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Ensino Fundamental  | 14/10/2012 17h43min

Professora de Blumenau lecionou para três gerações da mesma família

Norma Ubatuba, de 66 anos, tem 48 anos de sala de aula  

Cristian Weiss  |  cristian.weiss@santa.com.br


Uma história de cinco décadas separa o pequeno Bruno do pai Carlos e da avó Neusa. Aos nove anos, o garoto de bochechas fartas, olhos de jabuticaba e dentes grandes está no 4º ano do Ensino Fundamental da Escola Vidal Ramos, em Blumenau. Tem a seu dispor celular, sala de computação, material didático e a atenção da professora Norma Ubatuba.

O menino está apenas no início da jornada escolar, mas apresenta bom desempenho e conta com o incentivo do pai, Carlos Klüser, de 38 anos. Na corrida do dia a dia, Carlos divide-se entre a função de motoboy em uma gráfica e a de frentista num posto de gasolina. Teve de abandonar cedo os estudos. Aos 14 anos, recém aprovado para a 6ª série, começou a trabalhar com serviços gerais. Drama semelhante da mãe e avó de Bruno.

Dona Neusa tem 57 anos e lembra com saudade a época da escola. Moradora da Rua Armindo José Leite, no Bairro da Velha, tinha de caminhar muito para assistir às aulas no Colégio Adolfo Konder. Menina espoleta, admite ter sido bagunceira. Mas foi a dureza da vida que lhe impôs dificuldades de aprender. Aos 12 anos, ainda estava na 3ª série. Havia dias que mal tinha material para usar nas aulas. Desmotivada, largou. Apesar de trilharem caminhos diferentes na escola, uma coisa une neto, pai e avó: a professora.

Aos 66 anos, Norma Ubatuba orgulha-se de ter ensinado três gerações da mesma família. Professora desde 1964, quando cursou o magistério na Escola Pedro II, tem 48 anos de sala de aula e um objetivo: alcançar os 50. Estudou Pedagogia na Furb na década de 1960, mas nunca se formou. A menina que ensaiava aula de cálculos e caligrafia em frente às bonecas, descobriu a profissão por vocação, inspirada nos primeiros mestres, Altamir da Silva e Maria de Souza.

Norma dá aulas de manhã e à tarde para 53 alunos do 4º ano da Escola Vidal Ramos, onde leciona há 16 anos. Por quase três décadas, trabalhou na Adolfo Konder, escola em que lecionou para Neusa, em 1965, e Carlos, em 1988. Aposentou-se em 1991, mas suportou somente por seis meses a distância das salas de aula. Em fevereiro deste ano, reencontrou-se com a família Klüser ao ter Bruno entre seus pupilos. Quase meio século depois, a experiente professora reflete sobre as mudanças por qual passou o sistema de ensino.

— Na prática, não mudou muito. Antes parecia ser mais simples, os alunos respeitavam mais. Hoje é difícil os pais acompanharem os filhos em casa. Terem tempo, se interessarem. A didática se mantém, mas os métodos mudaram — garante.

Os processos mudaram, mas o ensino continua o mesmo

Quando Neusa era aluna de Norma Ubatuba, o país havia recém entrado para o regime da Ditadura. Educação Moral e Cívica era disciplina obrigatória. A alfabetização ainda se baseava na cartilha e os jovens usualmente completavam somente até a 8ª série. Eram raros os colégios que ofereciam o Ensino Médio científico. Os professores eram mais rigorosos na sala de aula. A valorização da figura do professor também era mais acentuada.

— Naquele tempo, todas as meninas queriam ser professoras. Mais de 20 ex-alunas minhas se tornaram professoras. Hoje, tem alunos que nos tratam como se fossemos coleguinhas. E em termos salariais também estamos desvalorizados — compara Norma.

O rigor na sala de aula desapareceu com o tempo. Para Norma, hoje o professor tem de ser maleável e tolerante. Castigos a alunos desobedientes são proibidos. Os pais não chamam mais o professor de senhor e os alunos parecem desconfiar de tudo o que dizem os mestres.

Ao menos surgiram as figuras da coordenadora de ensino e da psicopedagoga, para elaborar novos planos de ensino e identificar deficiências de aprendizagem das crianças. Pró-reitora de Ensino e professora do Mestrado em Educação da Univali, Cássia Ferrari observa a transformação do ensino e dos alunos. Antes, eram passivos, pressionados pelo regime autoritarista. Hoje, tornaram-se sujeitos mais ativos na sala de aula. O respeito e autoridade precisam ser conquistados pela argumentação e pela demonstração de conhecimento.

O que mudou entre a avó Neusa e o neto Bruno não foi o ensino. Eles continuam sendo alfabetizados, aprendem a ler e escrever, a calcular e observar os fenômenos naturais e sociais ao redor. Mas agora há mais materiais disponíveis, o auxílio do computador e da tecnologia, a facilidade do acesso à escola e das políticas públicas de inclusão das crianças na sala de aula. O desafio do professor é encarar a mudança de perfil dos alunos e se adaptar para transmitir o conhecimento.

— O problema seria alfabetizar o neto com os mesmos recursos que alfabetizou a avó. Antigamente, o professor era quem dava as respostas. Hoje não é mais assim. Está aí o Google para provar isso. Hoje, a gente ensina a fazer as perguntas certas. Somos as fontes das perguntas, não mais a fonte das respostas — acredita Cássia.

Apesar de moderna e descolada, Norma abre mão do telefone celular e tem saudade de escrever na lousa com o giz. A letra fica mais bonita, diz ela.

Leia a matéria completa na edição impressa do Santa desta segunda-feira.

JORNAL DE SANTA CATARINA
Artur Moser / Agencia RBS

Norma hoje é professora de Bruno, mas já lecionou para o pai e a avó dele
Foto:  Artur Moser  /  Agencia RBS


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