MEC | 08/09/2012 06h16min
Formada em Ciências Políticas e Alemão pela Universidade do Arizona, Patricia Mota Guedes é mestre em Administração Pública pela Universidade de Massachusetts e em Políticas Públicas pela Universidade de Princeton. Já coordenou programas de educação e saúde para crianças e adolescentes no governo do Estado de Massachusetts, nos Estados Unidos. Desde 2001, é pesquisadora e gestora de projetos na área de educação e hoje atua na Fundação Itaú Social como especialista em gestão educacional. Para ela, a gestão é uma área estratégica para melhorar a qualidade das escolas. Abaixo, confira a entrevista concedida por Patrícia a Zero Hora por e-mail.
Zero Hora — A economia do Brasil vem crescendo, mas a educação ainda alça voos tímidos. A gestão pode ser considerada um entrave importante nesse processo?
Patricia Mota Guedes — A gestão educacional é uma área estratégica para melhorar a qualidade de nossas escolas públicas, pois abrange eixos estruturantes como a seleção e a formação de professores e gestores, o currículo, financiamento, sistemas de acompanhamento, de avaliação e a aproximação com as famílias. Nesse sentido, as secretarias de educação precisam de capacidade interna de gestão para planejar, implementar e avaliar políticas para cada um desses pontos. Além disso, dentro e fora do Brasil, escolas com mais alunos em situação de vulnerabilidade enfrentam desafios maiores para garantir o direito de aprendizagem. Aprimorar a gestão educacional de uma rede, portanto, também envolve desenvolver estratégias específicas para essas comunidades mais vulneráveis, garantindo padrões básicos de qualidade de ensino para todos.
ZH — Como o conhecimento sobre gestão pode auxiliar diretores a melhorar a qualidade do ensino?
Patricia — Dirigir uma escola é uma atividade extremamente complexa. Envolve não só gerir recursos físicos e financeiros, mas pessoas. Também tem uma dimensão importante de relação com as famílias e a comunidade. O dia a dia da escola requer trabalho em equipe e criatividade, em um ambiente onde o professor tem uma autonomia considerável na sala de aula, quando comparada a outras profissões. O diretor de escola precisa ser uma liderança pedagógica capaz de inspirar, mobilizar e apoiar professores e funcionários em prol do aprendizado de todos os seus alunos. Não se pode, portanto, exigir que um diretor já chegue pronto, dominando todas essas competências. É papel do sistema educacional qualificar esses profissionais para que possam ter êxito em seu trabalho.
ZH — Como a senhora enxerga a posição da educação brasileira hoje em relação a outros países?
Patricia — O Brasil tem conseguido obter avanços significativos em um curto espaço de tempo, se considerarmos que a ampliação do acesso ao Ensino Básico é um fato recente em nossa história. Há ainda muito a avançar e, ao mesmo tempo, já podemos observar experiências com êxito de redes públicas daqui. Os sistemas educacionais de maior desempenho no mundo, incluindo os que têm conseguido maior evolução nas últimas duas décadas, são aqueles que combinam qualidade com equidade. Ou seja, desenvolvem políticas públicas focadas em promover o sucesso escolar para todas as crianças e jovens, independentemente da sua posição socioeconômica. Além disso, esses países evitam políticas que conduzam à repetência e ao abandono escolar. A questão é se perguntar em quais áreas são feitos os investimentos, e como se avalia sua eficácia na aprendizagem.
ZH — Atualmente, parte dos diretores das escolas não tem formação focada na gestão. Existem iniciativas que podem auxiliar nesse aspecto?
Patricia — Já podemos observar uma busca por estratégias de certificação de candidatos a diretores, que envolve a formação. Ou seja, já há um reconhecimento de que o processo de seleção — seja ele nomeação, concurso ou eleição — por si só não garante as condições necessárias para que o gestor escolar tenha um bom desempenho em sua função. Ainda precisamos avançar mais em conteúdos e estratégias de formação inicial e continuada que instrumentalizem e apoiem gestores escolares para lidar com a complexidade do cotidiano escolar. Estratégias como tutoria e residência para diretores — acompanhamento prático de alguém mais experiente, no próprio cotidiano da escola — são ainda pouco conhecidas no Brasil como as áreas de política pública. Nós, adultos, aprendemos observando, dialogando, colocando em prática, aprendendo com nossos erros e tendo alguém para nos auxiliar nesse processo.
ZH — O que é importante para a formação de diretores?
Patricia — A formação de diretores precisa estar articulada a elementos relevantes da gestão. Podemos elencar alguns:
1) Perfil, atribuições e competências de um gestor escolar para que sua atuação tenha foco na melhoria da aprendizagem dos alunos.
2) Critérios, instrumentos e processos de recrutamento e seleção eficazes, transparentes e consistentes na avaliação de candidatos.
3) Oportunidades de liderança entre professores e outros membros da equipe escolar (grupos de trabalho inter e intraescolares, forças-tarefa, mentores, redes colaborativas), a fim de identificar e desenvolver futuros gestores e diretores em potencial.
4) Plano de carreira atrativo que reconheça o desempenho dos profissionais e possua maior flexibilidade e mobilidade.
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