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Distorção idade-série  | 17/09/2012 06h35min

De modelo a toda escola

Colégio do noroeste gaúcho tem quase 95% dos estudantes na turma adequada para a idade

Marcelo Gonzatto  |  marcelo.gonzatto@zerohora.com.br

Uma escola estadual gaúcha conseguiu superar o drama da defasagem escolar — que afeta um terço dos estudantes brasileiros no Ensino Médio — colocando em prática medidas simples mas eficazes.

A estratégia aplicada pela Escola Estadual Madre Madalena, no município de São José do Inhacorá, eliminou o abandono no Ensino Fundamental e derrubou a repetência ao longo de toda a Educação Básica, permitindo que 94,6% dos estudantes estejam na série apropriada para a idade.

A chamada distorção idade-série, conforme reportagem publicada ontem em ZH, é gerada por elevados índices de reprovação e abandono fomentados pela má qualidade do ensino. Enquanto esse índice chega a 34,5% no país e 30,5% no Rio Grande do Sul, fica em apenas 5,4% na instituição do município de 2,4 mil habitantes — cerca de seis vezes menor que a média nacional das redes pública e privada. Esse é o melhor desempenho registrado por uma escola estadual de perfil convencional — sem incluir estabelecimentos técnicos ou vinculados à Brigada Militar, por exemplo.

O segredo da única escola de Ensino Médio da cidade localizada no noroeste do Estado é uma estratégia que combina projetos pedagógicos especiais com um sistema de apoio aos estudantes com dificuldades.

— Evitar a repetência e, dessa maneira, a distorção idade-série, é uma preocupação nossa há muito tempo. Para isso, trabalhamos também em conjunto com o município — afirma a diretora do colégio, Carmeli Maria Escher.

Projetos estimulam prática da leitura em família

Como o estabelecimento de 164 alunos recebe também egressos do Ensino Fundamental da rede municipal, há um contato permanente entre os educadores das duas redes. Quando um estudante chega com alguma dificuldade de aprendizagem, os professores do Madre Madalena já estão conscientes do problema.

Os educadores desenvolvem ainda vários projetos de reforço. Um deles envolve a prática da leitura — e, a cada ano, a iniciativa é modificada para despertar interesse sempre renovado dos alunos. Este ano, foi instituída a chamada "mala da leitura" para estimular a prática de ler em família. Nessa mala são colocados livros e revistas variados, que os alunos levam para casa em sistema de rodízio e dividem com os parentes para um momento conjunto de leitura. No ano passado, o projeto estabelecia que cada professor levasse para a aula um texto que despertasse o interesse da turma — desde o que é a felicidade até o uso de piercings — e distribuísse cópias para posterior discussão.

Lições são oferecidas no turno inverso da aula

Além disso, o desempenho dos estudantes é seguido de perto pelos professores. Ao sinal da primeira dificuldade com um conteúdo, entra em ação um sistema de reforço pedagógico. No turno inverso da aula são oferecidas lições complementares para que a criança ou o adolescente consiga vencer o conteúdo previsto e afastar o fantasma da reprovação. Como consequência, apenas 2,3% do alunado perde o ano no Ensino Médio. Isso é quase 10 vezes menos do que a média gaúcha, a mais alta do país nesse ciclo de ensino.

— É preciso combater a alta taxa de reprovação, mas assegurando aprendizagem. Reprovação alta pode ser resultado de uma concepção conservadora da escola. Ao mesmo tempo, aprovar sem assegurar o direito a aprender dos alunos é uma desculpa para a ineficiência do sistema escolar — afirma a especialista em educação e ex-secretária estadual Mariza Abreu.

As lições

Confira os principais pilares da estratégia que garante os bons resultados da escola estadual gaúcha:

AVALIAÇÃO CONSTANTE

Um dos pilares da escola do interior gaúcho é monitorar constantemente o desempenho dos alunos para que seja possível detectar eventuais problemas de aprendizagem assim que eles surgem. Isso não é feito somente por meio de avaliações formais, como provas, mas pela análise diária do aproveitamento do aluno em sala de aula. Para isso, os professores precisam estar orientados e motivados.

ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA

É preciso ter uma estratégia comum para que todos os professores saibam o que fazer quando um aluno começa a ter dificuldades de aprendizagem. A escola Madre Madalena disponibiliza lições de reforço no turno inverso às aulas. Qualquer aluno pode frequentar as lições especiais até superar a dificuldade específica na disciplina, e voltar a elas sempre que necessário. Isso exige espaço e profissional habilitado, mas é fundamental para prevenir a reprovação.

PROJETOS ESPECIAIS

Além do ensino tradicional em sala de aula, a escola investe também na realização de projetos especiais que despertam a atenção dos alunos, por vezes envolvem o restante da família e ajudam o estudante a fixar conteúdos. Um dos projetos recentes, por exemplo, envolvem a realização de seminários em que os estudantes pesquisam um assunto e fazem uma exposição sobre ele posteriormente, de preferência, usando gráficos, equipamentos e desenvolvendo a capacidade de expressão.

PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA

Para driblar eventuais dificuldades, é fundamental contar com o apoio e a presença da família na escola. Para isso, são desenvolvidos projetos que incluem a participação dos familiares (como o programa de leitura em casa) e conta com eles para discutir a melhor estratégia pedagógica para alunos com dificuldades. Isso melhora o desempenho e reduz o risco de abandono.

FOCO INDIVIDUAL

O colégio consegue manter-se atento ao desempenho de cada aluno e desenvolver ações de recuperação para que ninguém fique para trás em relação ao resto da turma. Para isso, porém, é preciso ter professores com tempo e motivação para avaliar cada estudante, perceber variações no aproveitamento de cada um em sala de aula e buscar saídas.

Clóvis Pacheco / Especial

Motivação dos professores para observar desempenho individual dos estudantes é uma das táticas
Foto:  Clóvis Pacheco  /  Especial


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