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 | 11/09/2001 19h17min

O dia em que a Terra parou

Ao chegar em Nova York 11 anos atrás, uma das primeiras frases que ouvi foi "nada surpreende os nova-iorquinos". Mas na manhã deste dia 11 de setembro, os olhos deste povo de muitas nações viu desabar um dos seus símbolos mais queridos. Nesta cidade, onde se fala todas as línguas, um silêncio aterrador tomou conta das ruas. As torres gêmeas, apelido carinhoso do World Trade Center, representavam não apenas a pujança econômica desta metrópole, mas um amigo gigantesco que você costumava enxergar dos quatro cantos da cidade. Os dois edifícios abrigavam desde grandes escritórios até a humilde senhora que vendia flores na saída principal. Todas as quartas-feiras à noite, no andar 107, o restaurante Windows of the World abria suas portas e muitos brasileiros como eu passaram boas horas ouvindo bossa-nova, samba e matando um pouco da eterna saudade. Amanhã à noite eu planejava estar lá. Para os nova-iorquinos, o World Trade Center era mais do que concreto, metal e vidro. O World Trade Center era o cartão de boas-vindas, o ponto de referência e o símbolo da força econômica de Nova York. Enquanto em outras partes do globo o ódio racial e religioso tem causado conflitos intermináveis, a cidade de Nova York representava a esperança que podemos viver juntos como seres humanos. Durante a história, nenhuma outra cidade conseguiu agregar tantos povos, religiões e culturas em uma convivência tão pacífica. Os nova-iorquinos de nascimento, ou adoção como eu, sempre tiveram orgulho de receber os visitantes e mostrar a beleza de seus arranha-céus. E nenhum era mais alto do que o World Trade Center. Nas minhas mãos tenho a última foto que tirei no topo do World Trade Center. Era inverno. Mesmo assim junto com a minha namorada Denise e sobrinha Letícia desafiamos os elementos para tirar uma foto com Manhattan ao fundo. Ventava muito, e tínhamos lágrimas nos olhos. Lágrimas que voltariam a lembrar aquele momento. Nesta dia que começou tão bonito, o coracão da Big Apple sofre duas fortes punhaladas. Às 9h, horário da costa leste americana, o primeiro avião perfurou a torre na qual tantos turistas brasileiros subiram para bater aquela fotografia inesquecível. Vinte minutos depois, quando dezenas de corajosos bombeiros subiam para resgatar as vítimas, o segundo avião bateu na torre norte explodindo em uma gigantesca bola de fogo. Colunas de fumaça rapidamente encheram as ruas da vizinhança e graças ao trabalho brioso da polícia cerca de 1,5 mil mi turistas, muitos deles brasileiros, foram retirados do Battery Park, no qual se pega o barco para visitar a Estátua da Liberdade. Talvez ela, que nasceu na França e veio morar em Nova York, tenha sido a derradeira vítima desta tragédia pois o atentado terrorista teve apenas um objetivo: espalhar o medo e ameaçar a liberdade daqueles que pensam diferente. O ataque terrorista não atingiu apenas os Estados Unidos, mas ao castigar o povo de Nova York e seus visitantes transformou-se em um crime contra a humanidade.

MARCO ALFARO/ ESPECIAL CLICRBS
 

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