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A Educação Precisa de Respostas  | 08/09/2012 16h35min

Coreia do Sul e Finlândia são exemplos de como se investir na educação

Mesmo com sistemas distintos, ensino de ambos os países pode servir de modelo para a educação brasileira

Marcelo Gonzatto  |  marcelo.gonzatto@zerohora.com.br

Dois países com dimensões, culturas e sistemas escolares bastante diferentes vêm conseguindo resultados parecidos, nas últimas décadas, na missão de educar crianças e adolescentes com excelência. A Coreia do Sul e a Finlândia costumam ocupar posições de destaque nos rankings do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), exame que mede o quanto alunos de mais de seis dezenas de países – incluindo o Brasil – aprendem em leitura, matemática e ciências.

O destaque na comparação internacional, na qual os brasileiros não conseguem ficar entre os 50 melhores, é conquistado apesar de contrastes entre os modelos. Ambos, porém, oferecem lições capazes de catapultar o desempenho do Brasil.

Enquanto os coreanos aplicam um sistema baseado na tradicional disciplina, com muitas horas diárias de estudo e investimentos pesados do governo, os finlandeses são bem menos formais e aplicam comparativamente menos dinheiro no sistema educacional. O pilar que sustenta os dois modelos, porém, é o mesmo: seleção e formação de professores de ponta, com reconhecimento profissional e boas condições de trabalho.

Na Coreia, a prioridade é a educação básica. Todas as escolas têm dois turnos, e os melhores professores estão lá, não no Ensino Superior – comenta o doutor em Educação e diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) no Estado, José Paulo da Rosa, que visitou o país oriental em 2009. Na Finlândia, a disputa pelo posto de professor da rede pública é tão grande que apenas 10% dos candidatos conseguem vaga nos cursos de formação.

Veja outros segredos que fazem destes países modelos de excelência educacional e que lições podem ser adaptadas para o Brasil.

Pais envolvidos na gestão da escola

O modelo de sucesso implantado pela Coreia do Sul combina um dos mais elevados investimentos governamentais do mundo – com 7,6% do PIB destinado à educação – com a determinação das famílias do país de garantir um aprendizado de alto nível para crianças e adolescentes. Para isso, os pais costumam se envolver na gestão dos colégios. Os educadores, que são bem pagos e trabalham em escolas com excelente infraestrutura, são auxiliados e monitorados pelos pais dos alunos, em um dos maiores diferenciais do modelo coreano. Lá, as famílias ajudam a organizar as escolas.

– Encontrei pais dentro da sala de aula, acompanhando o professor – surpreende-se José Paulo da Rosa.

Os pais podem fazer parte do chamado Conselho da Escola com um grau de autonomia que permite interferir na seleção e na promoção de professores, organizar eventos de reciclagem profissional e outras atividades cruciais para o funcionamento de uma instituição de ensino.

– Faz parte de um programa do governo que dá aos pais acesso direto ao processo educativo dos filhos – observa o professor Soleiman Dias, brasileiro que atua no país oriental.

Além disso, o foco, público e privado, é na Educação Básica. Assim, boa parte dos investimentos e dos melhores educadores estão no equivalente aos ensinos Fundamental e Médio, enquanto no Brasil a excelência se concentra no Superior.

As lições da Coreia do Sul

Tempo integral e atividades extraclasse

Uma explicação para o fato de os estudantes coreanos despontarem nos exames internacionais enquanto os brasileiros patinam nas últimas colocações é simples: os orientais simplesmente estudam mais. Em média, enquanto um aluno brasileiro passa cerca de quatro horas e meia na escola, no outro lado do mundo esse tempo chega a mais do que o dobro.

As crianças coreanas estudam perto de 10 horas, e algumas ainda complementam com atividades extraclasse. No nível equivalente ao Fundamental, mais de 80% das crianças contam com algum tipo de estudo complementar.

Família integrada até na sala de aula

Quase todas as escolas têm associações de pais atuantes, que se encontram regularmente e escolhem representantes para cada sala ou série. Esses "delegados" servem de ponte entre os demais pais e a administração da escola. Outros atuam como voluntários em serviços de apoio, como monitores de trânsito em frente à instituição, seguranças nos quarteirões ao redor do colégio, nas cafeterias, bibliotecas ou em passeios. Como estão constantemente nas escolas, acompanham de perto o que acontece na sala de aula, conhecem o currículo e os recursos - assim, podem cobrar dos filhos e das autoridades.

