescente. A busca de certificação do Ensino Médio, por exemplo, mobilizará 638.176 inscritos — mais de três vezes o número registrado há apenas três anos.
Para dar conta da dimensão continental do exame, que será aplicado em 1,6 mil cidades, serão mobilizados cerca de 450 mil fiscais e 72 batalhões do Exército, da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Militar. A preocupação com a segurança é uma das marcas da edição atual do Enem, que já teve sua credibilidade abalada por casos de vazamento de questões e erros em cadernos de prova.
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) vai testar 10 mil "lacres eletrônicos" para evitar fraudes — cerca de 25% do total. Os malotes sairão da gráfica com esses lacres, que registram a data e a hora do fechamento do pacote. Serão abertos apenas nos locais de prova, para os fiscais distribuírem o material aos candidatos.
Depois, os cadernos serão recolhidos e novamente lacrados, para serem reabertos pelos responsáveis pela correção. Se o malote for rompido fora dessas condições, a violação ficará registrada eletronicamente.
Conheça, a seguir, as histórias de alguns dos milhões de candidatos cujo destino também está selado junto às provas do Enem.
Cadeira em universidade
Uma das principais utilidades do Enem é garantir diretamente uma vaga em universidade pública. Para isso, candidatos como Gabriel Pereira Vogel, 18 anos, pretendem utilizar a nota da prova no Sistema de Seleção Unificada (Sisu) — sistema informatizado, gerenciado pelo Ministério da Educação (MEC), no qual instituições públicas de Ensino Superior oferecem vagas.
A inscrição é gratuita e feita pela internet (mais informações em http://sisu.mec.gov.br).
A principal intenção de Gabriel é conseguir uma vaga em Medicina em uma instituição como a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) ou a Universidade Federal do Rio Grande (Furg), que utilizam a média do Enem como critério para ingresso.
— Acho o ingresso pelo Enem um grande estímulo para o estudante, principalmente para quem vem de escola pública — afirma o adolescente, que também vai tentar vestibular em instituições como a UFRGS.
O Enem também permite acesso a universidades de fora do país para quem já cursa o Ensino Superior, por meio do programa Ciência sem Fronteiras — projeto de intercâmbio que prevê a nota no Enem como um dos critérios de seleção.
Retorno aos estudos
Embora não esteja vinculado a um programa específico para esse fim, na prática o Enem tem servido para facilitar o retorno aos estudos de quem já está distante das salas de aula há algum tempo. Por não exigir tanto conhecimento sobre conteúdos específicos, mas privilegiar mais o raciocínio e a contextualização do que muitos vestibulares tradicionais, o Enem vem estimulando um grande número de candidatos mais velhos.
Miguel Coli, 39 anos, vê no exame uma alternativa para que ele e outros adultos possam ter a oportunidade de voltar a estudar.
— O Enem não é tão conteudista como as provas de vestibulares. Quem estiver por dentro dos assuntos da atualidade, souber interpretar os textos e utilizar a própria experiência de vida tem oportunidade de se sair bem no exame — avalia.
Miguel é bombeiro civil e cursou Direito há mais de 10 anos, mas não pôde concluir a graduação. Hoje, estuda em um cursinho pré-vestibular e tentará uma vaga para Engenharia Mecânica. Além de já ter feito um curso de nível técnico em Mecânica Geral, acredita que essa área possibilitará um melhor retorno financeiro.
Vaga pelo Prouni
O foco é conseguir vaga em uma universidade federal, mas Thatiane Carolino, 17 anos, conta com outra possibilidade trazida pelo Enem para realizar o sonho de chegar ao Ensino Superior: utilizar a média para conseguir bolsa em uma instituição privada por meio do Programa Universidade Para Todos (ProUni).
A adolescente está no 3º ano do Ensino Médio na Escola Estadual Padre Rambo e pretende cursar Engenharia Ambiental.
— Estou estudando para o vestibular em casa desde o começo do ano, e em um cursinho popular desde agosto. Depois de tanta dedicação, acredito estar preparada para prestar o exame — declara.
O ProUni já atendeu, desde sua criação até o processo seletivo do segundo semestre de 2012, mais de 1 milhão de estudantes com bolsas integrais ou parciais. Para disputar uma bolsa, o candidato precisa de nota média de pelo menos 400 pontos, não zerar na redação e ter renda familiar de até três salários mínimos por pessoa, além de ter feito o Ensino Médio em escola pública ou na condição de bolsista. O Enem pode, ainda, ser utilizado para a conquista de um financiamento por meio do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Ajuda no vestibular
O exame do Ensino Médio não serve apenas como substituto do vestibular — mas também pode prestar um auxílio para quem decide se submeter ao concurso convencional. Instituições como a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) permitem que o candidato utilize a média do Enem para compor a nota final na disputa por uma vaga.
No caso da UFRGS, a decisão de utilizar o Enem é mencionada no momento da inscrição, e o exame é utilizado como se fosse uma prova a mais no concurso, com peso dois (as demais provas têm peso de um a três, conforme o curso). Mas, se o desempenho do candidato no Enem for ruim, sua média no vestibular não será prejudicada — ela só é considerada se puder aumentar a nota.
— Vou fazer o Enem para somar na nota da UFRGS e da Universidade Federal de Santa Catarina — afirma a candidata da Capital Júlia Chiden, 19 anos.
A pretendente a uma vaga no curso de Arquitetura também busca um lugar no Ensino Superior público utilizando o Sisu para, em último caso, ingressar em uma instituição particular que também inclui o exame entre seus critérios de ingresso, como o UniRitter.
— Como não me encaixo na faixa de renda do ProUni, o jeito é tentar algum desconto — complementa.
Diploma do Ensino Médio
Foi o próprio exemplo do filho de sete anos, que já pensa em cursar o Ensino Superior, que impulsionou Ivanilto Pereira Santos, 32 anos, a prestar o exame para finalmente obter o diploma do Ensino Médio — outra das possibilidades trazidas pelo Enem. O pintor parou de estudar aos 17 anos porque precisava ajudar nas despesas de casa e na criação dos irmãos mais novos.
— O mercado de trabalho está muito competitivo, até para varrer a rua preciso do Ensino Médio. Estou estudando três, quatro horas por dia para poder ir bem nas provas. Tenho um pouco mais de dificuldade em matemática, mas um amigo contador tem me ajudado — conta Ivanilto.
Cumprida a etapa de conseguir o diploma do Ensino Médio, o pintor pensa até em prestar vestibular para algum curso superior da área da saúde. Entre 2009 e 2012, o número de candidatos que usou o Enem para solicitar a certificação passou de 197.991 para 638.176 — um salto de 222%.
O interessado deve ter pelo menos 18 anos, atingir 450 pontos em cada uma das áreas de conhecimento em que se divide o exame e alcançar 500 pontos na redação.
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