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O X da Educação  | 10/12/2010 05h15min

Especialista ensina professores a usar a tecnologia como aliada na sala de aula

Sites e ferramentas na internet podem contribuir para o aprendizado dos alunos

Juliana Bublitz  |  juliana.bublitz@zerohora.com.br

Para ajudar os professores a transformar as tecnologias da informação em ferramentas no processo de aprendizagem, o editor Carlos Seabra, palestrante do Fronteiras Educação — Diálogo com Professores, dá dicas práticas que podem ser usadas na sala de aula. Entre elas, a "webgincana". Confira.

Imagine a cena: irritada com alunos que não param de teclar ao celular, a educadora respira fundo, larga o giz, leva as mãos à cintura e ordena que os adolescentes desliguem os aparelhos. Do fundo da sala, em meio ao burburinho, ouve um protesto.

— Por que a gente não pode tuitar na aula? — questiona o guri de boné e roupas largas, cheio de razão.

Para o editor Carlos Seabra, palestrante do Fronteiras Educação — Diálogos com Professores, os estudantes não só podem, como devem. Coordenador editorial do Núcleo de Educação da TV Cultura, Seabra esteve ontem em Porto Alegre, no Salão de Atos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Para ele, não há saída: se quiserem falar a língua da gurizada, os professores precisam explorar o potencial das novas tecnologias:

— Caso não façam isso, correm o risco de ficar parados no tempo.

Português de nascença, o editor de 55 anos convidou o público formado basicamente por professores para acompanhá-lo em um passeio pelo que chamou de "jardim zoológico da tecnologia". Para quem nunca (ou pouco) havia ouvido falar de Wikipédia e Facebook, ele fez as apresentações. E mais: deu dicas de como usar as ferramentas em aula.

Navegação

Como fazer os estudantes usarem a web sem apenas copiar dados? A dica é propor pesquisas e atividades nas quais os sites de busca não sejam o fim, mas o começo do trabalho.

Exemplo: Crie uma “webgincana”, pedindo que os alunos separem-se em grupos e pesquisem sobre um tema, com prazo determinado. A pesquisa poderá envolver textos, fotos, áudios e vídeos, que serão apresentados e debatidos com a turma. Como em uma gincana, as etapas do projeto terão pontuação para animar a garotada.

Principais sites de pesquisa:

Google (www.google.com.br): por meio dele, é possível buscar informações de quase todos os tipos e de várias épocas. Wikipédia (www.pt.wikipedia.org): é uma enciclopédia livre, feita com contribuições de internautas.

Celular

Embora algumas escolas proíbam o uso do celular, ele pode ser uma ferramenta muito útil na sala de aula. Mas como fazer os alunos usarem o equipamento de forma instrutiva?

Exemplo: Convide os estudantes a gravarem entrevistas em vídeo ou até um documentário com um telefone. O vídeo poderá ser sobre a escola ou sobre o bairro. Depois de pronto, poderá ser disponibilizado no YouTube (www.youtube.com), o maior acervo de vídeos da internet, e ser inserido em blogs e sites.

Os trabalhos podem ser individuais ou em grupo e variar de ficções a documentários.

Conversas na web

A comunicação via e-mail já está consagrada em muitas escolas, mas as conversas por mensagens instantâneas ou por chat ainda não são exploradas como poderiam.

O desafio do professor é trazer para o ambiente escolar essas novas ferramentas para que o aluno entenda a importância de escrever ao se comunicar com o mundo, mas como?

Exemplo: Peça aos alunos que, por meio de um desses programas, chat ou e-mail, conversem com estudantes de outras partes do Brasil. Que colham informações sobre a maneira como vivem e elaborem um trabalho individual ou coletivo sobre o assunto.

Ferramentas de comunicação:

MSN (www.windowslive.com.br) e Skype (www.skype.com). Os programas podem ser facilmente baixados na internet. Com eles, é possível conversar com uma ou mais pessoas ao mesmo tempo, fazer videoconferências e, em alguns casos, enviar arquivos, gravar vídeos e conversas.

Gmail (www.gmail.com), Hotmail (www.hotmail.com) e Yahoo! Mail (www.yahoo.com.br). Para criar uma conta em qualquer um deles, basta acessar as páginas e preencher os cadastros. Os e-mails são gratuitos.

