Educação Básica | 17/10/2012 07h42min
Em junho, a ameaça de incêndio afugentou os 800 alunos. Em agosto, invasão e vandalismo. Nesta semana, a promessa de fogo foi cumprida na Escola Eva Carminatti, na Lomba do Pinheiro. Após incêndio criminoso, não há previsão de retorno das aulas. Polícia investiga ação de gangues rivais para explicar onda de violência.
Pareciam ruínas de uma guerra. À medida em que a diretora Carmen Sílvia Martins subia as escadas entre cinzas, topava com o rescaldo de um incêndio criminoso. Eram pedaços de livros, sorrisos de alunos em fotos incineradas.
E, no terceiro andar, um estrago absoluto onde funcionam duas salas de aula da Escola Estadual Eva Carminatti, na Lomba do Pinheiro. Sofás doados por professores estavam queimados, assim como armários de um espaço que deveria ser de conforto.
Para Carmen, 32 anos de trabalho no local, restou a desolação:
- A gente sabe que está convergindo para cá um problema social grave. Mas, pelo respeito que tenho à comunidade, não esperava que chegasse ao ponto de incendiarem a escola.
Depois de um suspiro, lamentou:
- Me sinto impotente.
Mãe admite que o medo impera
Os rastros de combustível não deixaram dúvidas aos peritos de que foi criminoso o incêndio do final da tarde de segunda-feira (folga pelo Dia do Professor). Pela terceira vez neste ano, 800 estudantes ficaram reféns da violência e longe das salas. A perspectiva de volta às aulas é ainda nesta semana, mas não há data.
Além do trauma, há o alerta dos peritos de que partes da parede possam desabar. Até por isso não pôde ser calculado ontem o prejuízo com o fogo.
O que a comunidade tenta entender é o motivo para a Eva Carminatti ter se tornado, desde junho, alvo de um vandalismo muito mais cruel do que o habitual. Moradora há 27 anos na Vila Mapa, a mãe de um estudante do quinto ano admite falta de coragem.
- Já tentamos mobilizar os pais, nem que seja para protesto. Mas e se a gente for para a rua e denunciar qualquer coisa, ainda corre o risco de levar um tiro. Então, o pessoal se cala mesmo.
Pai fica com o coração na mão
Para o marido dela, a solução tem que partir das autoridades.
- Se mostrarem interesse em nos garantir segurança, a comunidade vai se mobilizar para proteger esse espaço. Mas nós nunca temos resposta. Aí, a escola vira refém e ficamos com o coração na mão quando o filho vai estudar.
Delegada já tem uma suspeita
A escola canalizaria um conflito entre dois bondes de adolescentes, das vilas Mapa e Quinta do Portal, com alunos e ex-estudantes da Eva Carminatti. A 21ª DP tem uma suspeita: a transferência de um aluno reincidente em atos de indisciplina.
Dias depois, no último final de semana de agosto, uma invasão rendeu pichações que indicariam a presença do adolescente. Salas foram destruídas e fezes espalhadas no local.
- Eles enforcaram o esqueleto do laboratório. Perto dele, deixaram uma garrafa de álcool. Na hora, comentamos que iriam matar alguém ou incendiar a escola - disse uma funcionária.
De acordo com a delegada Shana Hartz, a hipótese da escola ter se tornado o alvo de um conflito dos bondes não é a única:
- Há 15 escolas nessa área e em nenhuma há esse tipo de problema. Ainda aguardamos a perícia, mas parece uma represália.
Por enquanto, sem reforço policial
A Escola Eva Carminatti fica entre as áreas prioritárias do Território da Paz na Lomba do Pinheiro. Nem por isso receberá reforço de segurança. Para o responsável pelo policiamento na região, major André Ribeiro, este é um problema pontual que deveria ser resolvido com investigação e participação efetiva da comunidade escolar:
- Não há dúvida de que a escola virou o alvo por algum problema gerado ali.
A direção elaborou um dossiê, solicitando ao 19º BPM policiais para guarnecer os arredores, mas nada mudou.
- Já temos a patrulha e o Proerd, que trabalha com a conscientização dos estudantes. Podemos aumentar a frequência da patrulha, mas não vejo necessidade. É um problema muito mais comunitário do que de segurança - afirmou o major.
Nada de câmeras
Por enquanto, a presença de um PM residente ou de câmeras são descartadas. O videomonitoramento deve começar somente no ano que vem.
Sob intervenção
Em junho, depois da execução de dois jovens, a direção teria recebido uma ameaça de que o local seria incendiado. Irmãos e a namorada de um dos meninos mortos estudavam na Eva Carminatti. O medo fez com que as aulas fossem suspensas pela primeira vez, mas já era consequência de um problema antigo.
Diante da resposta dos vândalos em dois novos ataques, a promessa é aumentar ainda mais a atenção sobre o problema.
- A escola está, agora, sob intervenção da Secretaria da Educação. Não sairemos enquanto não tivermos um diagnóstico - definiu o coordenador regional da Educação, Antônio Branco.
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