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Educação Básica  | 29/10/2012 06h03min

Professor britânico visita escola gaúcha que aplica moderno conceito de empresas na avaliação dos alunos

Andy Hargreaves, que está na Capital para disseminar conhecimentos sobre uma das grandes tendências da educação, irá nesta segunda-feira ao colégio da zona sul de Porto Alegre

Lara Ely  |  lara.ely@zerohora.com.br

Na escola Gilberto Jorge da Silva, na Capital, os alunos são protagonistas da própria educação, nem sempre há provas, mas métodos personalizados de avaliação. Essa descrição, segundo o inglês Andy Hargreaves — um dos mais importantes estudiosos da área —, é o exemplo do que seria uma escola inovadora.

A adoção de princípios de autonomia, a realização de assembleias escolares e a adoção de práticas inclusivas são outras estratégias da escola inovadora apontadas pelo especialista no livro The Global Forth Way (ainda sem previsão de lançamento no Brasil), escrito em parceria com Dennis Shirley — outro renomado professor de Educação, também da Lynch School of Education, da Boston College, assim como Hargreaves — em 2009. Baseadas no método do design thinking, as pesquisas atuais de Andy estão ligadas a estratégias bem sucedidas de mudança educacional em escolas de alta performance.

Convidado para dirigir organizações internacionais como o Banco Mundial, a Unesco e a União Europeia, Hargreaves já palestrou sobre desenvolvimento pessoal em 37 estados americanos, em 42 países e em todos os estados australianos e províncias canadenses.

Um dos grandes desafios do ensino brasileiro, segundo ele, é manter os alunos na escola e qualificar os professores. Envolver a comunidade e os próprios alunos no processo educacional não seria uma estratégia, mas uma necessidade. O outro objetivo seria qualificar e melhorar a remuneração dos professores.

— Todos os lugares têm desafios de desenvolvimento. Educação é apostar na próxima geração. O primeiro passo é ver a educação não como custo, mas como um investimento.

Escola Gilberto Jorge da Silva vira caso de estudo

É possível, mesmo sem conhecimentos teóricos, solucionar problemas cotidianos de forma criativa e intuitiva. Compreender de que forma a comunidade escolar é capaz de diagnosticar e solucionar as dificuldades do dia a dia é o tema da pesquisa de Ana Berger, mestranda em Design da Unisinos.

Ana aplica os métodos de inovação defendidos pelos doutores em Educação Andy Hargreaves e Dennis Shirley no livro The Global Forth Way e colocados em prática em vários países desenvolvidos.

O desafio atual é utilizar os métodos de Hargreaves e Shirley em escolas de países em desenvolvimento, caso do Brasil. Era preciso que a instituição a ser escolhida já apresentasse práticas inovadoras, por isso a Escola Municipal Gilberto Jorge da Silva, de Porto Alegre, passou a integrar a pesquisa de Ana Berger.

A partir da troca de experiências com a pesquisadora, iniciada em outubro de 2011, os professores identificaram que é preciso pensar em um modo de trazer novamente a comunidade para a escola. Outro problema identificado e solucionado está relacionado às limitações de verba, contornadas quando a escola organizou ações e angariou fundos para realizar atividades extraclasse.

A especialista se baseia no Design Thinking para atuar junto à escola. Ele permite que não só os professores, mas também os alunos sejam atores do processo. Agora, o desafio de Ana é sistematizar as ideias percebidas a partir do ambiente da Gilberto Jorge em uma ferramenta que possa ser utilizada por outras escolas.

Já na graduação, Ana se interessou em entender a relação do Design com questões sociais:

— Me dei conta de que a única mudança efetiva que eu poderia fazer seria na área de educação.

Por que a escola Gilberto Jorge é inovadora:

1 - Todos os alunos podem aprender e devem permanecer na escola. Diferença não é deficiência, e o trabalho em grupo qualifica a aprendizagem, que não exclui a disciplina — não são aspectos excludentes, mas ocupam espaços distintos.

2 - Assembleias escolares construídas com a participação de todos os alunos. A intenção é de que os alunos identifiquem os problemas e encontrem as soluções.

3 - Não há prova como método principal de avaliação há 16 anos. A proposta é de que os alunos devem ser avaliados diariamente e não em um dia pré-estabelecido. Há professores que ainda trabalham com prova, mas cada aluno é parâmetro de si mesmo e deve avançar conforme seu próprio ritmo e capacidades.

4 - A docência compartilhada, ou seja, a atuação de dois professores em sala de aula. Em turmas com mais de cinco alunos com algum tipo de deficiência, há um pedagogo além do professor de cada disciplina.

5 - Escola pública comprometida com a escolarização de todos. Entre os 350 alunos, 35 apresentam algum tipo comprovado de deficiência como autismo, surdez e tetraplegia.

O que é Design Thinking?

É um método de inovação orientado pelo design, no qual se busca o envolvimento direto dos usuários na construção de soluções criativas para problemas.

Existem variações, mas os passos geralmente são: compreensão do problema, observação na prática do problema para buscar insights, visualização (nesse ponto há muita geração de ideias), avaliação e refinamento (desenvolvimento de protótipos), implantação.

Entrevista: Andy Hargreaves, professor de Educação

Na Capital para participar de um evento sobre inovação, Hargreaves deu suas percepções a respeito da educação brasileira:

Zero Hora — Como a educação brasileira pode usar os princípios do Design Thinking?

Andy Hargreaves — Sendo inovadora, focada nas crianças e usando mais tecnologia. O Brasil está melhorando, mas ainda tem um longo caminho a seguir. O primeiro passo é as crianças terem mais acesso à escola. Elas precisam ficar mais tempo aprendendo em vez de trabalhar para seus pais. Ir para a universidade seria o segundo passo. As condições de ensino daqui são as mesmas de 50 anos atrás. O desafio é mudar esse cenário. O futuro depende da velocidade com que podemos inventar e compartilhar novas ideias.

ZH — Como os alunos podem ser envolvidos na solução dos problemas da escola?

Hargreaves — O aluno é a parte principal da mudança e deve estar à frente do processo. O professor precisa ter confiança para trabalhar e não pode ter medo de compartilhar o processo de aprendizado com elas.

ZERO HORA
Mauro Vieira / Agencia RBS

A pesquisadora Ana Berger escolheu a escola localizada no bairro Ipanema, em Porto Alegre, para testar a eficácia da metodologia
Foto:  Mauro Vieira  /  Agencia RBS


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