Ensino Fundamental | 01/09/2012 07h05min
A estudante Isadora Faber, de Florianópolis, tem 13 anos e o respeito de mais de 195 mil curtidores. Pode não conhecer todos eles, mas “cutucou” cada um com sua coragem de questionar, publicamente, o que a indignava na escola. Desde 11 de julho, quando criou a comunidade Diário de Classe, no Facebook, Isadora expõe estruturas abaladas do colégio em que estuda. É o reflexo de um novo contexto em que espaços e momentos – antes restritos a um pequeno grupo – tornam-se transparentes e acessíveis a um clique. E quando a exposição comove, mobiliza centenas em poucos instantes.
– Hoje, temos a capacidade de ser protagonistas em narrativas que antes eram circunscritas a meios de difusão analógicos ou de comunicação interpessoal – analisa Daniel Bittencourt, coordenador do curso da Comunicação Digital da Unisinos (RS).
De acordo com o coordenador, o prestígio de Isadora pode não se encaixar na esfera de poder do conhecimento, onde se inserem os professores. Ele entende que a notoriedade nas redes sociais se dá pela reputação, pela empatia e pela capacidade de ser protagonista de uma história que sensibiliza outras pessoas.
– Ao mesmo tempo que é fascinante, gera perigo. Uma atitude mais rígida de um professor, mas pedagógica, no entanto, pode ser interpretada e divulgada como autoritarismo. Se todos têm possibilidade de denunciar, temos de educar para que esse recurso seja voltado somente para benefícios – adverte Bittencourt.
Daniel de Queiroz Lopes, doutor em Informática na Educação, vê a pluralidade de vozes como a grande característica desse novo cenário. O problema, segundo ele, é que a escola vive ainda um regime de funcionamento analógico e hierarquizado, enquanto os alunos vivem em outro ritmo: são autores e emitem opinião. Se na escola a autoridade não lhes pertence, na internet equilibram as forças.
Para a doutora em Educação Roséli Cabistani, vídeos, fotos e comentários que exponham não apenas problemas estruturais, mas também relações pessoais no meio digital, não aparecem como fontes de preocupação.
– A sala de aula é um espaço intermediário entre o público e o privado. A forma como as pessoas se dirigem umas às outras e a maneira como o ensino é realizado devem ter como base o respeito e a qualidade – acredita.
Para evitar qualquer exposição ou conflito desnecessário, ela sugere diálogo entre professores e alunos – que pode se dar em sala de aula ou mesmo com o uso de recursos digitais.
Como ficou o caso de Isadora
Após críticas no Facebook, Isadora Faber conseguiu que as obras da Escola Maria Tomázia Coelho, em Florianópolis, fossem retomadas. Já o professor de matemática, que teria dificuldade de conduzir os estudantes na disciplina, foi demitido. A demissão do docente foi considerada uma atitude precipitada por pedagogos e representantes dos servidores municipais de Florianópolis. Ainda não foi definido qual será o novo professor de matemática. Mas, segundo a assessoria de imprensa da pasta, o substituto estará à disposição do estabelecimento a partir de segunda.
A secretária de Educação de Florianópolis, Sidneya Gaspar de Oliveira, disse que no ano passado o docente tinha lecionado na rede e já havia reclamações, mas a avaliação pedagógica que a escola tinha feito era positiva. Dessa vez, o colégio entendeu que o profissional não atendia às necessidades dos estudantes.
No Facebook, Isadora ganhou uma curtidora especial no Diário de Classe. Trata-se da estudante Martha Payne, nove anos – que ficou conhecida por registrar em um blog o que era oferecido na cantina de sua escola em Argyll, na Escócia –, a inspiração da aluna catarinense.
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