Ensino Fundamental | 20/09/2012 09h15min
As olheiras e o sulco do rosto denunciam o cansaço, mas o professor resiste com bom humor. João caminha apressado nos corredores do Cedup Hermann Hering, no Bairro Escola Agrícola, em Blumenau. Já são 11h e o professor de Matemática está apenas no começo da jornada. Sob os cuidados dele, estão mais de 800 alunos semanalmente.
Além de dar aulas de Matemática para o Ensino Médio, é professor de Estatística, Matemática Financeira e Física. Leciona também no Conjunto Educacional Governador Celso Ramos, acompanha alunos do ensino a distância do Colégio Vale do Itajaí e ainda arranja tempo para orientar alunos da graduação de Matemática num polo da UFSC em Indaial. É correria de segunda a sábado. João acorda às 6h15min e dá aulas até 22h30min.
A rotina não permite dedicar um tempo para a preparação das aulas ou conteúdos diferenciados que abordará com os alunos. Atribui à necessidade financeira o motivo pelo qual se tornou adepto da maratona diária.
Para Janayna Aparecida de Campos, a realidade é outra. Ela é professora de Língua Portuguesa na rede municipal desde 1998 e há cinco anos obteve praticamente um privilégio entre os docentes da rede pública: lecionar em somente uma escola. Desde 2007, trabalha com alunos do sexto ao nono ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Anita Garibaldi, no Bairro Itoupava Central. Das 7h às 17h, a dedicação é exclusiva às atividades das escolas, às dúvidas dos alunos, à correção de atividades e à preparação das aulas.
Trabalha de segunda a sexta e às terças-feiras pode se dedicar em casa à pesquisa e elaboração do conteúdo a ser usado em sala de aula nas quatro turmas matutinas e três vespertinas em que leciona.
A tranquilidade do dia a dia permite o desenvolvimento de práticas pedagógicas diferenciadas pela professora. Com os alunos da oitava série B, Janayna trabalhava a produção textual dos alunos a partir da confecção de cartazes, anúncios e brincadeiras. E tudo para evitar as provas: os alunos podem ser avaliados o tempo todo sob a tutela da professora.
Em relatório publicado em 2010, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entidade que agrupa os países mais industrializados do mundo, apontou como um dos principais problemas na educação em Santa Catarina o perfil de professores itinerantes. Uma das recomendações do estudo é a redução do número de instituições aos quais estão vinculados os professores da educação básica no Estado.
Professora de Políticas Públicas, História e Legislação de Ensino da Furb, Vânia Tanira Biavatti classifica a rotina do professor com exercício em mais de uma instituição como a regida pela sobrecarga de atividades. A causa, segundo ela, está na aplicação das políticas de contratação, que mal conseguem manter o professor em até duas escolas, devido à defasagem.
— Se há um aspecto positivo, é difícil encontrar. Porque o professor não consegue criar vínculos com os colegas, com a comunidade e com os alunos. E a solução, é aquela repetida por todos: mais investimento — avalia Vânia.
Para a pró-reitora de Ensino e professora do Mestrado em Educação da Univali, Cássia Ferrari, o ideal a um professor é que trabalhe 40 horas semanais e dedique 20 horas remuneradas somente para preparar os conteúdos de sala de aula, avaliar os alunos, pesquisar e aperfeiçoar os conhecimentos.
— O professor é contratado para trabalhar por hora e não por quantidade de turmas. O problema não é atuar em mais de uma escola, mas sim a sobrecarga de trabalho, que não permite ao professor se dedicar aos alunos e compromete os resultados da educação — acredita.
Professores de Artes e Religião são os que atuam em mais escolas
Segundo a gerente de Ensino Fundamental da rede municipal de Blumenau, Iodéte Modro, é mais comum professores de Artes e Ensino Religioso manterem rotina migratória entre as escolas. As disciplinas oferecem de uma a duas aulas por semana a cada turma. Disciplinas como Língua Portuguesa, com até cinco aulas, e Matemática, com quatro, costumam preencher a grade de horários do professor em uma única escola.
— Para o pedagogo dos anos iniciais é mais fácil permanecer em uma só instituição, mas nos anos finais é mais complicado porque os professores que pretendem trabalhar mais horas precisam encaixar horários — explica.
— O professor precisa ter salário compatível, com jornada em uma única escola. Não precisaria pegar ônibus, prejudicar o tempo de lazer com a família e restringir o contato com a comunidade – defende a diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Santa Catarina, Claudete Mittmann.
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