Professor valorizado na Educação Básica

Um dos fatores mais comuns para o sucesso de um sistema educacional, na Coreia do Sul os professores também são muito valorizados socialmente. Além de serem bem pagos - no topo da carreira, com a formação mínima exigida, recebem mais de US$ 80 mil, atrás apenas de Luxemburgo e da Suíça entre os países da OCDE - contam com grande reconhecimento da sociedade. É muito comum, inclusive, que alguns dos principais educadores do país trabalhem na Educação Básica, e não no Ensino Superior. Em países como o Brasil, os professores com melhor formação costumam estar nas universidades

Investimento em tecnologia de informação

Em 2005, o governo coreano começou a investir fortemente em tecnologia de informação e comunicação nas escolas, distribuindo equipamentos como laptops. Também lançou um programa pelo qual os alunos podem acessar o conteúdo pela internet, a partir de qualquer computador. Agora, há um projeto para digitalizar todo o conteúdo do currículo até 2015 - quando escolas de ensino Fundamental e Médio contarão com livros didáticos em versão informatizada.

Combate imediato às dificuldades

Em cada escola finlandesa, os professores estão permanentemente atentos ao aproveitamento dos alunos. Ao primeiro sinal de dificuldade em aprender qualquer conteúdo, soa um alerta que mobiliza toda a escola. O professor pede ajuda a um professor especial, dedicado a derrubar barreiras à aprendizagem. Além disso, todos os casos são discutidos por um “comitê de socorro” que pode incluir o diretor, psicólogo, outros professores e até pais.

Esse tipo de estratégia desperta tanta confiança no sucesso das escolas que o governo finlandês não impõe qualquer tipo de avaliação externa – para surpresa dos milhares de estrangeiros que costumam visitar a Finlândia em busca de receitas para seus próprios sistemas educacionais. Isso só é possível graças a outro fator: a extrema qualificação dos educadores.

Esse nível de autonomia, que permite ainda a cada professor ajustar o currículo básico nacional à sua realidade local, conta com uma força de trabalho habilitada com diploma de mestrado e selecionada entre a elite dos estudantes do país. E os finlandeses conseguem selecionar os melhores alunos mesmo sem pagar salários acima da média entre os países europeus – o que atrai os jovens é o respeito social, a autonomia e as boas condições de trabalho encontradas nos colégios.

As lições da Finlândia

Melhores alunos viram professores

Se apenas 2% dos jovens estudantes brasileiros dizem sonhar com a profissão de professores, conforme o estudo Atratividade da Carreira Docente no Brasil, na Finlândia a carreira do magistério atrai a elite dos estudantes. Como resultado da grande procura, apenas um em cada 10 candidatos consegue vaga nos cursos universitários que preparam os educadores para atuar nas escolas. A formação é outro diferencial do ensino finlandês – todos os professores precisam contar com o título de mestres em educação para conseguir trabalho.

Atendimento ao primeiro sinal de dificuldade

Cada escola conta com uma “tropa de elite” para garantir que nenhum estudante fique para trás em rendimento. Ao primeiro sinal de dificuldade, o professor pede a interferência de outro educador. Esse colega, pelo sistema chamado de “educação especial”, se dedica a atender as dificuldades específicas do aluno. Ao longo da vida escolar, não é raro qualquer estudante finlandês ser encaminhado para o professor especial – e isso não é encarado como fracasso. Diretor e professores se reúnem para discutir a situação de cada aluno.

Escolas com autonomia e boas condições

Na Finlândia, a profissão de professor tem status semelhante à medicina. Isso não quer dizer que o rendimento de um educador se equipare ao de um médico – enquanto o primeiro recebe, em média, US$ 2,7 mil mensais, o segundo ganha acima de US$ 6 mil. O que faz o magistério competir em igualdade com outras carreiras de ponta é o reconhecimento social, a autonomia e as boas condições de infraestrutura. O governo nacional estabelece definições gerais do currículo, mas cada professor pode adaptá-lo às características locais. Isso cria um ambiente de profissionais altamente motivados.

Foco dos recursos na sala de aula

O país consegue excelentes resultados mesmo sem grandes investimentos – o salário dos professores fica na média dos países europeus, assim como a verba da educação por aluno. O segredo está em aplicar a maior parte do dinheiro diretamente nas escolas e salas de aula. Isso é possível graças a um sistema enxuto – em que até os diretores costumam lecionar –, e poucas instâncias burocráticas. A estrutura administrativa inclui as autoridades federais da área e os governos municipais, que respondem pela maior parte das escolas.

Amanda Soila / Ministério de Relações Exteriores da Finlândia

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Foto:  Amanda Soila  /  Ministério de Relações Exteriores da Finlândia


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