Educação Básica | 25/09/2012 00h11min
A crise no Ensino Médio brasileiro ganhou novos contornos na sexta-feira, com a publicação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).
No mês passado, os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) haviam escancarado a falta de qualidade na modalidade de ensino. Agora, a pesquisa do IBGE mostra que também há retrocesso na quantidade.
De 2009 a 2011, revela a Pnad, caiu a proporção de jovens na faixa etária correspondente ao Ensino Médio que estão frequentando a escola. Há três anos, 85,2% dos brasileiros entre 15 e 17 anos eram estudantes. No ano passado, o índice recuou para 83,7%. Houve redução até mesmo em números absolutos, apesar do aumento populacional.
Os dados sugerem uma perigosa reversão de tendência, depois de um período prolongado de expansão do secundário. Em 1992, apenas 59,7% dos brasileiros de 15 a 17 anos eram estudantes. Em menos de duas décadas, o índice avolumou-se em 25%. Os percentuais aumentaram ano a ano, ou pelo menos permaneceram estáveis, até o declínio registrado do ano passado.
No Rio Grande do Sul, a fuga da escola de adolescentes de 15 a 17 anos foi ligeiramente mais acentuada do que no resto do país. De 2009 a 2011, a proporção de estudantes entre esses jovens caiu de 85,3% para 83,5%. Há poucas dúvidas entre os especialistas de que esse grupo etário vem abandonando o sistema de ensino porque o modelo brasileiro de escola secundária se esgotou.
— Há indicadores claros de que o Ensino Médio não é atrativo, em dois sentidos: na maneira como é ministrado pela escola e como forma de conseguir lugar no mercado de trabalho. O ensino é burocratizado, não entusiasma e não oferece perspectivas para a vida prática — afirma Fernando Becker, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Esforço para aproximar a escola do aluno
No mês passado, depois da divulgação dos resultados do Ideb, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, defendeu a necessidade de reformular o secundário, mexendo no currículo e na organização das disciplinas. Uma transformação nesse sentido foi adotada neste ano letivo nos 1.053 estabelecimentos estaduais de Ensino Médio gaúchos.
A reforma em implantação pela SEC procura aproximar a escola da realidade do aluno, mostrar as relações existentes entre as diferentes áreas do conhecimento e oferecer espaços para que o estudante desenvolva projetos do seu próprio interesse.
A mudança, segundo o secretário da Educação Jose Clovis Azevedo, foi motivada pelo diagnóstico de que o nível de ensino estava descolado do mundo real. Azevedo não ficou surpreso com os números do Pnad:
— Em 2010, havia 76.344 jovens de 15 a 17 anos fora da escola no Rio Grande do Sul. Eles não viam perspectivas no Ensino Médio, principalmente os de classes mais vulneráveis. Mudar a situação não é fácil, mas, com a reforma, esperamos ter indicadores melhores dentro de três ou quatro anos.
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