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Entrevista  | 08/10/2012 09h12min

Entrevista: Michael Barber, conselheiro da Pearson, desenvolve projetos para a educação em países emergentes

"O mais importante é investir bem o dinheiro", afirma ex-assessor de Tony Blair

Há inúmeros caminhos para transformar a educação. Porém, nem todos são fáceis, nem agradam a todo mundo. Depois de renovar o ensino da Inglaterra com medidas polêmicas – como o fechamento das escolas com desempenho ruim –, desde 2011 sir Michael Barber é Conselheiro Educacional Chefe da Pearson, uma das maiores empresas de educação do mundo, com atuação em mais de 60 países.

Hoje, o ex-assessor direto de Tony Blair trabalha com desenvolvimento de produtos e serviços, com foco em economias emergentes. Caso do Brasil, que já foi tema de estudos do especialista, também professor das universidades de Harvard e Londres. Confira na entrevista a seguir (feita por e-mail), a avaliação que Barber faz da educação brasileira.

Quais foram os pontos fracos encontrados nas escolas britânicas? Eles também existem em outras escolas do mundo?

Michael Barber – A maior fragilidade das escolas britânicas é a variação de orçamento. Muitas crianças de origem pobre não progridem o suficiente. E, sim, esse problema é encontrado, entre outros, em países como a Austrália e também nos Estados Unidos.

Quais as ações necessárias para melhorar a educação? Como estudantes e professores podem se envolver nisso?

Barber – Os três passos mais importantes são: estabelecer patamares claros dos conteúdos que as crianças devem aprender, mensurar o progresso escolar, no nível local e global, e assegurar, por meio do recrutamento e do desenvolvimento profissional, que os professores possuam as habilidades necessárias para educar.

A democracia brasileira é considerada consolidada, ainda que jovem. Que desafios o país deve enfrentar para que as políticas de educação perdurem em diferentes administrações?

Barber – As maneiras mais importantes de assegurar a continuidade são, primeiramente, alavancar apoio para mudanças através de empresas e líderes comunitários e, em um segundo momento, solucionar os problemas em sua raiz, para que as pessoas dentro e fora do sistema educacional possam ver e sentir o sucesso das mudanças.

No Brasil, boa parte dos programas nacionais de avaliação do ensino são aplicados pelo governo. Nós deveríamos começar a trabalhar com agências independentes, como ONGs?

Barber – Desde que os sistemas de avaliação sejam robustos e livres de influência política, não há problema que o governo os aplique. Muitos países criam agências independentes do Ministério da Educação, para implementar avaliações que sejam independentes e seguras. Organizações sem fins lucrativos, como o excelente Pratham, com atuação na Índia, também podem contribuir, ainda que às vezes elas tenham seus próprios interesses.

Hoje 5,1% do Produto Interno Bruto do Brasil vai para educação, enquanto algumas entidades tentam dobrar essa taxa. Há um percentual ideal do PIB que deva ser destinado para a educação? O Brasil está longe deste número?

Barber – Não existe uma porcentagem ideal. O mais importante é investir bem o dinheiro. De maneira geral, governos em todo o mundo estão gastando mais nas escolas, mas frequentemente reduzindo o subsídio para o Ensino Superior. Indivíduos e companhias também estão gastando mais, então um aumento no percentual do PIB é equivalente. O Brasil está aumentando o investimento em educação de maneira muito rápida, o que pode ser um risco para a qualidade. Nesse caso, uma boa gestão é essencial.

O senhor já afirmou em entrevistas que o Brasil tem boas iniciativas em educação, ainda que elas sejam isoladas. O que esses projetos têm em comum?

Barber – A liderança em nível estadual, como em Minas Gerais, por exemplo, é uma condição necessária para o sucesso. No Ensino Superior, certas organizações privadas têm tentado inovar radicalmente, e, quando elas obtêm sucesso, isso desperta o interesse de outros Estados. Por exemplo, a Universidade Anhanguera tem uma abordagem inovadora para o ensino a distância de baixo custo, com um modelo de distribuição mais espraiado.

Considerando a alta diversidade do Brasil, quais problemas deveriam ser de responsabilidade do governo federal e quais deveriam ser preocupação dos Estados e municípios?

Barber – Infelizmente, não existe uma resposta exata para essa pergunta. O sucesso na Educação Básica, definitivamente, depende do Estado. O governo federal deveria definir parâmetros nacionais, criar metas nacionais, expectativas alcançáveis e utilizar sua crescente capacidade de financiamento para garantir um maior equilíbrio.

DIOGO FIGUEIREDO  -  Especial
Divulgação / Divulgação

Barber, que atuou no governo Tony Blair como seu assessor direto, ficou conhecido por fechar as escolas com desempenho ruim
Foto:  Divulgação  /  Divulgação


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