O X da Educação | 18/06/2010 13h49min
O Brasil deve ser ambicioso em relação ao tempo de permanência de suas crianças e adolescentes em sala de aula. Para o professor Mozart Neves Ramos, presidente-executivo do movimento Todos Pela Educação, o país precisa começar de imediato um planejamento para ter a escola de tempo integral.
A meta é grandiosa, porque o Brasil está em desvantagem na comparação com outras nações. Reportagem publicada por Zero Hora em março passado mostrou que a média de horas-aula por dia no país é de apenas 4,4 – e os gaúchos aparecem em situação ainda pior, com 4,2 horas.
Ex-reitor da Universidade Federal de Pernambuco (1996-2003) e ex-secretário de Educação do Estado nordestino (2003-2006), Ramos hoje está à frente de um movimento de diversos setores da sociedade
que busca melhorar a qualidade do ensino nacional.
Ele falou por telefone a Zero Hora sobre o que significa reter os alunos por mais tempo dentro da escola:
Zero Hora – A carga horária nas escolas brasileiras é suficiente?
Mozart Neves Ramos – Os estudos que acompanhamos no Todos Pela Educação mostram que hora-aula é um fator fundamental para o aprendizado da criança. No Brasil, a carga horária é muito baixa. Um complicador é que, se a gente espremer essa média de quatro horas, uma parte delas sequer é dedicada à aula propriamente dita. Em Pernambuco, foi feito um projeto com o Banco Mundial que avaliou as escolas e mostrou que parte do tempo se perdia porque o professor demorava para chegar, havia períodos para chamada e para avisos, o recreio se estendia, alunos e professores falavam sobre coisas sem relação com a aula. No final, a gente ia ver e eram três horas de aula. É muito mais preocupante. Esse é um dos fatores que pode impedir o Brasil de dar um salto em educação.
ZH – Qual é a saída?
Ramos – Precisamos trabalhar pela escola de turno integral. O contraturno, quando utilizado, torna-se decisivo. Pernambuco tinha uma carga horária abaixo da média brasileira e implantou, seis anos atrás, o turno integral em um grupo de escolas. O aluno chega às 7h30min e sai às 16h30min. O resultado é impressionante. Faz uma diferença enorme. Hoje essas escolas, que já são cerca de 70, apresentam resultados no Enem muito acima da média nacional. O modelo foi implantado também no Ceará, no Maranhão e em Sergipe.
ZH – Não seria caro demais adotar a escola integral em todo o país?
Ramos – Tem de fazer um planejamento para isso. Hoje, se o ministro da Educação quisesse a escola de tempo integral, não conseguiria, porque não tem prédio e professor para isso. Mas o custo não é tão elevado. Um aluno custa em um ano no país R$ 2 mil. Na escola de turno integral, custaria
Mozart defende mais horas.
ZH – Aumentar a carga diária de aula em uma hora já faria diferença?
Ramos – Faria muita diferença. Pelos estudos que observamos, cada hora a mais amplia o aprendizado, mas não de forma linear, e sim de forma exponencial. O ganho no desempenho do aluno não é proporcional a apenas uma hora
a mais, mas muito maior. É o dois mais dois que dá cinco. É fácil de fazer isso. Mas não podemos ficar só no paliativo. Os países que estão no topo em educação são os que oferecem escola de tempo integral. Para acompanhá-los, o Brasil precisa investir mais. Argentina, Chile e México gastam o dobro do que nós com cada aluno. A Europa gasta seis vezes mais.
ZH – Mas é possível fazer isso no curto prazo?
Ramos – O Brasil precisa iniciar imediatamente o planejamento para a escola de tempo integral. Enquanto ela não for possível, podem se fazer também experiências de horário expandido. A jornada expandida é utilizada em escolas que não têm espaço para o tempo integral, porque as salas de aula são usadas por turmas diferentes em cada turno. Mas há tardes em que os laboratórios estão ociosos e nas quais os alunos da manhã podem ter aulas práticas. Esse é um caminho que as escolas estão seguindo, de aproveitar ao máximo seu potencial de aprendizagem. Cerca de 70 seguem esse modelo em Pernambuco. O resultado não é tão bom como o das escolas de tempo integral, mas também é bom.
Publicado originalmente em Zero Hora em 1º de março de 2010.
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