Educação Básica | 11/09/2012 09h06min
À primeira vista, a Escola Estadual Vicente Goulart é uma instituição melhor do que a média. Situada na zona urbana de Itacurubi, é feita de alvenaria, tem rica biblioteca, bom laboratório de informática e salas de aula climatizadas. Os cerca de 300 alunos contam com área de recreio coberta, ginásio de esportes, e só transitam pelas dependências da escola usando uniforme. E recebem aulas de professores pós-graduados.
Mas nem toda a infraestrutura e recursos humanos disponíveis serviram para garantir um bom desempenho da escola no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em 2011. A escola obteve nota 2,3 na avaliação dos anos finais do Ensino Fundamental – é o pior desempenho entre as escolas da região de cobertura do Diário. O resultado da avaliação entristeceu o corpo docente da Vicente Goulart, mas abriu espaço para uma reflexão profunda sobre as causas do fracasso no índice.
Aproximadamente 70% dos alunos vivem na zona rural, dependem de transporte escolar e madrugam para chegar na escola no horário (a rota mais longa do ônibus escolar leva duas horas para ser cumprida), chegando cansados às aulas. Segundo a direção, o perfil do aluno da escola é de quem integra famílias pouco letradas e não consegue reconhecer o valor de avaliações que não interfiram diretamente em sua média escolar. No dia em que a Prova Brasil foi aplicada à turma de 8º ano, em 2011, não havia 20 alunos na sala de aula. Quem foi mal, ajudou a determinar o índice ruim do colégio. Mas a escola faz mea-culpa:
– Vamos ter de mudar métodos e estratégias para melhorar o rendimento. A escola ainda não está no nível da prova, que, além de conhecimentos, exige raciocínio. Acho que ainda somos uma escola muito tradicional. Fazemos avaliações quantitativas, e não qualitativas, enquanto universidades e até o Enem estão mudando de perfil – diz a supervisora da escola Vanise Desconzi Guerra.
Acesso à cidade onde está localizada a instituição é um complicador
Vontade de mudar não é o problema, segundo a professora. A dificuldade reside na própria cidade, distante 32,3 quilômetros de Santiago, município de referência, via estrada de chão batido. A imensidão de poeira e buracos afasta a possibilidade de realização de cursos de formação continuada na cidade, além de ser pouco atraente para novos professores.
– A maioria dos professores aqui é de Santiago, São Borja, São Luiz Gonzaga. Quando alguém precisa ser substituído, é dificílimo, ninguém quer vir por causa do acesso. Há dois anos, precisamos de um professor de português, e ele só chegou em 6 de maio. Para fazer um curso, só viajando. Para isso, é preciso tempo e dinheiro. Mas muitos professores estão estudando a distância, via internet. É um começo – conta Tessio Martinez da Silva, professor de matemática e supervisor do noturno.
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Foto:
Jean Pimentel
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