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MEC  | 31/08/2012 06h10min

Entrevista com Andreas Schleicher, responsável pelo Pisa

Marcelo Gonzatto  |  marcelo.gonzatto@zerohora.com.br

No comando de um dos mais respeitados rankings educacionais do mundo, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o físico alemão Andreas Schleicher monitora de perto sistemas de ensino de todo o planeta. A cada três anos, o exame compara o nível de conhecimento de estudantes de mais de seis dezenas de países em matemática, ciências e leitura. Diretor de Educação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entidade que organiza o Pisa desde 1997, Schleicher atesta que o Brasil vem fazendo progressos na última década, mas em um nível ainda longe do ideal. Segundo revela na entrevista concedida por e-mail a ZH, o segredo para alcançar indicadores satisfatórios começa pela seleção e formação de bons professores.

Zero Hora — Quais as principais razões para o Brasil ter uma economia tão forte mas resultados educacionais tão pobres na comparação com outros países?
Andreas Schleicher — Uma razão para ser uma grande economia é simplesmente o fato de o Brasil ser um grande país. Mas o hiato entre a performance econômica e a educacional é ainda preocupante. Apesar de significativos progressos no desempenho do sistema escolar brasileiro ao longo da última década, o Brasil continua atrás em termos de qualidade da educação, conforme demonstrado pelos resultados do Pisa. Como outros países fartos em recursos naturais, por muito tempo ele extraiu sua riqueza da natureza e não das habilidades do seu povo. Em comparação, em países com poucos recursos naturais — exemplos são China, Finlândia, Cingapura ou Japão —, a educação tem fortes resultados e um status elevado em parte porque a população em geral entendeu que o país precisava viver de seu conhecimento, e que isso depende da qualidade da educação. Dar um grande valor à educação pode ser uma condição necessária para construir um sistema educacional e uma economia de classe mundial, e é possível que a maior parte dos países que não precisaram viver de sua sabedoria no passado não vão se realizar econômica e socialmente a menos que seus líderes políticos expliquem por que, embora não tenham precisado viver de sua inteligência no passado, precisam fazê-lo agora.

ZH — Qual o melhor caminho para qualificar um sistema educacional?
Schleicher — A qualidade de um sistema educacional jamais vai exceder a qualidade dos seus professores e líderes, então atrair as melhores pessoas para o magistério e conceder a elas um ambiente de trabalho em que possam crescer profissionalmente é a melhor aposta. No passado, quando você precisava de apenas uma pequena fatia de pessoas bem educadas, bastava aos governos investirem em uma elite reduzida para liderar o país. Mas o custo social e econômico do baixo desempenho educacional subiu substancialmente, e todos os jovens agora precisam concluir a escola com habilidades básicas sólidas. Hoje, quando você pode acessar conteúdo no Google, e o trabalho muda rapidamente, o foco está em transformar pessoas em aprendizes por toda a vida, em gerir formas complexas de pensar e formas complexas de trabalho que os computadores não possam assumir facilmente. Hoje o desafio é fazer do magistério uma atividade de profissionais de alto nível. Mas essas pessoas não vão trabalhar em escolas organizadas como ambientes tayloristas que usam modelos administrativos de monitoramento, comandos burocráticos e sistemas de controle para dirigir o trabalho deles.

ZH — É possível conseguir boa educação com baixos salários no magistério?
Schleicher — Salários adequados são importantes, mas eles são apenas um dos determinantes de uma força de ensino de alta qualidade. E não se esqueça de que o melhor sistema educacional do mundo — a Finlândia — não paga seus professores particularmente bem, mas garante um ambiente de trabalho atrativo e alto status profissional. O importante é dar apoio, avaliar e desenvolver a qualidade do professor, visar resultados, igualdade e responsabilidade e uma cultura de engajamento em vez de obediência, e alinhar objetivos pedagógicos com gestão de recursos. Isso é importante porque há muita demanda sobre os professores. Eles precisam dominar os assuntos que ensinam, necessitam de profunda compreensão de como a aprendizagem ocorre e do domínio de uma ampla gama de estratégias de ensino. Muitos dos países que pagam bem seus professores estão simplesmente priorizando o salário e o desenvolvimento profissional, mesmo que isso resulte em um número menor de professores e turmas com mais alunos. No balanço final, esses países acabam gastando menos recursos do que outros que comprometem suas verbas com uma relação que contempla mais professores e turmas menores.

ZH — Há algum país que o senhor veja como um exemplo de superação?
Schleicher — Na Europa, a Finlândia tinha um desempenho apenas mediano nos anos 70, mas agora lidera o mundo em termos de performance educacional. O Canadá fez avanços significativos, enquanto os Estados Unidos, não. Nos anos 60, a Coreia (do Sul) tinha o nível econômico do Afeganistão. Hoje, é muito forte econômica e educacionalmente. Acredito que o Brasil está no caminho também, o progresso demonstrado nos últimos anos no Pisa é muito encorajador.

ZERO HORA
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Andreas Schleicher, responsável pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa)
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