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Educação Básica  | 24/10/2012 10h33min

Livros do projeto Lições do Rio Grande estão abandonados nas escolas

Iniciativa do governo Yeda consumiu R$ 30 milhões dos contribuintes, mas foi engavetado

Adriano Duarte  |  adriano.duarte@pioneiro.com

Caxias do Sul – Não é novidade, a falta de continuidade de políticas públicas de um governo para outro resulta em desperdício de recursos. A novidade é que sequer a educação está livre desse péssimo jeito brasileiro de governar. Entre 2007 e 2010, a gestão de Yeda Crusius (PSDB) gastou aproximadamente R$ 30 milhões no projeto Lições do Rio Grande. A ideia era formar 21 mil professores e distribuir livros e cadernos de referência curricular para toda a rede estadual. Hoje, esse material pago pelos contribuintes acumula pó e mofo em estantes, caixas e armários nas escolas. O Lições do Rio Grande integrava o programa Boa Escola Para Todos, substituído neste ano pelo projeto de reestruturação do ensino médio do governo Tarso Genro (PT).

Independentemente da proposta pedagógica de cada gestão, o que chama a atenção é a sem cerimônia com que sucessivos governos investem quantias astronômicas em projetos educacionais que serão abandonados logo adiante por questões políticas. Esse é um dos motivos, apontam especialistas, pelo fato do Estado ter ficado abaixo da taxa média projetada pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2011.

Os cadernos e livros do Lições do Rio Grande ofereciam ao professor subsídios para o desenvolvimento de habilidades e competências cognitivas dos alunos nas séries finais do nível fundamental e nos três anos do médio. As publicações reuniam conteúdos mínimos para cada série e disciplina com base em material do Ministério da Educação (MEC). Em tese, os professores teriam nas publicações a base para uma formação continuada. Cada aluno e professor da rede recebeu pelo menos um exemplar de acordo com a série frequentada. Com a mudança a partir de 2011, dezenas de milhares de livros foram abandonados. Boa parte desse material está em excelente estado de conservação, mas raramente serve de consulta.

Isso ocorre porque a Secretaria da Educação atua hoje com outro viés. A meta do momento é estimular o aluno na construção do conhecimento com o professor, dando ênfase para o olhar investigador. Na prática, o ensino médio formaria para o mercado de trabalho.

A coordenadora-adjunta da 4ª Coordenadoria Regional da Educação (4ª CRE), Carla Inês de Camargo Subtil, reconhece a qualidade do Lições do Rio Grande. Para ela, os professores que passaram pela formação aplicam o aprendizado no dia a dia. Carla reforça que as publicações ficam à disposição das escolas, que frequentemente revisitariam os conteúdos, assegura. Entretanto, o Pioneiro consultou diversos professores. Todos afirmam que os livros já não interessam mais.

– Esse programa tinha muitas coisas boas, quando um docente faz uma formação procura se valer desse conhecimento, levar para sua prática pedagógica, selecionar o que interessa – enfatiza a educadora.

O ex-secretário da Educação na gestão de Yeda, professor Ervino Deon, diz que o Lições do Rio Grande não tinha identificação com ideologias e poderia ser usado ao longo dos anos, com algumas atualizações:

– Esse material foi elaborado a partir de um grupo de pessoas altamente qualificadas. Como educador, respeito a posição de cada governo. Mas é um recurso público que foi gasto e esquecido.

AS DIFERENÇAS

Antes

Até 2010, o programa para qualificar o ensino primário e secundário se denominava Boa Escola para Todos, que contava com cinco projetos estruturantes da educação. Dentro do programa, havia o Lições do Rio Grande, que apresentava às escolas a proposta de referencial curricular como base para os planos de estudos e propostas pedagógicas da rede Estadual. As publicações ofereciam ao professor estratégias de intervenção pedagógica a partir do desenvolvimento das competências de leitura, produção de texto e resolução de problemas. Foram distribuídos livros para todos os professores e alunos da rede. O programa também treinou 21 mil professores.

Hoje

O Estado aposta no ensino médio politécnico e na educação profissional. A modalidade nas turmas de 1º ano foi reformulada em todas as 1.053 escolas secundárias. As inovações serão estendidas ao segundo ano em 2013 e ao terceiro, em 2014. As disciplinas foram reunidas nas quatro grandes áreas, e os professores passaram a trabalhar em conjunto. O objetivo é mostrar as relações entre as áreas e aproximar a escola da realidade. Os alunos fazem seminários nos quais podemdesenvolver projetos de seu interesse.

Porthus Junior / Agencia RBS

Descontiuidade de políticas públicas leva ao desperdício de recursos públicos
Foto:  Porthus Junior  /  Agencia RBS


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