Professor | 15/10/2012 05h36min
Para celebrar o Dia do Professor, Zero Hora reuniu em Tapera, no norte do Estado, uma turma de magistério que comemora 35 anos de formatura. Juntas, as alunas da turma 31 relembram momentos pessoais e, ao mesmo tempo, parte da história da educação gaúcha
Ansiosas como se retornassem das férias de verão. Sedentas de novidades, elas chegavam à escola onde estiveram reunidas por pelo menos três anos letivos. Só que, desta vez, diferentemente de 35 anos atrás, não carregavam mochilas, cadernos ou livros. Traziam apenas a saudade e a emoção do reencontro no olhar.
Leia mais:Como adolescentes que foram, ignoravam o salto alto e corriam em direção às colegas de outrora. E se os anos que se passaram, por instantes, trapaceavam a memória, bastava um abraço mais apertado para que se reconhecessem novamente. Já adultas, e algumas aposentadas, julgavam não ter tempo a perder. Em pé no pátio do colégio, desembrulhavam fotos e histórias. Surpresas de uma vida em que — apesar dos caminhos parecidos — estiveram distantes.
— Gurias, vamos para a sala que eu vou tocar a sineta — chamava Veranice Corazza.
Naquela manhã de sábado, 6 de outubro, o anúncio convocava parte dos 33 colegas para retornarem à sala onde a Turma 31 cursou o 3º ano do magistério em 1977, no Instituto Estadual de Educação Nossa Senhora Imaculada, em Tapera, no norte do Estado.
A convite de Zero Hora, 17 ex-alunas ajustaram a agenda para reviver momentos em que muito aprenderam e também aprontaram. A ideia surgiu a partir de uma carta recebida pela colunista de ZH Rosane de Oliveira, que também integrava esse grupo de estudantes do colégio de Tapera. A mensagem foi enviada pela ex-colega Melita Gatto.
Para 13 destas mulheres, professoras ainda ativas, a proposta do reencontro iria além. Era momento de traçar um retrospecto das carreiras. Cada passo dado em direção ao segundo andar do edifício era como um mergulho em lembranças vindas de uma época em que a profissão de professor era vista com grande prestígio. Até chegarem em outra, que os números mostram ser bastante diferente.
Melita Gatto concluiu o Ensino Médio nesta instituição que formava duas turmas de magistério por ano. Hoje, dos 45 alunos da 8ª série para a qual leciona, apenas dois pretendem se tornar professores. Preocupação que cresce ao saber que dos 50 estudantes que frequentam o 3º ano da escola onde trabalha, somente um deseja fazer licenciatura.
Com um longa-metragem de greves, dificuldades e também recompensas em mente, a educadora acompanhada de suas colegas chegaria à antiga classe em um enredo nada parecido com o da última vez que dela saiu. Três décadas de tecnologias e mudanças sociais depois, e com olhar embaçado para o horizonte, Melita revirava lembranças em busca de respostas:
— Quando a gente não sabe como ir adiante, é bom olhar para o passado na tentativa de encontrar o melhor caminho a ser seguido.
O encontro que remete à década de 1970 trouxe à tona datas importantes para a educação no Estado. Em menos de dois anos de formadas, em 1979, aconteceria a primeira greve na rede estadual e a sineta, naquele sábado tocada por Veranice, tornaria-se o símbolo do movimento que endossaria durante toda a carreira.
— Brinco que tenho dois filhos da greve. Eles nasceram na época das manifestações de 1985 e 1987. Lembro de não ter tirado nem sequer um dia de licença-maternidade em função disso — lembra Veranice.
Lembranças pessoais se misturam às experiências profissionais
Para estas mulheres que se desdobram entre o trabalho e os compromissos em casa, torna-se tão impossível dissociar as lembranças profissionais das pessoais que muitas se consideram verdadeiras "mãezonas" também para os alunos. Assim se sente Angela Paludo, que naquele sábado revisitava o Imaculada na companhia do marido — reconhecido pelas colegas como o paquerinha que, a cada término de aula, marcava ponto na porta da escola à espera dos afagos da jovem.
De Victor Graeff, onde mora, até Tapera, os 22 quilômetros já haviam sido de recordações. Ao ocupar mais uma vez os bancos de antigamente, a professora de português relembrava do vigor do magistério quando ingressou na profissão. Para Angela, os anos em sala de aula e os embates travados não eram somente por melhores salários:
— Aprendi a lutar, a ser idealista e, principalmente, que o grupo pode mais do que um sozinho. Juntos, temos de fazer uma revolução no ensino. Com trabalho, dedicação e muito esforço.
A turma de 77
Anne Denise Braatz, professora de Artes
Angela Paludo, professora de Português
Carla Rejane Gehrke, cursou Enfermagem
Elaine Batistella, falecida em 1989
Eunice Batistella, funcionária pública
Evelise Eckert, pecuarista
Jane Nascimento
Ledani Sbabo, professora da Apae
Ledi Maria Gatto, professora em Unaí (MG)
Lorésia Inês Walter dos Santos, professora
Loraci Schmitz
Margaret Bolico
Marlise Braatz, professora de Português
Marli Welzel
Margarete Coralo, professora
Maria de Lourdes Bervian, professora
Maria Helena Favaretto
Melita Inez Gatto, professora de Português
Neusa Moreira, professora em Blumenau
Noemi Claas
Neli Tirloni
Plínio Seger
Rejane Avozani, professora de Educação Física
Resinha Luísa Gehrke, professora
Rosane Freitag, dona de salão de beleza
Rosana Siega Hollmann, professora em Campo Bom
Rosane de Oliveira, jornalista
Sandra Fiuza
Vera Lúcia Bertani Ottoni
Veranice Batistella Corazza, professora de Educação Física
Terezinha Sivolanda de Oliveira, professora
Zulmara Anguinoni, professora de Inglês
Nair dos Santos Dias, professora
* Zero Hora não conseguiu contato com todos os integrantes da turma.
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