Mapas digitais

Por que se restringir ao velho mapa pendurado na parede se hoje é possível usar programas como o Google Earth e mostrar regiões, países e cidades em detalhes?

Exemplo: Faça com que os alunos pesquisem sobre a vida do arquiteto Oscar Niemeyer nos sites de busca. Em seguida, peça que descubram e assinalem no mapa virtual onde estão suas obras no mundo. Ou, durante as aulas de história, mostre os contornos atuais do Império Romano.

Programas de mapas na internet:

Google Maps (http://maps.google.com) e Google Earth (www.google.com/earth), ambos com acesso gratuito.

Redes sociais

Pesquisas recentes revelam que as redes sociais vêm sendo mais usadas para comunicação entre jovens do que os e-mails.

A cada dia surgem novas opções, e o professor pode tirar proveito disso.

Exemplo: Peça para seus alunos entrarem no Twitter (www.twitter.com). Como o formato de postagem de mensagens não permite mais do que 140 caracteres, desafie a gurizada a demonstrar uma ideia, resumir uma informação, transmitir um conceito, escrever microcontos, de acordo com o objetivo da aula.

Fonte: Tecnologias na Escola, de Carlos Seabra – Fronteiras do Pensamento.

Perguntas para o especialista
A pedido de Zero Hora, cinco professores da Capital elaboraram perguntas para o palestrante Carlos Seabra. Confira as dúvidas apresentadas e as respostas do especialista:
De que forma usar as redes sociais como ferramenta para o ensino de língua inglesa?
“As redes sociais facilitam muito o ensino de qualquer idioma. São uma ferramenta fantástica, porque a pior coisa é você aprender uma língua só na base da gramática. Os professores podem usá-las estimulando os alunos a falarem com jovens de outros países a partir de tarefas específicas. Mas isso deve ser feito com um fio condutor. Os estudantes precisam ser orientados quanto ao assunto tratado.”
CALHANDRA PINTER, Inglês
Como eu poderia usar as redes sociais nas aulas de geografia?
“Você pode mesclar o uso das redes sociais com um software de mapas, como o Google Maps, e inventar uma viagem, criando um roteiro e assinalando os locais na tela. Uma ideia é refazer, por exemplo, os caminhos da Coluna Prestes ou passar pelos lugares onde grandes navegadores estiveram. Você vai conhecendo o mundo, até porque nos mapas virtuais há fotos. Você pode pedir que os alunos procurem músicas e comidas típicas dos locais visitados. O principal é soltar a imaginação.”
KENNY BASTOS, Geografia
O telefone celular poderia ser incorporado à sala de aula como mais uma ferramenta para a construção de conhecimento?
“Tem de ser. O celular é um pequeno computador, manda mensagem, é máquina fotográfica, gravador e agenda. É inconcebível que a escola não use o celular na educação, e que ele seja proibido. Por que não permitir, em uma prova, que os alunos usem o celular como quiserem, mas exigindo que respondam de modo criativo? O celular pode virar uma ferramenta interativa de pesquisa com recursos que estão fora da sala de aula.”
TANIA IWASZKO MARQUES, Psicologia
Se a maior parte das escolas não tem aparato tecnológico suficiente, quais são as alternativas para o professor?
“Os impedimentos secundários. Vamos lembrar de quando surgiu a TV. Só da classe média alta para cima havia acesso. Os educadores tiveram uma posição omissa, dizendo que poucas pessoas tinham os aparelhos. Ficaram para trás. Com os computadores, é a mesma coisa. Hoje, é difícil encontrar alguém que não tenha acesso a e-mail. É importante que se preparem para usar o computador, mesmo que não o tenham.”
WAGNER CÉSAR BERNARDES, Matemática
De que forma o uso das tecnologias pode substituir a figura do professor? Como fica o papel dele, tendo em vista esses novos recursos?
“Eu diria que o professor que pode ser substituído por um software ou por uma máquina deve ser substituído. O computador deve ser encarado como uma ferramenta. Quanto mais o educador entender o que se passa no cérebro de seus alunos e usar o computador como uma ferramenta, mais ele será insubstituível. O computador sem o professor não é nada.”
BRUNO ORTIZ, História

ZERO HORA
Clleber Passus, divulgação / 

Carlos Seabra falou ontem para plateia de professores na UFRGS
Foto:  Clleber Passus, divulgação  / 


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