Distorção idade-série | 17/09/2012 11h55min
Ele tem 17 anos, mas ainda está no 1º ano do ensino médio. Ela tem 18 e ainda termina o terceirão. Ter uma idade diferente do restante da turma no ensino médio é mais comum do que se imagina.
Em Joinville, 17,3% dos estudantes de escolas públicas da rede estadual estão fora da série correspondente, de acordo com índice de distorção de idade-série do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) de 2010 – os dados mais atuais do MEC.
A média é bem menor do que a brasileira, que alcançou 34,5%, e da estadual, com 18,5%. A nota também é mais satisfatória que a do ano anterior, de 2009, quando o índice era de 18,3% em Joinville.
Se forem somados ainda os números das escolas privadas – que apresentam baixos índices de distorção – a estatística total dos estudantes diminui e cai para 14,2% em 2010. O principal motivo para este número, esclarece a gerente regional de Educação, Clarice Portella de Lima, são as reprovações que ocorreram em anos anteriores.
A partir deste ano, o governo do Estado não reprova mais. Foi implantado o Programa de Correção de Fluxo de Idade-série: Recuperação dos Saberes, pelo qual os estudantes são matriculados em turmas especiais, com um projeto pedagógico diferenciado. O objetivo é entrar no ensino médio com a idade certa. A partir dos próximos anos, a expectativa é que o número de distorção diminua.
— Mas o grande problema é o aluno que se evade da escola. Quando ele volta, não acompanha sua turma e fica um ano atrasado — explica a gerente regional.
Em uma série diferente que a sua, o aprendizado do aluno também pode decair.
— Ele vai ter ideias diferentes do grupo. Vai dar um choque — avaliou Clarice.
Para melhorar o índice, além da correção de fluxo, a gerente regional aposta nos projetos do ensino médio inovador, com o qual os alunos têm aulas durante o dia inteiro três vezes por semana – o Programa Mais Educação.
— É um projeto do governo federal, que traz recursos para as escolas e apresenta disciplinas como arte e música, além de aprendizados de matemática e português, em aulas extracurriculares — enfatizou Clarice.
Atualmente, seis escolas de Joinville têm o programa. Para Rosânia Campos, professora da Univille e mestre em educação, é preciso repensar o ensino médio.
— Precisamos de políticas públicas para a juventude. É importante pensar num currículo inovador. Mas na minha opinião, se isto não for articulado com a valorização do professor, não vamos conseguir — complementou.
Quebrando barreiras
Na Escola Estadual Osvaldo Aranha, do bairro Glória, 2009 foi um ano positivo. Apenas 5,6% dos cerca de 650 alunos não estavam na série correspondente. No ano seguinte, em 2010, a estatística aumentou para 7%.
Mesmo assim, é a escola pública com o melhor índice de distorção idade-série de Joinville. Para diminuir novamente o número, ainda em 2010, o governo do Estado implantou na escola o Programa Ensino Médio Inovador, que pretende evitar a evasão de alunos e melhorar a qualidade de ensino.
Segundo a diretora Daniela Azambuja, a ideia tem funcionado. Uma das disciplinas diferenciadas escolhidas a dedo, justamente para motivar os jovens na escola, é empreendedorismo.
— Nas aulas, eles ficam sabendo como funciona o mercado de trabalho. Aprendem sobre marketing e comunicação, e até a fazer um currículo — lembrou Felipe Ricardo Lovemberger, um dos professores responsáveis.
A ideia vai ao encontro do objetivo de evitar a evasão da escola e, consequentemente, diminuir a distorção de idade-série.
— Como eles estudam justamente a área que interessa (trabalho), sinto que eles estão mais motivados — avalia a diretora.
Entre os alunos – pelo menos na turma dos 1os anos – o que se sente é que o inovador veio mesmo para ficar. Eles não reclamam de precisar permanecer na escola até as 16 horas três vezes por semana.
— Temos matérias interessantes e tira muita gente da rua, do ócio — comentou o aluno Douglas Teixeira Manoel, 15 anos.
Para o colega Paulo Cézar Gomes, 15, o começo foi meio estranho.
— Me acostumei com este ritmo. Agora acho tranquilo — disse.
Gabriela dos Santos Garcia, 15, concorda.
— A gente aprende muita coisa diferente com estas disciplinas — afirmou a garota.
Questionados se eles pretendiam deixar os estudos para trabalhar ou realizar outra atividade, a resposta “é claro que não” predominou entre todos os amigos. E mudar a mentalidade e os objetivos neste período da vida é difícil. Um ponto ganho para a escola.
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